Naquele dia... O sol bateu preguiçoso em sua janela. Talvez não seja necessário descrever a janela... mas cabe dizer que ela sua primeira amiga a dar a ele a visão de seu dia. Abri-a, respirava fundo, sentia o gosto do dia a se apresentar, cumprimentava os vizinhos - sempre sorridente.
Mas, neste dia... olhou às suas mãos, curiosamente elas eram amarelas. Fitou-as, um sopro no corpo, um choque nos nervos. Desta vez, não saiu à janela, e sim, correu ao espelho. Assustadoramente não era só a mão. Era todo seu corpo. Logo pensou... pode ser amarelão, hepatite, uma crise de fígado...
Saiu na sala onde os pais assistiam ao jornal da manhã. A mãe logo o observou. Estava parado no meio da sala. Nada disse. Esperava que a mãe ou o pai se manifestassem sobre a situação. A mãe como todos os outros dias, o abençoou. O pai também o abençoou, mas sem virar os olhos em sua direção. Incomodado com a situação, perguntou à mãe " mãe, a senhora não observou nada de diferente?" A mãe ficou a olha-lo. Quieta, fez um escaner dos pés à cabeça. Balançando a cabeça fez sinal que não...
"Mãe, minha cor?" A mãe franziu a testa, reforçou que nada havia de diferente.
Em um segundo, tudo pareceu mudar. Talvez tinha sido uma má impressão. Um mal estar, poderia ainda estar dormindo. Deve ser sim, só uma má impressão. No entanto, interrogou ao pai. "Pai, o senhor também não vê nada de diferente em mim?" O pai olhando por cima de seus óculos, responde. "Hum..." levou mais alguns segundos... "tem!" Aquilo soou como algo sábio. Sim, era o que queria ouvir, não estava louco, e seu pai parecia ter mais sensibilidade - pelo menos naquele momento - que sua mãe... Lembrou de quando era criança que sua mãe o conhecia profundamente, sabia quando estava doente, triste, cansado, feliz... "Então?" Olhava ao pai reticente... aguardando resposta. "O que é pai?" Respondeu o pai pigarreando... "seu cabelo... você o cortou, não está mais nas costas". A mãe não aguentou e riu escarniamente... "Já faz mais de um mês que ele cortou, homem..." Com a resposta tudo voltou ao ponto inicial. Vestido de pijama, apontou à rua e saiu. Saiu correndo de casa, parou em frente à igreja. Benzeu-se, mas não teve coragem de entrar. Seguiu até a farmácia... Sentia-se com frio. Achou ser febre. O farmacêutico o atendeu. Sem nada falar sobre sua situação. Pediu que ele aferisse sua temperatura. Sentado na cadeira do farmacêutico, um senhorzinho grisalho com um grosso bigode, de voz grossa e cheiro de nada... "tudo bem, meu filho, temperatura normal..." ... "Estou bem?" "Sim, aparentemente, sim!"... "Mas..." parou o farmacêutico sua observação...
"Opa... alguém agora viu algo de errado... o que era? Notou minha situação..." pensou... O que seria? O que tinha visto de estranho?
Continuou o homem... "Você está se sentindo bem?"
"Como assim?" Indagou nosso áureo herói.
O farmacêutico olhou-o dos pés à cabeça. Balançou a cabeça ao lado... e falou "Você sempre sai assim?" Sorriu meio que de lado, malandramente.
Percebeu-se de pijama. E continuou..."Só isso?"
"Sim..." Balançou a cabeça bem devagar. Mas agora com um ar mais sério.
Levantou-se da cadeira, foi saindo, de costas. Nem ao menos agradeceu... Voltou para casa. Decidiu ignorar o que estava ocorrendo, julgou loucura tal situação. Tentou viver aquele dia como se nada houvesse ocorrido. Incomodou todos os amigos com a discreta pergunta sobre sua aparência... Todos não viam nada de diferente...
Ao fim do dia. De joelhos em frente à cama, pedia a Deus para mudar aquela situação... Deitou-se, logo pegou no sono. Noite tranquila, dormiu bem.
No dia seguinte, mira a janela, sua companheira matinal, ignora ao espelho. Levanta-se, esboça um adeus a senhora do 247 ao observar sua mão, não acredita no que vê... melhor, não acredita no que não vê...
Marcio José de Lima
Guarapuava, 14/04/2017
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Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/janelas-persianas-fachada-estilo-1209336/
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