terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Estranho


Achou estranho. Olhava para face de seu interlocutor, achava algo de.. de.. talvez inexplicável, mas resolveu não questionar.Tinha quase certeza que eram suas mãos grandes. Mãos que seguravam quatorze livros de uma vez, entre eles uma edição do vade mecum de 1997. Não, não era isso, pois olhando bem, começava a achar, esse dom, normal. Talvez então fossem suas grandes orelhas que acabaram de tocar o chão. E que logo após atenderiam pacientemente uma fila de dez pessoas na sequência... Conselhos meu caro, conselhos, eis o que me espera logo após conversarmos. Sorria de lado, e ficava a me escutar. Minha boca parecia uma bomba de água a esgotar um mar sem fim... Não, não era isso que parecia ser estranho. Há orelhas onde há o dom da paciência. Pensei. Ao se levantar para nos despedirmos, notei que em seu pulso havia um relógio. Quem usaria relógio hoje em dia? Com o advento do celular, dos computadores, das modernas técnicas de ver a hora pelo sol, da pergunta ao transeunte que possuía o poder de informar o tempo, da não necessidade de saber que horas são dos felizes que o visitavam... Quem usaria tal adereço? Realmente. Isso era muito estranho. 

Marcio Lima

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