quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Música “Um índio” de Caetano Veloso, algumas impressões. (Song “Um Índio” by Caetano Veloso, some impressions).


(Marcio J. de Lima)
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            No poema/música em questão, Caetano Veloso trabalha com a temática indígena, reatualizando alguns de seus aspectos histórico-mitológicos. A temática, do indígena tratado como herói; símbolo de uma nação que por muito tempo esteve subjugada a um domínio de colonização; esteve presente durante o Arcadismo brasileiro, retomado pelos escritores românticos e reafirmada pelos modernistas. Ao reatualizar esse tema, Caetano provê, poeticamente falando, este herói de alguns recursos tecnológicos, mas que supera os advindos das descobertas da ciência moderna, dando-lhe características fantásticas, típicas dos heróis mitológicos.
            Também ainda, nesse poema, Veloso situa a qual nação indígena refere-se a aparição desse ser heróico-mitológico, os do coração do hemisfério sul, na América (do Sul) em um ponto equidistante entre os oceanos Atlântico o Pacífico. A referência temporal não é em qualquer momento, é em um claro instante, logo após exterminada a última nação indígena. Podendo-se assim inferir que seria em um momento de luz, esclarecedor. No entanto, poderia ser relativo ao do extermínio físico dos indígenas ou pela miscigenação dos mesmos e do desaparecimento de suas características culturais. Enfatizando para o fato do possível extermínio desses povos, bem como de sua cultura. E, a luta desigual para permanência dessas nações coabitando com a dita “civilização”.
Há ainda, uma intertextualidade às escrituras bíblicas, em que há a relação ao messias que voltará no fim dos tempos. Esse voltar, relativo ao índio, poderia ter talvez a relação com o próprio Cristo, o qual àquele adquire sua semelhança, que se compadece com os mais fracos, com os explorados, com os dizimados pela exploração ou expropriação de suas terras e ou riquezas. Essa ideia é reforçada na parte em que Caetano Veloso diz “virá que eu vi”. Veloso, pelo seu eu-lírico, assume um papel do profeta, que vê algo grandioso acontecer antes do seu tempo. Isso tudo, pode ser reforçado pelas predições do personagem Peri, herói do livro Iracema de José de Alencar, citado na música, quando afirma: “ — Tu viverás!... Cecília abriu os olhos, e vendo seu amigo junto dela, ouvindo ainda suas palavras, sentiu o enlevo que deve ser o gozo da vida eterna.” (Alencar, 1857)
            Retomando a temática, o índio como herói. Isso aconteceu muito quando de nossa história, nos momentos relativos à busca pela identidade do povo brasileiro, em que a “criação” literária desse herói representasse esse povo e sua força identitária. Isso é retomado no poema de Caetano, quando citou Peri, o qual possui habilidades sobre-humanas da força, proximidade com Deus (Cristão), lealdade ao seu amor Ceci (amada Europeia, filha de D. Antônio Mariz) e o poder de conversar e interagir com  natureza, reatualizando por esses aspectos o mito do herói nacional brasileiro.
            Caetano Veloso ressalta quais são as características desse herói de nossos dias, de fim de século XX sendo: impávido, tranquilo, apaixonado por seus ideais e que buscará a paz.

            Assim, Caetano conclui em seu poema que este herói esteve sempre presente, nunca desapareceu e sua presença é óbvia, podendo-se concluir que o mesmo vive em nós através da miscigenação, da aculturação com outros povos ou nações, entre eles o negro, quando cita os termos “afoxé, axé” palavras de origem africana. Essa mistura racial, tornou o povo brasileiro apaixonado pela natureza e suas belezas, tanto cantadas por nossos poetas, bem como de seu “poder” de superar todas as forças que poderiam dissuadir um pensamento nacional, no qual o indígena sempre, para nós brasileiros, será uma forte referência de nossa  nacionalidade.

Imagem obtida em: https://pixabay.com/photos/night-photograph-flashlight-ray-2183637/

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