Deixe-me ser o que
quero. Errar, acertar. Acertar e errar. Deixe-me caminhar na praia
lentamente, pensando nas areias que cintilam me sentindo ali
eterno... Deixe-me caminhar amassando as folhas secas de um bosque
qualquer. Deixe-me expressar. Escrever meus devaneios, ler o que é
científico, artístico, religioso, o que é exato, perene, solene...
Deixe-me desacreditar nos outros, em mim mesmo... Deixe-me desdizer o
que disse antes... Deixe-me ser tão naturalmente... contraditório.
Deixe-me voar alto, correr de pés no chão – baixo... ir, vir,
ficar, viver no mínimo – mais um dia aqui deitado em minha rede
vendo um lago calmo com meu suco de caju ao lado – de preferência
– gelado! tomado adoçado com dignidade... Deixe-me mentir minha
idade, meus sonhos... Deixe-me fazê-los motivos para viver
enxergando o doce que habita a cada tilintar do relógio que vive
pendurado ao alto da matriz... e que controla os sinos que avisam
algo maior que cerca nossos dias... quem sabe seu sentido. Deixe-me
sozinho no meio desta multidão de solitários... Deixe-me ter medo
de raios... E viver boa parte de meus dias tentando superar tal
medo... Deixe-me mais um dia enganar – com uma rima-clichê – meu
coração... Deixe-me pensar que o amor entre homem e mulher - seja
mais que um impulso de procriação a melhorar a espécie, assim
entendido pelos ouvidos de minha ignorância... Deixe-me saber
omitir-me na hora certa, a não desmentir a verdade criada e
necessária, para que em algumas situações haja paz... Deixe-me
buscar a Arte, fazer Arte e descobrir a cada amanhecer o
contraditório daquilo que engana a cada Ser, em sua originalidade, assim ser... Amém!
Marcio J. de Lima
Imagem obtida em:http://cartasdeumamador.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html em 21 de janeiro de 2013 às 14:29
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