Bolinho de chuva

 

eu te conto...
insípida, incolor e inodora...
cai às vezes miúda,
outras vezes, graúda...
Empurra árvores e cachorros
Vira o guarda-chuva do desavisado.
Mãe grita "Vem pra dentro menino!"
O qual corre sob ela sem camisa,
pés descalços, boca, cabelos compridos e escorridos, boca aberta e feliz...
Que alegria traz a chuva,
traz consigo vida, mudança
e poesia...
Que seja branda, na medida certa...
Chuva...
Melhor ainda quando vem acompanhada daquele
cafezinho e daquele bolinho que a ela
festeja, bolinho de chuva!!!!

(Marcio Lima) 

Imagem: Freepik

Milagre.

 

Deitou os joelhos sobre a almofada. Queria um milagre. Como soube que havia um algo a ceder, para que ele pudesse acontecer, olhou aos céus e ao Pai ensejou agradar, prometeu que leria a Ele as mais lindas poesias. E, antes que a chuva à terra chegasse e a mais linda flor do deserto se abrisse, começou a declamar as primeiras escritas, as mais profundas de Clarice... E assim, o milagre se fez...
(Marcio Lima)

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/arco-%C3%ADris-nuvem-sol-de-noite-chuva-4047523/

Incômoda ideia

 
 

Uma ideia me incomoda
Tal casca de ferida inflamada
Ou magia bem feita de fada
Tal calo incrustado no pé
Ou o mar do velho, num nada
 

Uma ideia me incomoda 

Tal crente descrente na fé
Ou de absurdos vistos aqui
De andar nos desertos a pé
Ou outrora nas reflexões de Camus...
Ou mais longe, em Virgílio, até...
Tal qual um importuno Dejavu...
Ou nos infernos de Dante,
Que afirma convicto, já vi!

Alguma ideia me incomoda,
Te incomoda? Nos incomoda...
Destarte, doravante virou moda...
E na branca folha imprimi.
[Marcio Lima]

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/ai-gerado-fim-do-mundo-apocalipse-8579411/  

Ouça o poema em forma de música produzido pela Gerasom: 

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Mina inspiradora

 

Poderia ter a dor do esquecimento pulsando aqui

Em minhas densas veias...

Não... Não me esqueço, me aqueço...

Aqueço-me nos braços de aventuras tão minhas,

Na companhia de Camões, Hércules, Ulisses, Caminha...

Sou um verso pulsante, dor que dói nas praças,

Nos dias de graça, dos eventos que se sucedem

Que trazem água, ar, luz, verde, quase de graça...

Em minha garganta flameja cantos tão novos,

Em cantos tão esquecidos de cantos recônditos...

Queria ter além de minha ignorância que a cada dia se faz vasta,

Das memórias que deveriam aqui me trazer lucidez, mas

De meus dias, fazendo-se sombras, se afastam...

Perdi caminhos outrora tão meus,

Tudo isso por meio dúzia de versos que o fiz tão seus...

Haveria um Deus a me dizer a que lado seguir?

A que caminhos tão novos, em um mundo flamejante, deveria ir?

Não quero me fazer triste, embora tantos em meu rosto,

Apontam-me um oposto com dedos em riste,

Isso, tão certo como nossos impostos...

Mas teimar é minha sina, luz que me ilumina,

Em tempos tão modernos, minha inspiradora mina...

(Marcio Lima)

 

Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/illustrations/ai-gerado-mel%C3%B3dico-harmonia-8774270/