terça-feira, 22 de abril de 2014

Quisera

 
Quisera ser fogo a incendiar os instantes ardentes de duas almas a se somar... Quisera ser o suspirar do último vivente a padecer de amor... Quisera ser a ígnea flor vulcânica que alimentou a Fênix. Sendo nada disso... Quisera ser seu desejo mais oculto, não a chama que passou de um vulto... Quisera ser o primo raio de sol a roçar sua pele. Quisera ser o suor que rola a eriçar seus cabelos, a correr sobre seus pelos... Quiser ser um simples poeta a eternizar seu desajeitado jeito de ser sublime. Quisera ser o verso que traduz seu viver. Quisera ser o humilde sorriso que estremece seus sentimentos. Quisera desarrumar seus cabelos, te inspirar, como faz o vento. Quisera ser-te forte, arrebatador, tão marcante, como uma brisa na manhã. Quisera fazer-te meu eflúvio na longa jornada... Quisera ser uma flor na mais longínqua nuvem a te presentear... Quisera ser-te maresia. Quisera ser-te rio, riacho, ser-te mar. Quisera somente ser-te uma humilde companhia, ser-te felicidade ao alvorecer de cada dia. (marcio lima)

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/?q=raio+de+sol&image_type=&cat=&min_height=&min_width=&order=popular&pagi=4

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Conversa de um Poeta com seu Criador...


Boa noite meu amado Deus! Há certo tempo lanço mão da caneta para fender a folha branca com intuito de registrar meus versos na misteriosa linha do tempo, como é de seu conhecimento – como a tudo que acontece a cada um de seus filhos... Sei que não sou um títere deslizando a esmo em seus desígnios. Pois me concedeste o que todos possuem, como voto de confiança de co-responsáveis por toda criação neste pequeno planeta – o livre arbítrio... Mas, sei que não viras a face aos meus rogos, quando tropeço e sofro tendo pressa em me atender; assim como a cada um de seus filhos que a ti recorrem, nos momentos de desespero.
Minhas fraquezas me impedem de ser melhor, como a maioria de teus filhos. Todavia, amas incondicionalmente a cada um de nós de teu jeito, e, pacientemente espera o retorno aos teus braços cada um que se afasta de sua presença; sem forçar, sem cansar; como o pai que sofre às quedas de seus rebentos em seus primeiros passos. No entanto, sabe o valor de cada uma delas para caminhada de uma vida inteira. E essas fraquezas e distâncias me esvaziam até de mim mesmo, da sede de viver... E meus versos espelham a maioria delas, como ensinamento, como reflexão... ajudando-me, não raras as vezes, me reencontrar, e me reconhecer falível, como ser a melhorar... assim como respeitar a todos como iguais – passivos de erros, como eu – assim fica mais fácil de perdoar e, voltar a viver – pois sem o outro – não há eu, pois me reconheço como ser-parte-de- um-todo...
Como falava, escrevo humildemente meus versos e não tenho escrito quase nada a ti como agradecimento ao que produzo e publico...
Disseste através de Seu Filho – dos muitos exemplos que Ele nos deixou - que não devemos virar as costas aos que nos presenteiam com um ato de amor... coisa um pouco meio que esquecida nos nossos dias... Sei que escrever é um presente... é uma das coisas que reconheço como bem precioso (e possuo consciência de quanto tenho a melhorar), assim como a muito que fornece além do que preciso para viver.
Por isso, aproveito neste cantinho de um caderno pôr minhas letras, que são rabiscos de um filho grato, como testemunho desta gratidão... E rogo que abençoe a cada um que compartilho da leitura desse pequeno e singelo dízimo de meu tempo – o qual emprego à escrita. Amém.
Marcio Lima


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segunda-feira, 7 de abril de 2014

VIDA BANDIDA


Ah Bandida vida!
Que no melhor da peça apaga a luz.
Deixa frustrados os espectadores.
Aqueles que já a viram
Ficam com as dores de suas lembranças,
Aqueles que não a viram:
Esvaziam-se na expectativa...
Mas, o show deve continuar,
Pois a arte é a bela expressão.
O palco, também, é onde se percebe
Que o amanhã não se finda,
Que a cortina, as cenas a interromper
É apenas um momento que se passa,
E o que fica,
Talvez seja a certeza
De quem a obra dirige
Não liga para as vezes que a cena se repete.
Para quem a encena é a quase-certeza
Que a perfeição que a torna bela
É a aquarela que a impinge
A singela forma disforme
De quem a busca - mesmo que -
Inutilmente.

(01/03/2009).

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Que a ignorância nos poupe do sofrimento.


Que a ignorância nos poupe do sofrimento.
Nos mantenha na mais livre prisão,
Sob os solos saqueados - em estagnação...

Marcio J. de Lima

Imagem obtida em: http://www.ceuesperanca.com.br/wp-content/uploads/2013/09/cego-e-preso.jpg

Lírios, Lavanda e Jasmim*

Foi uma manhã como outra qualquer. Porém, o sol brilhou com uma luminosidade especial, parecia que as cores estavam mais bem definidas, eu enxergava melhor, quase podia sentir em mim aquelas cores vibrando, como em um sonho.
Vesti um shorts. um par de meias velhas e um tênis fácil de limpar, depois de perceber que parte do dia escorrera por entre meus dedos. Em poucos minutos alcanço a rodovia e, logo em seguida, a abertura na mata. O cheio de terra e folhas mortas era intenso. O barulho do vento na vegetação soava claro e melancólico. Os pneus se chocando contra a lama, contra as pedras, o aço da corrente batendo no alumínio do quadro... Pareço estar completamente integrado à paisagem - eu e minha bicicleta.
Borboletas, gafanhotos, aves e até um pequeno bando de quatis parecem parar no tempo para me ver descer a trilha em alta velocidade. Curvas, saltos, a velha ponte de madeira... Tudo fica para trás ap´pos correr diante de meus olhos. Não existe tempo ou espaço aqui. Como em um universo paralelo livre de leis físicas, me sinto livre.
Tão logo chegam os primeiros pingos de chuva as lembranças se esvaem. Os amigos, família, trabalho, estudos, até mesmo meu nome. Aos poucos tudo torna-se vazio. Somente a natureza existe; eu, não mais. A velocidade torna-se quase insuportável. Já não distinguo a paisagem. A bicicleta move-se sozinha, seguindo a rota costumeira.

Quando sinto a parada brusca percebo que não há mais bicicleta - estou completamente integrado à natureza. Inspiro profundamente, olho ao redor. Penso em erguer as mãos e olhá-las, mas não tenho mãos. Expiro. Nada além de mata, pedras, folhas, flores, pingos de chuva, ar, brisa, o canto do sabiá no alto de uma imbuia em flor.
O calor daquele dia de verão se extinguira. Também não havia frio. Só havia chuva. Inspiro. A percepção diminui, perco a consciência vagarosamente, fecho os olhos até que eu não exista para poder expirar.
Abro os olhos e vejo diante de mim um espelho, mas nada havia refletido nele senão água, peixes, plantas e pedras de rio. Realmente, eu estava dentro do rio. O som da pequena queda d'água se fez real para meus ouvidos ausentes e a pressão da água surge sobre minha pele. Aos poucos a consciência volta, tão lentamente quanto se foi.
Recordo quem sou, as bandas favoritas, os quadros que ficaram gravados na memória, os discos que fizeram parte de tantos momentos...
Percebo minhas mãos, braços, pernas. Tenho vontade de expirar. As bolhas de ar saem de meus pulmões e espalham-se, no espelho, chegando à superfície. As lembranças se colorem, o vermelho e o preto ganham destaque, abre-se um sorriso. O ar acaba, volto para a superfície e logo os pingos de chuva, o verde, o cheiro de terra, das folhas mortas e do musgo voltam a existir. Sinto a brisa tocar minha pele, inspiro novamente. Encho os pulmões e sinto a vida fluir, naquele momento, em tudo ao meu redor.
Já não estou dentro d'água. A pequena cachoeira não pode mais distorcer a imagem refletida pelo espelho, que também se faz vida. Os longos cabelos molhados pendem sobre a pele alva. Os olhos amendoados voltam-se para mim. A imagem do espelho ganha vida, forma e movimento. Aproxima-se lenta, o sorriso ainda mais iluminado. Claramente traz consigo o perfume de flores do campo. Antes que eu pudesse tomar qualquer atitude ergue os braços e estende-os à minha volta. Não vejo o movimento dos lábios, mas a voz doce e melódica ecoa em minha mente, me chamando para partir. Vejo-me agora envolto por aquela criatura, tão eu, tão única, saída da natureza num quadro surreal, inimaginável, sinto meu corpo leve, suspenso no ar, enquanto nos movíamos para longe dali. As lembranças, os gostos, os gestos, tudo se recria exatamente como sempre foi, como num sonho, como em outro universo, como numa outra vida.


*Escrito ao som da chuva, um violino distante e Coil, da banda Opeth.


Palavra...


Flutuavas de um lugar qualquer de um átimo desconhecido, procurando forma inteligível para nós... 
Tua alma tão dispersa organizou-se em nossas vidas, traduzindo-se em significado, mas sem esquecer o quão grande ainda é sua essência, por isso multifacetada...

Marcio J. de Lima

Imagem obtida em: http://www.minhaumbanda.com.br/blog/?p=6738

Este momento 1...

Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é mei...