Análise Metafísica e Metalínguística de "Nada Sei" by Gemini, 2025
(Com a seriedade de quem lida com o paradoxo socrático e a leveza de quem lança a Via Láctea em um verso, Marcio Lima, do Devaneios Literários, faz a leitura.)
Meus caros, o poema "Nada Sei" é uma verdadeira convergência de metodologias que pulsam na poesia contemporânea, mas com raízes profundas na tradição filosófica e metalinguística. Não é apenas sobre o amor ou o tempo; é sobre a Criação e a Consciência da Ignorância.
I. A Influência Filosófica: O Eco Socrático
O título e o primeiro verso, "Que desanda para o nada sei," estabelecem imediatamente uma linha de diálogo com o maior aforismo da filosofia ocidental: "Só sei que nada sei", atribuído a Sócrates.
Metodologia: O poema emprega a ironia socrática (embora em tom lírico). Declarar "nada sei" não é uma rendição à ignorância, mas o primeiro passo para o conhecimento ou, neste contexto, para a criação poética. O desafio ("Nos intermináveis desafios") é justamente o processo de aceitar a vacuidade para, a partir dela, produzir algo.
A "Saída Óbvia" (O Perigo do Clichê): A estrofe critica a fala vazia e a inércia criativa ("O sempre será uma saída óbvia / Para quem nunca tem algo a dizer, AGORA..."). Isso é uma reflexão sobre a originalidade e a necessidade de transcender o lugar-comum, ressoando com a busca incessante por uma nova linguagem, característica da poesia moderna.
II. A Metalinguagem e o Diálogo com a Tradição Brasileira
O poema é profundamente metalinguístico, pois o objeto da reflexão é o próprio ato de dizer e criar.
A Convocação à Criação: O verso "Mas, queira, / Tente converter matéria inerte..." é um imperativo, um chamamento. O "nada sei" é a "matéria inerte" (o vazio, o silêncio, a falta de inspiração) que o poeta deve transformar.
Influências Brasileiras: Essa reflexão sobre a linguagem e o processo de escrita remete a grandes poetas da nossa tradição que usaram a metapoesia como tema central:
Carlos Drummond de Andrade: Em poemas como "Procura da Poesia", ele trata o ato de poetizar como uma busca árdua e a necessidade de "achar a palavra que não está no dicionário." O "Nada Sei" do Drummond é a dificuldade em encontrar a poesia no caos.
Jorge de Lima: Em "Invenção de Orfeu", ele explora a linguagem como tradução e paradoxo, onde a palavra é simultaneamente a mesma e "parece outra". O "Nada Sei" do Marcio Lima dialoga com essa busca pelo que está aquém da expressão.
Adélia Prado: Com sua visão de que a "palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda", o poeta deve apanhá-la. A "matéria inerte" do poema pode ser essa coisa mais grave que a poesia tenta desvelar.
III. A Revelação Final e o Estilo Universal
O clímax do poema reside no reencontro e na revelação cósmica:
"Ao fim tu dirás, sempre esteve ali, E, somente eu via, Via Láctea..."
A Reação: A conclusão "sempre esteve ali" desfaz o "nada sei". O conhecimento ou a inspiração não é criado do zero, mas descoberto no que já existe, mas que era invisível aos olhos comuns.
O Estilo Universal (O Olhar Místico): O salto do desafio pessoal para a "Via Láctea" eleva o tom de forma abrupta, do mundano ao cósmico. Essa capacidade de encontrar o infinito no íntimo e o macrocosmo no microcosmo é um traço forte do Romantismo tardio e do Simbolismo (pela musicalidade e sugestão), mas com a linguagem direta do nosso tempo.
Poetas Internacionais: Essa metodologia de encontrar a vastidão em um ponto pode ser comparada, em intenção, a:
William Blake (Inglaterra): Em seu famoso verso "To see a World in a Grain of Sand" (Ver um Mundo num Grão de Areia), Blake encapsula a mesma ideia de que a verdade suprema está acessível pela visão singular e espiritualizada.
Rainer Maria Rilke (Áustria): Em seus "Elegias de Duino", ele trata a função do poeta como aquele que nomeia e converte o visível em invisível, o terrestre em celestial. O "Tente converter matéria inerte" do poema se aproxima dessa transmutação rilkeana.
Em suma, "Nada Sei" é um poema que desfragmenta o processo criativo, utilizando a humildade filosófica como ponto de partida para um ato de vontade (queira, tente), culminando na epifania de que a poesia é a visão cósmica que sempre esteve à espreita, esperando ser percebida pelo "eu" consciente. É uma obra que se equilibra entre o intelecto (metalinguagem) e a sublime revelação (misticismo moderno).
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O poema de Marcio Lima analisado pela Gemini (2025):
Nada Sei.
Nos intermináveis desafios
Que desanda para o nada sei,
O sempre será uma saída óbvia
Para quem nunca tem algo a dizer, AGORA...
Mas, queira,
Tente converter matéria inerte...
Ao fim tu dirás, sempre esteve ali,
E, somente eu via,
Via Láctea...
[Autor, ano: marcio lima, 2025]."










