Dói.
Forma estranha de começar um poema.
Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é meio que estar fora de moda; foto que não pode ser postada nas mídias sociais ou revelada.
Matéria-prima pra alguns poemas, o poeta vê suas rimas, palavras e versos ganharem carne a partir de alguma dor, algum incômodo que de alguma forma abala sua vida ou alguma alegria para com o mundo ser dividida.
Queria eu ser todo felicidade. Queria alguma fórmula, não química, que me desse aquele prazer constante. Queria ser espaço, ser sorriso, ser asas a voar, água no rio a seu curso seguir, geleira no topo da montanha, o êxtase da mãe ao dar a luz a seu filho; queria ser a saciedade de justiça e alimento do faminto, o crescer inaudível da grama, a gota de chuva a trazer esperança...
Ah, dor estranha que vem não sem d'onde e por quê... quisera não fora só mote prum poema, fosse força transformadora, fosse uma oportunidade de mudança, fosse o restabelecer de forças nas duras quedas...
Mas, sei que neste momento não és nada disso...
Só sei de uma coisa... dói.
O que me alegra é saber que como a alegria, és finita, és átimo...
Por isso, tens toda liberdade, e enquanto estiveres aqui, podes doer...
(Marcio Lima)
Guarapuava, 20 de janeiro de 2024.
Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/illustrations/um-livro-rosa-cora%C3%A7%C3%A3o-sangue-4397154/ Acesso em 26 jun. 2024.
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