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quinta-feira, 10 de janeiro de 2019
Perdão... O galo cantou
Os foguetes se estouram, os cães se escondem. A família, logo após diversos conflitos, engolem os choros, continuam rindo, contam piadas, corrigem as crianças que fazem aquele fervo na casa dos avôs, a filha mais nova que chora a ausência do namorado; quase todos neste momento se reúnem na copa.
Um olha para o outro, é hora dos abraços, poucos minutos antecedem o ano novo que se anuncia.
Já não dá tempo mais para nada nesse ano que se finda. Pensou a mais velha, que observava a mais nova vestida singularmente de preto, resta um pequeno tempo em que posso insistir em abraçá-la e esquecermos o passado; pois fazia anos que estavam de mal... Era oportunidade única, a mãe em uma estratégia conseguiu unir as duas dentro de sua casa.
As duas se olhavam, a mais velha dá um passo à frente, a mais nova fica inerte, mas não corre... As bocas das duas tremem, os olhos se enchem de lágrimas, a mãe observa tudo com um pequeno flash de tudo que vivera até ali no que dizia em relação as duas - dormiam juntas quando pequenas, não se separavam, eram confidentes, repartiam tudo, foram felizes juntas, lutaram juntas nas dificuldades da família...
Lá vai o segundo passo da mais velha, faltam dois minutos para o fim do ano... Os braços das duas se preparavam para o abraço, as bocas para o perdão, a felicidade da mãe se avultava. Um ano terminaria com mais uma vitória em nome da paz e do amor familiar... O irmão mais velho grita " é ano novo gente! Que cara de desânimo! Vamos nos alegrar!"
As duas olham para ele com um riso discreto. O pai entra dançando de fora com cara de pirraça, após ter soltado meia dúzia de foguetes, o herói da criançada... Todos o olham. "O vô é engraçado", falou a neta mais velha olhando para sua mãe. Todos riem. Os passos das duas se encerram aí. Cada uma fica inerte em seu canto. O pedido de perdão de ambas não veio. O relógio virou meia noite. O céu se encheu de luz, abraços generosos, mesa farta, esqueceram por alguns minutos todas as dificuldades e tristezas. A mãe sentiu a dor da falta de perdão de ambas as filhas, mas já comemorou os passos dados até ali. Pensou consigo mesma... O ano só está começando. Só está começando. E o galo cantou três vezes...
Márcio Lima, Guarapuava, PR.
26/12/2018
Do blog devaneios literários do lima
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