(O ÊXTASE DA SANTA TERESA D’AVILA, ESCULTURA DE BERNINI)
O presente tem como objetivo repassar ao leitor, a impressão absorvida pelo autor, a partir de duas obras distintas, mas que pode haver várias tantas que podem ser inspiradas pela beleza estética de ambas. Para tanto, efetuou-se
uma leitura a fim de se obter algumas impressões sobre as mesmas, sendo elas: i)
o texto de SantaTereza DÁvila em que descreve o prazer sentido quando um anjo
muito belo lhe aparece e a desfere em seu peito uma lança de ouro, com uma
ponta de fogo, a qual sente muita dor, todavia, contraditoriamente, a dor se
converte em prazer, e quando o anjo a tira, sente todo o amor de Deus. E, ii) a
obra de Bernini, artista italiano, que esculpiu em mármore, durante cinco anos
(1647 - 1652), uma obra que retratasse o já relatado êxtase dessa Santa.
A
escultura, possui traços barrocos, de formas alongadas e excesso de expressão
nos personagens envolvidos, elementos típicos das obras do século XVII; e o
contraste do frio mármore e a ausência das cores fortes, fatores que não são
muito típicos desse momento histórico. A própria descrição de Santa Tereza
sugere o confronto de tais elementos, quando contrasta a dor com doçura
excessiva da mesma, Essa dor, é descrita como enorme, no entanto, quem a sente
não quer livrar-se dela, bem como nela sente um imenso amor vindo de Deus.
A
presença da Igreja era muito grande nesse período– (séc. XVII), e o contraste
entre as coisas terrenas e divinas eram motes artísticos usados para
catequização através de obras com movimento e expressão, beirando a
representação teatral, mesmo nas esculturas.
Talvez,
uma das leituras possíveis, ao fiel, seria o contraste das provações mundanas
dos prazeres de forma geral; que teriam como finalidade chamar a atenção do
interlocutor para o aspecto temporário delas; com o “êxtase” ou gozo da dor
sofrida pelas coisas do alto, ou divinas, de amor a Deus e ao próximo, como a
doação incondicional a eles.
Esse
contraste também pode ser remetido à frase do famoso orador Sêneca,
contemporâneo do Apóstolo Paulo e de Jesus Cristo, quando proferiu “Ignis
probat aurum”, que significa que o fogo prova o ouro. Ou seja, o homem fiel a
Deus sofrerá todas as provações e sofrimentos em busca do paraíso divino,
prometido a ele através das escrituras. O que remeteria, também, a dois
elementos presentes na narrativa da Santa Tereza, ao representar o canal de
amor a Deus, ou seja a lança de ouro com fogo na ponta.
O
drama das coisas mundanas, do jogo da riqueza e poder - que geram injustiças -
foi vivido por Sêneca, que pregava a renúncia dos bens materiais e a
contemplação a Deus.
Tal
movimento contrastivo é bem típico do Homem em suas buscas, sejam elas
espirituais ou carnais. Ora santos, ora pecadores. As dores, sejam elas quais
forem, devem ser tomadas como oportunidades de crescimento, seja intelectual,
seja espiritual. Pelo viés, religioso, do êxtase de Santa Tereza; tanto pelo registro
escrito, como pela releitura através da escultura de Bernini; são sem dúvida,
obras de genealidade e de pura contemplação ao Belo, que pode tranquilamente
(re)ligar ao Deus uno, poderoso que busca a unificação pela justiça e pelo amor
incondicional, através dos relatos registrados pela história, ou pelas
escrituras bíblicas e pela tradição judaico-cristã. Bem como, tais obras
cumprem uma das finalidades da Arte que é despertar no Homem o Belo, ou
seja atentá-lo ao que é sensível à sua essência. Sobretudo, correspondendo tal
contraste às linhas gerais dos Artistas ou Intelectuais barrocos, ora
analisados.
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