Achou estranho. Olhava para face de seu interlocutor, achava
algo de.. de.. talvez inexplicável, mas resolveu não questionar.Tinha quase
certeza que eram suas mãos grandes. Mãos que seguravam quatorze livros de uma
vez, entre eles uma edição do vade mecum de 1997. Não, não era isso, pois olhando
bem, começava a achar, esse dom, normal. Talvez então fossem suas grandes orelhas
que acabaram de tocar o chão. E que logo após atenderiam pacientemente uma fila
de dez pessoas na sequência... Conselhos meu caro, conselhos, eis o que me
espera logo após conversarmos. Sorria de lado, e ficava a me escutar. Minha boca
parecia uma bomba de água a esgotar um mar sem fim... Não, não era isso que
parecia ser estranho. Há orelhas onde há o dom da paciência. Pensei. Ao se
levantar para nos despedirmos, notei que em seu pulso havia um relógio. Quem
usaria relógio hoje em dia? Com o advento do celular, dos computadores, das
modernas técnicas de ver a hora pelo sol, da pergunta ao transeunte que possuía
o poder de informar o tempo, da não necessidade de saber que horas são dos
felizes que o visitavam... Quem usaria tal adereço? Realmente. Isso era muito
estranho.
Marcio Lima
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