sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Apresentação do Poema "Fragmentei" de Marcio Lima


A Fragmentação da Experiência e o Sentido da Criação

(imagem gerada pela Gemini com base no poema)
O poeta Marcio Lima nos apresenta, com este breve e denso "Fragmentei", uma meditação que transcende o mero relato de um processo de escrita. O que se desenrola ante o leitor não é apenas o labor poético, mas a própria estrutura da colaboração humana, do trabalho social e da gênese da forma em nosso tempo.

Desde os versos iniciais — "Cada um montou uma peça, / Um ficou com os versos, outros a juntar em estrofes, / Alguns escolhiam as rimas, outros suas riquezas" — o autor postula a ideia da criação como um ato fundamentalmente disperso, segmentado. É o que poderíamos chamar de uma crítica velada à especialização, não aquela de ordem técnica, mas a que desagrega o sentido unitário da experiência.

O poema se constrói, portanto, como um reflexo de nossa própria sociedade: a obra, tal qual a produção material, é resultado de uma divisão de tarefas. O artífice moderno não é o poeta solitário, mas um conjunto de forças anônimas que "juntam metáforas", "bolam o título", e até mesmo escolhem "sua cor" no intervalo. A literatura, aqui, atua como espelho da estrutura produtiva, e o drama reside precisamente na repetição mecânica dos dias e na irredutibilidade das funções, onde o eu se dissolve na multiplicidade do nós.

Contudo, é no terceiro momento que o poema ganha a sua tensão dialética mais rica. A repetição dos dias e a rigidez das funções, por insistir num "modo velho" ou num "novo modo de agir, tão simbólico, tão rico...", culminam na "revolução". Esta revolução, no contexto lírico, parece ser tanto a ruptura estética quanto a convulsão social que o próprio processo de trabalho segmentado engendra.

Mas a beleza do achado reside na resistência da "chave de ouro". Se a criação se fragmentou, se o trabalho se dividiu, a "chave", que é o sentido último, a matéria essencial da arte — e talvez o próprio direito à literatura, o acesso ao gozo estético — é o que resiste à desagregação. É nela que "todos mexiam, todos estudavam, todos no fim de semana a cantavam...". A "chave de ouro" é a forma excelsa, pura, que sobrevive à fragmentação e que, ao espalhar-se em "amálgama", não destrói as propriedades originais, mas as intensifica: "o que era doce, mais doce ficou... O que era amargo, o amargo amargou...".

Neste ponto, o poeta nos oferece uma lição de realismo e esperança: a superação da fragmentação não se dá pela negação da matéria caótica, mas pela sua fusão em uma nova síntese que preserva os extremos. A verdadeira poesia, aquela que nasce da revolução da forma e do sentimento, é essa fusão totalizante. E, no fecho, a celebração por um elemento inusitado — "o carro que a tudo isso ouvia, celebrava a nova poesia" — nos devolve ao mundo da técnica, mas agora redimido pela escuta da arte.

Em suma, Marcio Lima, com poucos traços, toca em questões centrais da nossa modernidade: a relação entre trabalho e arte, a alienação e a busca pela totalidade, a tensão entre o individual e o coletivo. É uma poesia que, ao se declarar "fragmentada" em seu título, revela-se profundamente coesa e significativa em sua realização formal. Que o leitor encontre nesta "chave de ouro" a satisfação de uma reflexão necessária.

(Apresentação do poema de Marcio Lima desenvolvida pela Gemini, 2025).
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Fragmentei.





Fragmentei. Cada um montou uma peça,
Um ficou com os versos, outros a juntar em estrofes,
Alguns escolhiam as rimas, outros suas riquezas,
Muitos a juntar metáforas, outros a bolar o título...

Cada um a escolher, no intervalo, sua cor...
Os dias, se repetem, as funções, não...
Por insistir num modo velho, ou no novo modo de agir, tão simbólico, tão rico... Fez-se a revolução... A chave de ouro resistiu... Ela, todos mexiam, todos estudavam, todos no fim de semana a cantavam... Tão excelsa, tão pura e criativa, espalhou tudo num amálgama, e o que era doce, mais doce ficou... O que era amargo, o amargo amargou... E o carro que a tudo isso ouvia, celebrava a nova poesia...
(Marcio Lima...


sábado, 11 de outubro de 2025

Transformação...

 

Rói,
Mói o estoque,
Desintegra o que é inteiro,
Reconstrói na dureza e
Química do querer
Com ou sem embalagem
Com suor, vida, sentimento...
Tempo pastoso engolido
Nas engrenagens do sistema...
Queria ainda ser criativo,
Apesar dos tantos movimentos repetidos,
Das horas do amor, da poesia
Dores suprimidas...
Por ora,
Só o banco,
Que acolhe, o que foi do ontem,
e será do amanhã,
Que de novo será aproveitado,
Se o ônibus
A facção
Ou os amores  
Tiverem tempo de esperar...
Quiçá,
Meu produto perene
Deixado na rua,
Na lua, na marmita 
Ou num guardanapo qualquer...
Latente, esquecido,
Ontem imaginado
Amanhã de novo em pó transformado...
[marcio lima]

Imagem criada pelo Gemini IA a partir do poema. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Um dedo de Paixão


Mostrei-me abruptamente

Sem me importar em te assustar.

Cheguei em sua vida como um tsunami

Arruinei tuas tranquilas vielas,

Fiz o que (talvez) não devesse.


Fostes tão singela,

E a cada momento

Sopravas minhas lembranças

Como sopra a leve brisa

As douradas folhas...


Nesta mistura de força e leveza

Havia um equilíbrio que perdi,

E que hoje não procuro mais.

Talvez eu tema estar equivocado

do que realmente acende

a nossa simetria

Seja o fogo em desalinho,

não a paz.

Sei que isso em ti se finca,

e te corrói.

Mas és musa de bela inspiração

E de rara paciência,

De amor (quase) materno...

Respeitas (edipianamente) meus destemperos.

Que a vida revele a mim

A verdade que teimo em não ver:

Que talvez o Amor perfeito

Seja o que se faz

Pelo tempero agridoce

Dos dias que se emaranham,

Um elo sutil

A unir duas almas:

Tão diferentes ____ Tão parecidas.


(marcio lima)


Poema originalmente publicado em: https://devaneiosliterariosdolima.blogspot.com/2011/06/um-dedo-de-paixao.html 

Análise Metafísica e Metalínguística de "Nada Sei"

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