domingo, 24 de maio de 2020

A folha pede um verso

A folha pede um verso. Daqueles dispersos num oceano de uma folha. Daqueles que fazem elétrons saltar de suas camadas e espalhar o colorido por aí. A vida pede um verso, daqueles que aplacam a solidão das grandes metrópoles, daqueles que esgotam o mar de saudade do caipira no sertão. A vida pede um verso a inspirar a tantos Quixotes, a tantos mágicos em seus caixotes de ilusões, a tantos Camões caolhos de verdades tão belas. Versos para encantar tantas cinderelas. A vida pede um verso pomposo, gostoso, daqueles que quando fluem encantam, provocam a lágrima ligeira. A vida, neste momento de distâncias não desejadas, pede um singelo soneto, uma chave de ouro, um tão esperado, aguardado, procurado, tesouro... A folha sozinha, branca, num universo de possibilidades a verter-se em lágrimas tão suas, pede que pingue por acaso uns versos ligeiros, espontâneos, daqueles que explodem em ternura, daquelas forças a abrir olhos por ferrugem, fechados... A folha branca a ouvir um Rock inspirador, daqueles que o poeta descreve o flerte de um guitarrista, com sua Gibson, em transe. Imagina como deve ser simples tudo aquilo que encanta, tudo aquilo por que levantamos, como o simples fato do cair de uma chuva desejada, um abraço verdadeiro, um beijo espontâneo, um respirar na janela... A folha pede um verso. Espera ansiosa pela tinta que a marcará, que espera etérea, indelével, inesquecível, apaixonante, que enche a rua de alegria, os salões de euforia, a lua a esperar seu sol num brilhante e inspirador, dia... Versos que rolam como a bola no campo, que batem como o coração no peito, que se fundem num abraço, que se nutrem de esperança como a mãe que espera um filho amado, que nos renovam como a fé no Sagrado, no homem que se vê terra e se faz assim húmus, como o é... Versos na folha branca, singela união, singelo verso-coração...

 Marcio Lima


Imagem: Freepik


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