Quero de novo à praça
sair. Mas agora sem algemas, sem amarras. Quero meus versos livres.
Quero meus sonhos livres. Quero a luz que a todos brilha, como menina
alegre desperta em sonhos matutinos, tão faceira, tão sorrateira,
incandescendo desencantos; pautando, rimando, enfeitando meus cantos.
Quero turvos meus desalentos. Quero claro meus felizes momentos.
Ocorreram vitórias, ocorreram derrotas... E eu calado à complexa
fragilidade do ser nestes momentos... Por que ao menos não fugi? Por
que não chorei? Por que não ri? Só escrevi, pintei a folha com as
dores que desconhecia. Ouvi falar que foram felizes as observações
sobre isso. Meu ouvido colado à folha branca não captou nenhum eco
ou discurso inteligível que fosse... Não ouvi nada. Nem a
perturbada ânsia da autocompreensão. Onde eu estava quando meus
versos jogados voaram ao vento? Com que eu estava quando eclodiu a
revolução? Não lembro! Com quem estava quando a ciência
despertou? quando o homem pisou a lua? Aliás... estava sim ao lado
do astronauta... somente não recordo bem. Todavia, vi a terra do
mesmo ângulo que ele? Como era linda, moça de olhos azuis, tão
enigmática, tão serena... No entanto, ninguém a viu mimetizada em
meus versos, pelo menos com a mesma maestria que deveria ser
revelada. Fingi muito bem que não a vi - até agora. Ela escorregou
de meus dedos... Por que não a apreendi? Temia por não saber
reproduzi-la simbologicamente? Temia revelá-la mimetizada aos
amantes, não com todo seu brilho e efeito afrodisíaco? Por que fui
covarde e fiquei somente com a abstração torpe de algo tão
celestial? Por isso devo sair às ruas. Ter-me-ei como satisfeito.
Terei a lua como companheira, o sol matutino como combustível, a
impulsionar meus versos. Terei a dor alheia como lua tão serena...
Em versos indeléveis pintados em nuvens de algodão, numa manhã
pacífica de sábado, ao lado de meu amor.
Marcio Lima, Guarapuava
09 de dezembro de 2010.
Imagem obtida em:http://francielicremon.zip.net/arch2010-07-18_2010-07-24.html
Imagem obtida em:http://francielicremon.zip.net/arch2010-07-18_2010-07-24.html
Excelente!
ResponderExcluirPenso que em se tratando de amor somos todos astronautas!