quarta-feira, 19 de junho de 2013

O MERCADOR DA LIBERDADE



Ela estava ali imóvel. Muito bem embalada, com o preço à altura do pescoço. Um slogan bem atrativo em sua camiseta. A embalagem valoriza o produto. A aparência era tudo. Estava limpinha. O perfume era bom, uma fragrância agradável que não irritaria o cliente e quem não passaria despercebida. O produto bom tem que ter um cheiro agradável. Ao seu lado estava um outro produto sendo exposto, tão bem produzido quanto ao primeiro, com todas as características de aparência do lote, mas diferia-se pelo gênero.

Vários consumidores passavam pela vitrine com olhares cobiçosos. Uma boa olhada nos produtos, outra nos preços e com sorrisos decepcionados seguiam. Todavia, permanecia em seus olhares uma indisfarçável cobiça, e mais um sonho a ser realizado.

Como o mercado estava aquecido não demoraria muito a serem arrematadas, essas ricas joias. Eles certamente seriam vendidos! Mas, diferente de tudo que a loja possuía, nesses dois espécimes havia consigo a opção – antes de estarem ali - de aceitarem ou não serem vendidos... Estavam ali usufruindo o resultado de uma das coisas mais belas que lhes havia sido entregue, o livre arbítrio.

Quem desperdiçaria tal negócio? Produtos de primeira. Por isso não duraram mais que – para eles quase que infinitos – quinze minutos para serem vendidos, logo após a exposição. O negócio foi bom para o proprietário da loja. Ambos foram vendidos pelo preço de etiqueta. Sem pechincha, sem barganha. O comprador só não tinha visto os olhos dos dois, pois estavam vendados.

Ao chegar em sua casa o comprador, com toda paciência que os anos foram responsáveis de presenteá-lo, tirou as vendas, desembalou-os e os recepcionou com fraterno abraço. Deu-lhes alimentos, ofereceu-lhes abrigo – caso desejassem.

Ambos estavam a sua frente atônitos, nem imaginavam - por não terem recebido em suas vidas - a razão de tamanho afeto. Resolveram nada indagar. Pois no contrato de compra e venda não estavam as opções de emitir juízo, nem indagar. O comprador falou: “paguei o preço por vocês e a partir de hoje vocês estão livres de suas amarras... vocês não são mais produtos, poderão emitir opinião e gozar do prazer da contradição, além disso poderão falar, reclamar, enxergar um mundo novo, amar, chorar e fazer tudo que desejarem... o limite será o infinito que se aponta aos seus horizontes. Sigam seus caminhos – se isso for de seus desígnios – sigam seus caminhos...”.

Sem nada mais a dizer, somente segurava um sorriso tendo sua voz presa pela emoção, lágrimas corriam pela sua face.

Ambos olharam fixamente o bondoso homem, sem ainda nada entender. Saíram lentamente à rua... Olharam para a humilde casa onde residia o comprador, a qual situava-se em uma área central e possuía um enorme terreno. À frente da casa estava um homem recolhendo uma placa de “vende-se”, era o homem da imobiliária.

O casal ainda continuou a caminhar lentamente na calçada, esboçaram um sorriso, esboçaram um entristecer e entraram sem pudores em uma outra loja. Ofereceram-se novamente a uma nova promoção. Mas agora tudo seria diferente, pediram para que seus olhos não fossem vendados.



(Marcio J. de Lima)


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