Neste momento, nas ruas, da janela de minha casa observo os
pássaros que se molham em uma poça de água. As ruas se acordaram vazias. O
entregador passou rápido. Foi até a casa da frente. Estava de máscara. Desceu
cuidadosamente de sua scooter. Pegou um vidrinho de álcool em gel de seu bolso, passou
rapidamente nas mãos. Buzinou. A senhora saiu desconfiada. Olhou para os lados
e apontou para a direção do entregador. O motociclista pegou de sua caixa de
entrega uma sacola e entregou a senhora. Ela com todo cuidado primeiro levou a
sacola e pendurou no gradil. O entregador sacou de seu bolso uma máquina de
crédito... Até ali quase não houve diálogo. Nenhum bom dia. Como se cada uma
estivesse com medo de se falar. Neste momento, até o sorriso gostoso e gargalhada
da senhora fez falta... Nenhuma comunicação. A Senhora entregou um cartão. O
rapaz só perguntou: débito ou crédito? Ela respondeu com a boca virando ao
lado: crédito. Se fosse em um momento diferente, ela falaria da história de seu
marido que há 12 anos havia partido, vítima de um infarto fulminante, que era
delegado calça curta, que foi com 78 anos, que era uma pessoa feliz, que ria
alto, que era educado, que gostava de fazer caminhada, que amava cachorros e
que seu passatempo preferido era caminhar... A todos contava a mesma história. Que
seus filhos todos haviam se formado na faculdade. Que foram morar longe. Dois
estavam fora do Brasil. O mais velho na Inglaterra, a do meio na França. Que o
mais velho era professor de filosofia. A mais nova era professora em São Paulo
de Inglês... Enfim, havia muito a dizer. A dar aquela gostosa risada. Mas, o
momento pedia poucas conversas. Pouco diálogo. Respeito com a saúde do rapaz.
Ele, a dedicar respeito e preocupação com a saúde da senhora. A vida precisava
seguir. Ambos, após a maquininha emitir o comprovante, e a uma distância
segura, soltaram um leve sorriso. Um profundo sorriso e recôndito... Vai com
Deus menino, pensou ela. Fique com Deus gentil senhora, pensou ele... E a moto, no silêncio
das ruas, voava... A vida, de seu jeito, neste momento, precisava andar...
Marcio Lima
Imagem obtida em: https://br.freepik.com/fotos-premium/velhas-belas-ruas-estreitas-vazias-na-pequena-cidade-de-lucca_6786792.htm#page=1&query=ruas%20vazias&position=8
Bom dia tudo bem? Estou te seguindo no seu blogspot. Vc pode me seguir no meu Blog? https://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1
ResponderExcluirOlá Luiz. Já estou te seguindo. Um abraço e obrigado pela companhia!
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