quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Boitatá

Olá meus amigos! Eu não sou homem de contar história à toa não. Sou trabalhador que valoriza o tempo, e sei o quanto ele é precioso, embora saiba o quanto somos sedentos de uma boa conversa à moda antiga com todo respeito e bem contada... Sendo assim, vou contar um causo para vosmecês que não é que eu queira pôr medo em ninguém, mas aconteceu de verdade, tá aqui cumpádi  Gaudôncio que não me deixa mentir.
Então, vamos ao que tenho que contar... Era numa tarde de quinta-feira da semana santa, compadre Beraldino, homem bravo domador de cavalo, não de muita corpulência, mas de uma força sem igual, de peleja dura, mão calejada que nem que eu, me convidou pra ir à Chácara dele, para mor de conhecê-la e ver o que tinha feito por lá. Em um momento meu cumpadi ficou meio que amuado, disfarçado, como alguém que tem uma coisa muito importante pra contar... Eu que sou homem vivido, que já vi muita coisa nessa vida, saquei em um momento que era batata o que compadi tinha a me assuntar.
E, pela expressão dele não era pouca coisa não. Num repente ele me  confessou que tinha conseguido domar um Boitatá... E eu precisava ajudá-lo com a fera... por saber  de minhas empreitadas com a besta. Mas confesso que nesses assuntos de domar o danado eu não era muito bom. A curiosidade acendeu...
Um silêncio caiu juntinho c'a noite. Confesso que por já ter enfrentado o dito e não ter obtido êxito, fiquei fã de meu cumpádi. Ele, como homem que já sofreu muito – ao meu ver – silenciou como que já abatido pelo ocorrido... E, eu continuei...
- Ora cumpádi, este bicho me surpreendeu quando eu trabaiava à noite numa serraria, como vigia. Era eu e mais outro amigo de profissão que tinha que aluitar a noite inteira espantando a assombração com medo que ele incendiasse toda madeirama lá guardada. Te conto, era uma cobra de fogo que pilampeava serpenteando uns quatrocentos metros para cima e vinha mais ou menos uns sessenta metros de onde nóis tava.
(Pausa... o locutor olhava ao longe tentando lembrar o que ocorreu com olhar assustado meio que ofegante, continuou)
- Cumpádi, vampiro se mata com estaca de madeira no coração. Lobisomem com bala de prata, também no coração... Mas Boitatá não... meu filho pesquisou, disse que na nossa história ele foi já visto desd'o descobrimento do Brasil pelo Padre Anchieta e vem assombrando até hoje... sem que se descobrisse um jeito de acabar com o dito cujo – Boitatá. Mas, creio que pelo que venho assuntando com o povo... deve ser com muita força e fé que se derrota esse bicho... Mesmo que muitos digam que ele tem até serventia, que é proteger as florestas... era o que desconfiava quando cuidava da serraria, até achava que era castigo... mas na verdade – não sei bem!
(Pausa)
- Mas, como tava falando – por isso que te invejo meu cumpádi!
E a conversa rolou mais umas duas horas sobre a temida assombração... O narrador, continuou...
- Numa das empreitadas, meu amigo de trabalho tinha me contado que um amigo dele tinha capturado um Boitatá. Amarrado ele se debateu a noite inteira. No dia seguinte era um homem, assim que nem que nós... de carne e osso. Muita vergonha ele ficou, achando que era uma armação, descobriu que se tratava de um amante de uma cumádi  com o cumpádi  dela... É, dizem que tem Boitatá que nasce daí... se não me engano... não me alembro bem...
Houve muito riso nesse momento. Quebrando-se um pouco da tensão.
Pensei: “Se meu cumpádi me convidou para conhecer ele, então homem que não havia de ser aquele Boitatá...”
O sábado chegou... Convidei cumpádi  Gaudôncio e meu afilhado, já quase hominho, para ir junto à chácara. Lógico não falei nada pra eles. Queria ver a cara deles quando vissem o Boitatá, pois sempre duvidaram de minhas histórias... Só não tinha bem certeza se era da mesma forma que eles conheciam. Uma cobra de fogo. Mas acho que de dia não ia aparecer muito bem o fogo...
Chegamos lá. Compadre Beraldino estava laçando. Víamos de longe o campo em que era praticado o tiro de laço... Compadre Beraldino nos enxergou e se dirigiu a cavalo nos receber na porteira, faceiro que ficou. Comentou da laçada, perguntou se lançávamos, e todos dissemos que não. Sem cerimônia, nos perguntou se tínhamos vindo para passar a noite por lá para pescaria e pra roda de pinhão com chimarrão e uma fritada de tilápia no disco e reforçou o convite pra gente pernoitar por lá... Tínhamos preparado o básico para passar a noite por lá... porque não estávamos muito convictos que passaríamos a noite na chácara... Mas pra pescaria estava todo material preparado... sempre carregava minha caixa de pesca no carro...
Depois de um dia bem agitado no campo a noite principiava... Cumpádi  Beraldino se lembrou do bicho. Como que uma certa preocupação assolou-o.
- Ah cumpádi – falou ele. Espero que vocês não tenham medo. São homens vividos, o teu guri cumpádi já se recolheu, restando só nós adulto por aqui. Agora posso apresentar a vocês meu Boitatá. Olhou-nos com olhar de uma certa malícia... talvez por exibir sua vaidade...
Compadre Gaudôncio não entendeu muito o que estava ocorrendo, pois eu não havia comentado... Riu discretamente. Mas não falou nada, achando que se tratava de uma brincadeira... Confesso, eu estava um pouco ansioso e só. Não tava muito espantado, pois conhecia a ousadia do cumpádi... e ele chamou...
- Vem cá Tatá!
Já tinha dado até nome pro bicho que coragem manter um certo afeto pela assombração, tinha domado muito bem ela.
Meu coração gelou. No meio da mata escura só vi dois olhos muito brilhantes e arregalados a se mexerem em nossa direção. Não sabia se aguentaria... Mas fiquei ali firme. Não olhei para os meus compadres. Só mirava, arrepiado, a mata. Minha história correu frente aos meus olhos. Quanta luta travada com aquela figura lendária – para muitos que não a conhecia como eu. E agora ela estava ali na minha frente. Domada, mas não sei se menos perigosa...
Eis que se aproxima fazendo um certo barulho na mata. Vejo dois pares de chifres, como narrado por alguns povos indígenas, o que o tornava mais assustador ainda. Imaginei neste momento como o minotauro... Como explicava esses dias na tevê – metade homem metade touro... Era só imaginação esta figura – lógico que não era assim... Se tratava do Boitatá. É realmente tinha cabeça de vaca ou de touro, sei lá, só sei que tinha uma mancha branca muito luminosa no centro da cabeça em forma de nuvem. Tonto, tentei falar... Mas não consegui. O tempo não passava, parecia tudo congelado. O que demorava quase uma eternidade ocorrer o que ocorreu... Mas aconteceu... Saiu da mata um boi. Sim era um boi! Corpulento, se aproxima de compadre Beraldino, que põe sua mão sobre ele e ele para.
Balançando a cabeça em sinal de aprovação penso: “ realmente, dessa forma ainda eu não tinha ouvido falar do Boitatá se manifestar quando domado – aliás é a primeira vez que ouço falar nisso.”
Compadre Beraldino, um forte, fez um bom trabalho! Podia ver no olho da fera seu fogo preso ali e esse com certeza não mais apavoraria ninguém. 

(Marcio J. de Lima)

Imagem obtida em: http://www.vivabrazil.com/boitata.htm
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

cê-cedilha

Em seu internetês
Não entendia por que
"você" com cê-cedilha
se escrevia.
(Marcio J. de Lima)

A QUEDA DE UM REI...



Vi no horizonte tênue luz.
Ao longo do caminho paira a escuridão.
Sôfrego, entristecido, caminha um leão.
Olha o deserto.
Vazio ou cheio, não importa.
Bate a fome, enrobustece-se seu desespero.
Sonha solitária figura; sacode sua juba; régia imposição.
Embora fera, se desespera...
Antes água farta, hoje areia e pó.
Sente-se só...
O sol, hoje companheiro insólito, rega miragens, devaneios...
Cai, rola em frenesi... Inebria-se...
Desenha em nuvens arenosas majestosa visão...
Felino, ontem tão forte... Hoje tão frágil criatura.
Sabe que a natureza, implacável mãe, fez-te grande, faminto, inteligente.
Parece que em teus olhos correm rios de lava, impunha-te pelo seu fulgor.
Por isso, não se rende à dor.
Chora, cai, bravamente resiste.
Insiste...
Sonhava com dias gloriosos...
Hoje, pesa-te a juba...
Reina, cambaleante, nas areias que cintilam...
Orgulhosamente... tomba com sua coroa...
Sobe ao céu um rei...
Desce à terra um anjo...
Chora, em nuvens ao longe, sábia natureza.
Chega tarde o milagre de quem a todos fez.
Com ele renascem as pequenas criaturas...
A vida que se renova, canta a quem piedosamente, age e embeleza as areias que em flor relutam pela eterna ânsia de ver-viver.
(Marcio J. de Lima em 30/05/2008).

Imagem de:
[Imagem: Lion stalking - Herbert Thomas Dicksee
Vídeo: Old man - Lizz Wright]
Obtida em: http://agnaldonoespelho.blogspot.com.br/2010/10/o-leao-velho.html 

(Publicado originalmente como LEÃO) 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Deixe-me caminhar na praia lentamente...



Deixe-me ser o que quero. Errar, acertar. Acertar e errar. Deixe-me caminhar na praia lentamente, pensando nas areias que cintilam me sentindo ali eterno... Deixe-me caminhar amassando as folhas secas de um bosque qualquer. Deixe-me expressar. Escrever meus devaneios, ler o que é científico, artístico, religioso, o que é exato, perene, solene... Deixe-me desacreditar nos outros, em mim mesmo... Deixe-me desdizer o que disse antes... Deixe-me ser tão naturalmente... contraditório. Deixe-me voar alto, correr de pés no chão – baixo... ir, vir, ficar, viver no mínimo – mais um dia aqui deitado em minha rede vendo um lago calmo com meu suco de caju ao lado – de preferência – gelado! tomado adoçado com dignidade... Deixe-me mentir minha idade, meus sonhos... Deixe-me fazê-los motivos para viver enxergando o doce que habita a cada tilintar do relógio que vive pendurado ao alto da matriz... e que controla os sinos que avisam algo maior que cerca nossos dias... quem sabe seu sentido. Deixe-me sozinho no meio desta multidão de solitários... Deixe-me ter medo de raios... E viver boa parte de meus dias tentando superar tal medo... Deixe-me mais um dia enganar – com uma rima-clichê – meu coração... Deixe-me pensar que o amor entre homem e mulher - seja mais que um impulso de procriação a melhorar a espécie, assim entendido pelos ouvidos de minha ignorância... Deixe-me saber omitir-me na hora certa, a não desmentir a verdade criada e necessária, para que em algumas situações haja paz... Deixe-me buscar a Arte, fazer Arte e descobrir a cada amanhecer o contraditório daquilo que engana a cada Ser, em sua originalidade, assim ser... Amém!

Marcio J. de Lima

Imagem obtida em:http://cartasdeumamador.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html em 21 de janeiro de 2013 às 14:29

domingo, 5 de janeiro de 2014

Reticência...

 
Intercalada às nossas
_____exclamações
Havia tanta reticência...
(Marcio Lima)
 
Imagem obtida em:http://blogdasinceridade.blogspot.com.br/2012/10/as-reticencias-da-minha-vida.html

sábado, 4 de janeiro de 2014

O bolo do dilema...




Eu e minha irmã a juntar latinhas. Antigamente se chamava assim, (catar latinhas), hoje a maioria das pessoas fala apanhar recicláveis, ser operador ecológico, etc. 
Não se tinha bem ao certo do valor deste trabalho para o meio ambiente, nós juntávamos para ajudar no orçamento da família. Nos dia atuais, muitos pais de família tiram seus sustentos desse ofício.
Fazia esse serviço com um carrinho feito de madeira para ajudar no trabalho, eu mesmo o produzi, o qual era carregado até quase não caber mais nada.
Minha irmã ia junto comigo algumas vezes, o que era conseguido por um insistente pedido “Mãe, deixe eu ir junto!”. Ela punha um boné na cabeça para esconder seus cabelos compridos para disfarçar que era uma menina, para diminuir o risco de alguma violência – o que hoje seria quase que inconcebível. Mas enfim, naqueles tempos não se havia falar em violência como hoje...
Certo dia, um casal de desconhecidos, em um carro, se aproxima. E nos pergunta:
- Vocês querem este bolo?
Acenamos envergonhados com a cabeça, que “sim”
Estava feito o dilema. Minha mãe sempre aconselhou a não pegarmos coisas oferecidas por estranhos. Que bolo! Parecia delicioso. Tempos depois descobri que era um rocambole de amendoim. A minha irmã  segurava o bolo e ficava próximo ao carrinho enquanto eu continuava a entrar no mato dos terrenos baldios procurar recicláveis, que naquela época,  em Guarapuava dos anos 90,  era muito comum serem jogados nesses, o que era favorecido pelo serviço de limpeza pública deficitário. 

A minha cabeça enquanto o tempo se seguia só estava no bolo e no dilema, comê-lo ou não comê-lo. Decidimos, mas com muito dó, a jogar o bolo e não arriscarmos... Fiquei com a imagem daquele dia.
Minha irmã, anos depois me confidenciou. "Realmente o bolo era uma delícia!"

Marcio Lima



Imagem obtida em:http://culinaria.culturamix.com/receitas/doces/rocambole-de-amendoim

Ciência e Poesia


Ciência.
Vento: o ar em movimento...
Poesia.
Sento: o mar, o amor invento...
(Marcio Lima)



As inscrições para o Sisu 2014 – primeiro semestre - iniciam-se nesta segunda-feira



As inscrições para o Sisu 2014.1 iniciam-se nesta segunda-feira dia 06 de janeiro e vão até às 23h59min do dia 10 de janeiro no endereço sisu.mec.gov.br. Este ano são mais de 170 mil vagas em 115 instituições de Ensino Superior que aderiram ao sistema. As notas são as do ENEM de 2013 não valendo as dos anos anteriores. 
Para participar o candidato não pode ter "zerado" na redação e usará o mesmo múmero de inscrição e senha utilizados no ENEM de 2013. 

Segue abaixo o cronograma:
  • 06/01 a 10/01 - Período de inscrições
  • 13/01 - Resultado da 1ª chamada
  • 17/01 a 21/01 - Matrícula da 1ª chamada
  • 27/01 - Resultado da 2ª chamada
  • 27/01 a 07/02 - Prazo para participar da Lista de Espera
  • 31/01 a 04/02 - Matrícula da 2ª chamada
  • 11/02 - Convocação dos candidatos em lista de espera pelas instituições a partir desta data


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Primeiro de Janeiro dia da Paz



Hoje comemoramos o dia Mundial da Paz. Primeiro de Janeiro de 2014.
Realmente, desejamos que 2014 seja um ano de Paz. A humanidade sempre lutou para sobreviver em seu planeta cercado de ameaças que causam nela insegurança – traduzida como: medos. Alguns estudiosos apontam os medos dos homens, como sendo o medo da natureza, o medo social, e sobretudo o medo deles mesmos...
Onde vivemos, se explicaria pelos olhos do milagre? Lugar este que tem o homem como responsável por tudo que o cerca, por ser ele a criatura que desenvolveu racionalidade.
Tudo bem "certinho", alinhado onde deveria estar para que a vida fosse possível. Diante de tudo que há em nosso entorno, deixar de crer em Deus seria contraditório, diante de tantos sinais - para os quais se fechássemos os olhos de nossa Fé, realmente não enxergaríamos o dedo do Criador.
Neste ano, crentes ou não crentes em Deus, estejamos reunidos em um ideal maior que é lutar para que o homem busque sua perpetuação aqui na Terra, o que não será possível se agirmos como ser que age predatoriamente com um intuito inconsciente de destruí-la, mas que a cuidará pondo em prática a sua história de desenvolvimento racional.
Para aqueles que creem em um Poder Divino, que as nossas ações sejam alinhadas com aquilo que a Bíblia prega (sendo Ela palavra de Deus) “amai-vos uns aos outros, e ao seu próximo como a vós mesmos”. E ainda, segunda Ela mesma, fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, por isso esta utopia, de fato pode ser sim verdadeira, se fizermos diariamente o exercício do Amor de doação ao próximo.
Sendo assim, busquemos a Paz!

Marcio Lima 

Imagem obtida em: http://www.glimboo.com/imagens_dia_mundial_da_paz.php

Este momento 1...

Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é mei...