quinta-feira, 31 de maio de 2018

Espelhos e masmorras...

A cada pingo de história,
Um centímetro a menos de vivência a quem ousa dissimulá-la, fingi-la tão profundamente, deturpando o padrão...
Letras estranhas,
Entranhas, casca de cocoruto...
Estranho viver,
Viver-morrer...
Em uma epopeia com pernas próprias,
Signos ébrios cambaleam
Na carreira da história,
Morrem na boca de um frade qualquer
Com sua sisuda retórica em um
Mosteiro medieval
Onde se esconde num labirinto
Um pacífico minotauro...
Nem braveza, nem avareza,
Só cantares de um poema qualquer
De povos escaladores,
de conhecimento nas beiras dos perais, gritos gemidos de vítimas de vampiros nas chuvas embaixo dos beirais...
Um grito, um sussurro, uma vida a mais...
Esquecer? Jamais!!!
Seria o grito de Foucault que ouvi? Ou de Marx no silêncio da mesa que se encerra toda ação-ser do operário que ora clama? Maria me ama? Terá um milagre ao amanhecer? Pão ao anoitecer? A Guerra para paz haver? Silêncio debaixo dos lençóis?
Haverá brilho na boca da velha
a contar suas contas de seu novo rosário? Comida para mais um dia no seu velho armário? Haverá na praça ainda grito? Poetas a declamar versos tão concretos? Poesia amarrada ao sangue inocente... Gritos amarrados aos versos alexandrinos? Esperança que badala lentamente no dominical sino?
Haverá tudo isso? Antes que o poeta se parta... Antes que desapareça na chave de ouro? Quem publicará o que está escrito em seu duro couro finito???
Guarapuava, 21/05/2018
Marcio J. de Lima

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Êxtase...

Um olhar ao horizonte,
A mente solta por tantos mundos,
Com os sonhos derramando-se em minha alma.. 
Posso tanto correr, quero tanto correr...
Mas peço à razão, só um pouco de calma...
Com o êxtase controlado, vou devagar, vou mais longe...
Marcio J. de Lima
http://devaneiosliterariosdolima.blogspot.com.br/?m=1
20/05

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Assimilando sapo...

 Curucaca, Ave, Interior, Passaro

O índio observava a curucaca. Ela, ali parada, teimando em assimilar um sapo. Comia devagar, tentava arrancar a sua rugosa e verde pele. Ao longe o guará, com nojo, observava. Às vezes, o lobo virava a face para não ver a cena. 
De repente, um pinheiro aos poucos sucumbe, e vai caindo lentamente. A ave não percebe o que ocorrera, pois estava muito compenetrada. O lobo saiu correndo assustado. O índio anteviu em pensamento: "o pinheiro cairá sobre a curucaca". E foi o que ocorreu. Pensou: "morreu pobre ave!" 
De trás da densa mata, da clareira aberta pelo pinheiro, ao pé de uma serra, saem homens brancos, em seus cavalos, em uma caravana que trazia logo à frente uma imagem de Nossa Senhora de Belém em um coche pequeno ornado à santinha. Montado, logo após a uma charrete com uma espécie de altarzinho, vinha um padre. O padre viu o pinheiro caído. Benzeu-se e seguiu.
O índio ficou atônito. Queria correr, mas as pernas travaram em um misto de susto e curiosidade...
Olhou novamente o pinheiro. Sentiu pena da pobre ave. Que sorte hein, uma árvore na cabeça, e bem na hora do lanche. Pensou de pegar de seu arco e flecha para vingar a pobre criatura. E foi o que fez, esticou a corda feita de  fibra de taquara até o final da flecha, o arco já não envergava mais, mirou na testa do jovem explorador, que olhava com olhar atento a quase tudo que o cercava, parou um instante antes de deflagrar a seta, a Santa ficou na sua mira. Ele parou por ali. E atrás de seus ombros, um milagre aconteceu. A curucaca reapareceu em pé em um dos galhos do pinheiro ao lado de uma pinha com a metade desfalhada, ressurgiu triunfante, meio assustada, alçou voo, com seu almoço ainda quase todo a ser consumido... pobre sapo, pensou o índio.
Que sortuda essa curucaca!!! 

Marcio Lima, Guarapuava,
08/05/2018

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/curucaca-ave-interior-passaro-1707038/ 

quinta-feira, 10 de maio de 2018

UMA REVELADORA VISÃO

Sim, vi.
Era um mundo evoluído.
O Perdão era a grande palavra de ordem.
Alguns muros caíram e o abraço foi possível.
Marcio J. de Lima

quinta-feira, 3 de maio de 2018

O Elefante

Já era tarde da noite quando Cássio abriu a porta do seu apartamento após um cansativo dia de trabalho. Ao acender a luz, Cássio percebeu que não estava sozinho, no centro da sua pequena sala havia um elefante branco parado bem em sua frente. Era sem dúvida estranho, mas não era a primeira vez que ele se deparava com coisas estranhas em sua vida. Tomou banho, jantou e assistiu seu programa de televisão preferido, a presença do elefante não o incomodava, talvez até aliviasse um pouco o sentimento de solidão dentro daquele apartamento. Ora, quem sabe o elefante fosse um bom hóspede e fizesse companhia nos finais de semana.
No outro dia Cássio foi trabalhar e durante seu expediente mal lembrava do hóspede que deixara em casa. Mas, ao chegar em casa notar sua presença era inevitável, o elefante que antes cabia exatamente no centro da salinha agora parecia que tinha se espichado um pouco mais e assistir televisão já era um pouco mais difícil, as costas do animal agora tapavam parte da visão entre o sofá e a televisão. Tudo bem – pensou Cássio – só preciso me adaptar ao hóspede, se eu arrastar o sofá um pouco mais para o lado ainda era possível assistir boa parte da programação da televisão. Tomou banho, jantou, viu menos televisão e foi dormir.
Ao sair para tralhar no terceiro dia, Cássio teve a impressão de que o elefante estava um pouco maior, agora já alcançava parte da cozinha. Talvez o paquiderme esteja ocupando mais espaço do que deveria, mas não há tempo para tratar disso agora, ajeitar uma solução para o animal demandaria tempo e Cássio não poderia se atrasar para o trabalho. Anoitece e Cássio volta para casa, está bem claro que assistir televisão com aquele elefante enorme é impossível. Tudo bem – Cássio pensava consigo mesmo – hoje só tomo banho, janto e durmo. Ledo engano, ao abrir a geladeira Cássio reparou que a mesma estava vazia, o elefante havia se alimentado na ausência de Cássio. Naquela noite Cássio não jantou.
Nos dias que se seguiram, Cássio já não comia mais e nem se divertia com a televisão, era praticamente impossível fazer qualquer coisa naquela casa com o tamanho do elefante. Quando foi tomar banho Cássio viu o elefante olhando diretamente para ele. Não era possível nem ter mais um momento de privacidade, o elefante tomava conta de toda a casa, encarava Cássio sempre com a mesma expressão. Ele não comia, não se divertia e nem podia mais tomar banho.
Certo dia, ao voltar para casa cansado e já bastante infeliz com o hóspede indesejado, Cássio sentiu que era ele ou o elefante e esbravejou para o monstro que já tomava quatro cômodos da casa: “MALDITO ELEFANTE, SOME DAQUI E NÃO VOLTA NUNCA MAIS! CANSEI DE VOCÊ, ME DEIXA VIVER A MINHA VIDA”. O elefante se assustou e num rompante nervoso começou a sacudir-se dentro da casa e a pisotear tudo que estava pela frente. Pisoteou, pisoteou e pisoteou Cássio nada menos que 9 vezes e não mais do que de repente escapou pela porta sem deixar nenhum vestígio de sua fuga.
Cássio estupefato ainda sentia o peso da pata do elefante doer em seu peito. Estirado no chão encarava o teto pensando no que havia acabado de acontecer e só conseguia pensar consigo mesmo “Ainda fosse um elefante de verdade...” 

Por Rodolfo  Neto

O blog agradece a colaboração.

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