domingo, 29 de março de 2020

Confinamento...


Neste momento, nas ruas, da janela de minha casa observo os pássaros que se molham em uma poça de água. As ruas se acordaram vazias. O entregador passou rápido. Foi até a casa da frente. Estava de máscara. Desceu cuidadosamente de sua scooter. Pegou um vidrinho de álcool em gel de seu bolso, passou rapidamente nas mãos. Buzinou. A senhora saiu desconfiada. Olhou para os lados e apontou para a direção do entregador. O motociclista pegou de sua caixa de entrega uma sacola e entregou a senhora. Ela com todo cuidado primeiro levou a sacola e pendurou no gradil. O entregador sacou de seu bolso uma máquina de crédito... Até ali quase não houve diálogo. Nenhum bom dia. Como se cada uma estivesse com medo de se falar. Neste momento, até o sorriso gostoso e gargalhada da senhora fez falta... Nenhuma comunicação. A Senhora entregou um cartão. O rapaz só perguntou: débito ou crédito? Ela respondeu com a boca virando ao lado: crédito. Se fosse em um momento diferente, ela falaria da história de seu marido que há 12 anos havia partido, vítima de um infarto fulminante, que era delegado calça curta, que foi com 78 anos, que era uma pessoa feliz, que ria alto, que era educado, que gostava de fazer caminhada, que amava cachorros e que seu passatempo preferido era caminhar... A todos contava a mesma história. Que seus filhos todos haviam se formado na faculdade. Que foram morar longe. Dois estavam fora do Brasil. O mais velho na Inglaterra, a do meio na França. Que o mais velho era professor de filosofia. A mais nova era professora em São Paulo de Inglês... Enfim, havia muito a dizer. A dar aquela gostosa risada. Mas, o momento pedia poucas conversas. Pouco diálogo. Respeito com a saúde do rapaz. Ele, a dedicar respeito e preocupação com a saúde da senhora. A vida precisava seguir. Ambos, após a maquininha emitir o comprovante, e a uma distância segura, soltaram um leve sorriso. Um profundo sorriso e recôndito... Vai com Deus menino, pensou ela. Fique com Deus gentil senhora, pensou ele... E a moto, no silêncio das ruas, voava... A vida, de seu jeito, neste momento, precisava andar... 
Marcio Lima 

Imagem obtida em: https://br.freepik.com/fotos-premium/velhas-belas-ruas-estreitas-vazias-na-pequena-cidade-de-lucca_6786792.htm#page=1&query=ruas%20vazias&position=8

segunda-feira, 23 de março de 2020

às vezes precisamos parar


às vezes precisamos parar. às vezes precisamos de nós mesmos, de nossos familiares, de nossos brinquedos e móveis tão frios a nos esperar. precisamos de Deus no silêncio de nosso quarto, na penitência tão nossa do respeito ao outro. precisamos, quando tão sós, de um livro antigo, quase empoeirado, quase embolorado, quase esquecido na estante, há muito tempo visitado... precisamos dos desconcertos com aqueles nos rodeiam, alguns desentendimentos, algumas constatações de nossos defeitinhos tão recônditos, postos à nossa frente. precisamos do respirar de nossos pets, do solitário sentar e ouvir uma música na garagem dentro do carro... às vezes precisamos, mesmo que a vida nos imponha, fazer uma pausa, de pensar nela, de pensar no outro e descobrir o quanto o outro sou eu... precisamos um pouco de responsabilidade em pensar que parar também é manter um movimento, mas de forma um pouco diferente... parar, com todo movimento contido em nossos corpos – difícil – mas essencial em momento tão congelante – como o parar estático da bela dama frente ao seu amante... como embalam os pés! quando precisamos que fiquem colados em frente ao espelho, longe de nosso passado, longe de tantos conselhos. ah, como é difícil neste momento a ilusão de poder andar nas ruas, a abraçar os amigos, os parentes, nossas ocupações, nossa nação... parar... ato tão difícil quando a vida pede para seguir. no entanto, parar não quer dizer esvaziar-se, parar quer dizer olhar para quem está perto e amá-lo mais ainda, é fazer vida onde se escondem as figuras pintadas em nossos computadores, nas fotos dispostas nas mesas engolindo nossas dores... das lembranças de como era importante a tarde na praça, o tomar um sorvete em uma sorveteria qualquer... o tocar dos lábios do homem nos de sua mulher, as conversas tão próximas, nossos desertos... hoje, aqui, eu, meus livros e parte de minha família... olhando ao lado, a fria mobília... as séries tão repetidas da netflix... fico aqui rezando, esperando, com minhas mãos desgastadas de álcool em gel, perdido em montes de papel... quiçá fique aqui, e espero que não seja para olhar de longe o solitário, e velha figura, que atende por noel... espero que a todos o bom Homem que reina no céu, a todos olhe com um pouco de piedade, por que aqui nós, estamos a aprender que o respeito às nossas limitações é algo que ainda não aprendemos... mas, olhando a mim mesmo, vejo que o outro sou eu... e eu me cuidando, eu cuido do outro... e se eu nada aprender neste silêncio que impera nas ruas, não terá valido a pena cada dor, cada silêncio, cada distância de quem amamos, cada ato de consumo consciente, a partilha com quem padece, as orações dedicadas, o respeito, a criatividade, cada página de livro lido, cada mágoa esquecida, cada beijo e abraço não dados... não terá valido nada... porque seguir é preciso, mas nesta hora, só nesta hora, parar é fundamental...

marcio lima – guarapuava – 22/03/2020.

Imagem obtida em: https://image.freepik.com/fotos-gratis/triste-mulher-asiatica-adulta-olhando-pela-janela-e-pensando-jovem-estressada-e-deprimida_33867-680.jpg

domingo, 22 de março de 2020

ZIGUEZAQUEANDO NO ZIG OU ZAG

    
FOI ASSIM...

                                          Hoje; após tanto tempo diante do espelho me vejo presente ao meu passado e foi ainda quando era um jovem sonhador, numa tarde de verão, pelos anos setenta e eu ouvia o som de ferro sendo batido em ferro, e vinha da metalúrgica Castelo; no bairro do Novo Mundo na ainda boa Curitiba e eu morava bem em frente da metalúrgica: ...Temmmmm!  Temmmmmm! Temmmmmm!
                                                  Sinto as marteladas dentro de mim até hoje deste som em forma de eco, e como eu ia dizendo: era uma bela tarde de verão, e enquanto assistia o National Kid, na Televisão, com a tela preta e branca, marca: Telefunken, enquanto assistia ia ali enrolando um bilhetinho num dos papeis dos bombons sonho de valsa, e lá de fora vinha o som: ....Temmmmm! Temmmmm!
                                                    Era da metalúrgica Castelo, bem em frente onde eu morava, ah! Isto eu já falei, pois bem, ainda não falei  por que de eu enrolar um bilhetinho num sonho de valsa.
                                                    A história é a seguinte: eu um rapazinho; de uns l4 anos, devia ser, sentia uma grande paixão por uma bela e doce menina da mesma idade, ela era uma morena de olhos verdes, que se chama Maria Luiza, mas naquele tempo as coisas eram diferentes, eu tinha vergonha de namorar e além de um grande respeito ou medo e é claro que a mãe dela, sua irmã e o meu amigo, irmão dela, não sabiam desta minha paixão por ela.
                                                     Então: vai daí que; combinei com a minha amada, que cada vez que eu fosse para a aula, no colégio Miguel Moreira Couto, próximo ao Capão Raso, e eu estudava à noite, e tinha que passar pela sua rua, então eu chegava até sua casa, no intuito de brincar com o seu irmão e levava um bombom para a sua mãe, seu irmão e sua irmã, mas no dela; havia um bilhetinho, que ela lia e depois me dava uma resposta.
                                                     Eu trabalhava vendendo pipoca, num carrinho, ali na praça do Novo Mundo, e ela morava na Avenida Republica Argentina, em frente da mesma praça, num casarão de Madeira, aonde havia um bar, que o seu pai tomava conta, eu então esvaziava o bujãozinho de água e várias vezes no dia, ia lá com desculpa de encher ele de água, mas na verdade era só para ver ela, aproveitava que sua mãe trabalhava no centro e seu pai no bar, eu ia pelos fundos e também é quando seu irmão estivesse na praça; ele era engraxate e cuidava do carrinho de pipoca para eu ir apanhar a água, era nestes momentos que: recebia resposta dos bilhetinhos e muito raro, pegava na mão dela, e logo corria para o meu serviço, acreditam que: fizemos até juras de amor, cortamos com uma lamina de barbear o dedo minguinho e colamos o sangue, num pacto: que seríamos um do outro para sempre, pode isso!
                                                                Lá fora; Temmmmm! Temmmmm! Eu já disse, não é mesmo! Pois até hoje, já velho, ainda ouço aquele som como se fosse hoje, bem nós falamos daquela tarde e eu já falei da praça, aonde eu trabalhava, não é mesmo, então; Tinha ali também um ponto de táxi, os carros eram todos Vemaguet, novinhos, aquele carro que tem três platinados e três velas, bem lembro bem do Sr Rubens, um senhor taxista de certa idade, ele éra o mais velho no ponto, que mais tarde, por sinal: trocaram de modelo de carro e foram todos comprando o tal corcel, bem e havia também a farmácia do Japonês, as lojas dos turcos, como a loja Jamil, a igreja católica, entre as ruas Wilson Churchel com a Republica Argentina, de frente para a praça, que alias, era o ponto final da linha de ônibus, do Novo Mundo, também me lembro do motorista o Sr Silvio, e outros, bem as vezes eu ficava bravo com os motoristas, de ônibus e os de táxis, porque; filavam sempre um punhadinho de pipoca.
                                                                 Ah! Sim! sim! O mais importante é que havia um mendigo, um negro, forte, que andava da praça do Capão raso, pela Avenida República Argentina, passando pela Praça do Novo mundo até chegar na Praça do Portão, ia e vinha, o dia inteiro, e o que me intrigava; era o fato dele, ficar enrolando retalhos de tecidos nos braços e nas pernas,  ficavam roxas e inchadas, ele ia colocando estes panos, amarrando fortemente, um retalho em cima do outro, pra lá e pra cá, e dia deste o povo dali, os comerciantes e moradores, pegaram ele, cortaram o seu cabelo e deram um banho, depois vestiram nele uma roupa boa, o tal ficou bonito de se ver, é claro que; fizeram isso na marra, mas valeu, eu fiquei feliz de ver ele bonito indo lá para os lados do Capão Raso.
                                                                  Ah! Eu não falei do J Maluceli, material de construção, era no pátio da loja que a noite nós: eu e meu pai guardávamos o carrinho de pipoca, e as lojas Chier, e o prosdócimo, mas que importa isso?
Já falei, do som que martela em minha cabeça, até os dias de hoje, talvez  trazem muitas, belas recordações, imaginem um cara apaixonado, era de ficar doente, o dia que eu não podia vê-la, bela Maria Luiza, sei lá por onde anda hoje em dia e ela já deve se avó, ou bisavó, sei lá, o mundo gira e gira, e Temmm! Temmmm!, e todo dia, batiam ferro com ferro lá dentro, a sabiam que; havia um quartel do exército, bem próximo a minha casa, e daí?  Né.
                                                                  Outro dia e lá vem o Dito Louco, ou dito loco, seu nome era Expedito, mas todos o conheciam ele pelo nome de Dito Louco, e então; de novo, enrolando panos pelos braços e pernas, eu um moleque ainda, resolvi tirar a cisma e tratei de conversar com ele, que estava encostado na banca de jornal, ali da praça, comendo um pedaço de pão e enrolando retalho pelo corpo, perguntei se ele tinha família, ele disse que teve, falava meio enrolado, ora falava corretamente, ora não dizia; coisa com coisa, mas fui entendendo um pouco da sua história; disse que sua mãe, que a muito já não a via, mais preciso, muitos anos, ela era uma costureira, e vivia daquele trabalho, mas um dia resolveu emendar só retalhos, ai eu ia desenhando na cabeça as cenas que ele ia falando:
                                                                  ****uma senhora, negra, que pitava um cigarro de palha, provavelmente costurava na sua velha e forte máquina Singer, aquela que era toda de ferro, e o pedal no pé, era aonde ela rodava a correia e ia costurando os retalhos. ****
                                                              Ai o leitor se pergunta e daí?
                                                                     O fato é que, na descrição simples do Dito loco, eu ia imaginando cenas, mesmo porque as vezes ele dizia que um som torturava a sua cabeça, e batendo com a mão na cabeça falava: Zig Zag! Zig! Zag! Zig! Ai ele ficava transtornado, e se agitava, eu ora outra parava a tal conversa e ia atender um freguês, eu já falei que era pipoqueiro, ah! Já falei né.
                                                                     Então, os sons, agora, já não eram só o Temmm! Temmm! Também; o  Zig! Zag! Zig! Zag!, e eu ia imaginando, a cena de acordo com o que me falava o dito louco:
                                                                      A mãe do Dito loco, ou louco, costurando, ia emendando os retalhos, de todas as cores, e a agulha ora estava em zig, ora em zag, e o seu filho, coitado, pequenino, ali com fome vendo a mãe que só emendava panos sem um objetivo e devido a fome e abandono, o expedito enlouqueceu, e ai saiu por ai afora, amarrando panos, que dá dó de ver o inchaço nas pernas, por ele amarrar fortemente, até aparecer feridas que infeccionavam e sangravam, as moscas ali botavam e as vezes se podia ver bichinhos nas feridas. Ainda se pergunta e daí?
                                                                      Bem eu já falei, que eu era pipoqueiro na praça, ah! Já! Também falei dos choferes, das lojas, da metalúrgica, do meu grande amor, e daí? Né!
                                                                      Nesta obra o leitor verá umas histórias, que muitas delas eu escrevia num caderno sentado na banqueta diante do carrinho de pipoca e algumas é incomuns, outras comuns, é o caso do texto ou do contexto, do verso ou do reverso, do real e do real, da fantasia ou da lógica, em que as figuras dos textos, ora estão em zig ora estão em zag, tudo o que parece ser as vezes não é, e as vezes é.
                                                                      Não! Não estou louco! O que acontece é que durante toda minha vida eu resolvi escrever o que via acontecer diante de mim, ou das noticias do dia a dia, escrevia e escrevo pelas minhas mãos, mas com a imaginação de uma pessoa, que tem problemas mentais, como se eu fosse o DITO LOCO, como ele veria o mundo, seu modo de entender as coisas que nós chamamos de normal, e como eu disse havia alguns momento como no dia que eu falei com ele, e que me pareceu a conversa de uma pessoa normal, e as vezes ele divagava e alucinava, então esta é e foi para mim uma experiência incrível, e se escrevi com variáveis, por toda a minha vida, ora em zig e ora em zag, como aqueles sons, ora era Temmm! Ora era; zig! Zag! E porque contei parte de minha vida?
                                                                       Bem é a forma que encontrei de ser zig, e quando volto a falar a mesma coisa, ai eu estou zag, então: leitor amigo, vamos ziguezaguear nas ilusões das linhas que tracei, partindo de uma figura real; que existiu e que deve ter sido enterrado como indigente, um ser que foi e não foi, porque tudo é assim mesmo; ora as pessoas que são zig, os ricos e sábios e as pessoas que são zag; os miseráveis, estes são os terríveis contrastes? Pois é; assim veremos deliciosas histórias, que compartilharemos, ora na realidade ora não, o que importa é ziguezaguear pela vida, e é isto que toda a humanidade faz, pra lá e pra cá, e todos com certeza carrega na cabeça um som qualquer que mais lhe marcou na vida.
                                                                           Ah! Eu já falei da Metalúrgica Castelo, lá no novo mundo.
                                                                            Que batia ferro com ferro: Temmm! Temmmm! E da mãe do Dito louco, que costurava fazendo zig zag... zig zag... zig zag... zig zag.

                                                                     Ah! Eu Já Falei tudo isso.
                                                                            Bem e como será que era o som da barriga de uma criança que via a mãe remendar retalhos, e chorava de fome?

                               Disso eu não falei, mas como será?
            

(Autor: J. Fátimo)

O Blog agradece ao autor que cedeu gentilmente o conto à publicação!


quarta-feira, 18 de março de 2020

Coronavírus. Orientações básicas!


Para evitar a proliferação do vírus, o Ministério da Saúde recomenda medidas básicas de higiene, tais como:
Lavar bem as mãos (dedos, unhas, punho, palma e dorso) com água e sabão, e, de preferência, utilizar toalhas de papel para secá-las.
• Deve-se cobrir o nariz e a boca com um lenço de papel quando espirrar ou tossir e jogá-lo no lixo

Também é necessário evitar tocar olhos, nariz e boca sem que as mãos estejam limpas
Evite aglomerações! Se puder, fique em casa!
Em caso de dúvida, busque mais informações no Site do Ministério da Saúde.


"Eu me cuido, eu te cuido!

#coronavirus#saude#eumecuidoeutecuido


Imagem: Freepik

 


domingo, 15 de março de 2020

O riso está pagando caro...

O riso está pagando caro,
Assim como a verdade,
Os verdes vales,
A curiosidade...
O riso está pagando caro,
Assim como os livros,
Os azuis mares,
Nossas amizades...
O riso está pagando caro,
Levando consigo a bela melodia,
Nossa alegria,
Nossas verdes florestas...
O riso está pagando caro,
Nossa fé abalada,
Nossa amizade camarada,
Nossa segurança em andar à luz do dia...
Nosso riso está pagando caro,
Pelas cordas que te amarram,
Pelos versos que te libertam,
Pelas danças que te alegram...
Nosso riso...
Nosso juízo...
Nossas podres moedas,
Nossos doces devaneios...
Nossos...
Deles...
eles...
Marcio Lima
22/02/2020

domingo, 8 de março de 2020

Feliz dia das mulheres!

À rua, vai
Onde ela quer
Porque quer.

Na rua ela está,
Feia ou bela
Vai,
Aonde ela quer.

Aos palácios, ela vai,
Dos sonhos, dos seus
Doces valores,
Aonde ela quer.

À rua, ela vai
Com todo o nosso respeito,
Buscando seu direito,
Na rua, na lua,
Nos becos e esquinas,
Aonde ela quer...

Vai tão longe, na ciência,
Lá no fundo de nossas carências,
Com afago de mãe,
Com amor de mulher...
À rua, ela vai,
Aonde ela quer...

Lá ela! sonhando,
Rezando, cantando...
Maria, Josefa, Manuela...
À rua, ela vai,
Aonde ela quer...

Com todos,
O mundo a mudar,
Com sua força de mulher,
Sem limites,
Sem medo,
Com os olhos de esperança,
Aonde ela quer...


O respeito do blog a todas as
Mulheres!

domingo, 1 de março de 2020

O ÊXTASE DA SANTA TERESA D’AVILA E A ESCULTURA HOMÔNIMA DE BERNINI, IMPRESSÕES



(O ÊXTASE DA SANTA TERESA D’AVILA, ESCULTURA DE BERNINI)
            O presente tem como objetivo repassar ao leitor, a impressão absorvida pelo autor, a partir de duas obras distintas, mas que pode haver várias tantas que podem ser inspiradas pela beleza estética de ambas. Para tanto, efetuou-se uma leitura a fim de se obter algumas impressões sobre as mesmas, sendo elas: i) o texto de SantaTereza DÁvila em que descreve o prazer sentido quando um anjo muito belo lhe aparece e a desfere em seu peito uma lança de ouro, com uma ponta de fogo, a qual sente muita dor, todavia, contraditoriamente, a dor se converte em prazer, e quando o anjo a tira, sente todo o amor de Deus. E, ii) a obra de Bernini, artista italiano, que esculpiu em mármore, durante cinco anos (1647 - 1652), uma obra que retratasse o já relatado êxtase dessa Santa.
A escultura, possui traços barrocos, de formas alongadas e excesso de expressão nos personagens envolvidos, elementos típicos das obras do século XVII; e o contraste do frio mármore e a ausência das cores fortes, fatores que não são muito típicos desse momento histórico. A própria descrição de Santa Tereza sugere o confronto de tais elementos, quando contrasta a dor com doçura excessiva da mesma, Essa dor, é descrita como enorme, no entanto, quem a sente não quer livrar-se dela, bem como nela sente um imenso amor vindo de Deus.
A presença da Igreja era muito grande nesse período– (séc. XVII), e o contraste entre as coisas terrenas e divinas eram motes artísticos usados para catequização através de obras com movimento e expressão, beirando a representação teatral, mesmo nas esculturas.
Talvez, uma das leituras possíveis, ao fiel, seria o contraste das provações mundanas dos prazeres de forma geral; que teriam como finalidade chamar a atenção do interlocutor para o aspecto temporário delas; com o “êxtase” ou gozo da dor sofrida pelas coisas do alto, ou divinas, de amor a Deus e ao próximo, como a doação incondicional a eles.
Esse contraste também pode ser remetido à frase do famoso orador Sêneca, contemporâneo do Apóstolo Paulo e de Jesus Cristo, quando proferiu “Ignis probat aurum”, que significa que o fogo prova o ouro. Ou seja, o homem fiel a Deus sofrerá todas as provações e sofrimentos em busca do paraíso divino, prometido a ele através das escrituras. O que remeteria, também, a dois elementos presentes na narrativa da Santa Tereza, ao representar o canal de amor a Deus, ou seja a lança de ouro com fogo na ponta.
O drama das coisas mundanas, do jogo da riqueza e poder - que geram injustiças - foi vivido por Sêneca, que pregava a renúncia dos bens materiais e a contemplação a Deus.
Tal movimento contrastivo é bem típico do Homem em suas buscas, sejam elas espirituais ou carnais. Ora santos, ora pecadores. As dores, sejam elas quais forem, devem ser tomadas como oportunidades de crescimento, seja intelectual, seja espiritual. Pelo viés, religioso, do êxtase de Santa Tereza; tanto pelo registro escrito, como pela releitura através da escultura de Bernini; são sem dúvida, obras de genealidade e de pura contemplação ao Belo, que pode tranquilamente (re)ligar ao Deus uno, poderoso que busca a unificação pela justiça e pelo amor incondicional, através dos relatos registrados  pela história, ou pelas escrituras bíblicas e pela tradição judaico-cristã. Bem como, tais obras  cumprem uma das finalidades da Arte que é despertar no Homem o Belo, ou seja atentá-lo ao que é sensível à sua essência. Sobretudo, correspondendo tal contraste às linhas gerais dos Artistas ou Intelectuais barrocos, ora analisados.
 (Marcio Lima)

Este momento 1...

  Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é m...