sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Estranhas repetições



Soou o sino da matriz. Eram 18h. O sol ardia no verão de uma cidade do centro-oeste do Paraná. Era final de ano, a canseira da caminhada do ano inteiro lhe pesava as costas. Estava na espera de sua esposa na sala de um consultório. A esposa estava mais cansada ainda, pois aquele ano foi muito pesado para ela, segundo ela mesma. O tempo passou, o marido começou a digitar no celular. A atendente ligou a tevê do consultório, alegando que não ligou antes, pois o sol batia na tevê aquela hora e não dava para ver nada, pois o prédio era de vidro e não possuía cortina. Às primeiras palavras da tevê começaram a coincidir com o que escrevia. No início de umas cinquenta palavras, uma se repetiu. A cada tempinho, outras palavras começaram a coincidir, texto digitado e tevê repetindo, ou outras vezes quase coincidindo... Deu um tempo, achou aquilo muito estranho. Começou a digitar de novo, outras palavras começaram a coincidir. O tempo passou, suas mãos começaram a suar... Pensou em parar de digitar, mas queria ter certeza de que não era coincidência. Mais palavras se repetiram. Olhou na tevê e sua história estava lá, o que havia escrito até ali estava sendo representado na tevê. O que escrevia era um conto, mas na tevê era um filme, e o final estava em suas mãos... Pensou, não vou cair neste jogo. Sentiu um medo terrível a esfriar o seu estômago. Suou mais ainda. A atendente se incomodou, pois via que ele estava vertendo água pela sua face... Faltava-lhe ar... O coração palpitou. Um branco se estendeu sobre sua frente. Os sentidos lhe sumiram. Não sabia o que pensar e já não articulava seus gestos e pensamentos. Desmaiou. Quando voltou, a primeira coisa que perguntou à atendente que estava com um copo de água nas mãos, ignorando sua esposa e o médico que lhe media a pressão... "Como terminou o filme?".

(Marcio Lima)

Do blog devaneios literários do lima


Imagem obtida em: Borboleta Inseto Ondas - Imagens grátis no Pixabay 



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