As mãos calejadas como uma couraça... A pele escura pelo escaldejante dia... A chuva à tardinha. O carrinho carregado até o dobro de seu tamanho. Sentia-se rico. Um trago a afogar alguma mágoa do dia. Os papelões estavam um pouco melhor de preço, as latinhas de alumínio ainda no mesmo... Mas o pão tinha ido às alturas... Não sabiam o quanto a vila lhe devia, mas o mosquito ali não chegava mais, as aranhas e escorpiões acharam um inimigo natural a caminho do equilíbrio... A terra lhe era grata, as árvores lhe eram gratas, o rio lhe era grato... Aqueles pequenos pares de olhos lhe eram gratos, um abraço quente. Era-lhe um herói... Do bolso como mágica cai-lhe a mão um carrinho, era mais um reciclado, mas com o recheio do amor e o abraço quente de um filho retribuía-lhe o amor transfigurado em uma dedicação que poucos conheciam...
O menino piscava, o pai andava até o fundo do quintal para deixar a gaiota, imitava seu pai com sua gaiotinha com Lili, sua cachorrinha em cima... Era um dia difícil, mas não havia festa maior que esta... Ela lhe dava força... A vida seguia... Seu repetir para ele era poesia... As rodas eram rimas, haviam motivos para olhar para baixo, mas preferia com muito orgulho olhar para cima..
Marcio Lima
Guarapuava, 28 fev. 2022.
Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/images/search/reciclagem/
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