domingo, 30 de dezembro de 2018

Feliz ano novo!

Quem à cata sai de um novo calendário?
Será o menino feliz e regateiro?
Ou os ponteiros observados neste solene horário?

Os fogos, figos, ondas, patuás, moedas, doces e gritos de alegria...
Como se fosse mágica, o olhar para o céu e calendário, fogos e poesia...
O ano novo que se posiciona ao nascimento,
Data nova, vida nova, esperança...

Olha o povo que pede a paz, nesta noite abaixam-se as armas, apontam-se ao inimigo, braços abertos, um buquê de flor...
Olha a criança, o velho, o vendedor de sonhos, o pai, a mãe como gritam sonante, que não role mais sangue, mas que nesta terra brote pungente, urgente, o amor...

Olha a flor na terra, pronta a ser colhida, olha o grão que se entrega pronto para ser comida...
Olha o velho que carrega o pesado carrinho de lixo, a criança que as latas remexe em busca de comida, feito bicho...

Olha, é ano novo. A chance de um mundo melhor bate à porta, nosso espírito se insinua a querer um mundo mais justo e humano... Os sinos anunciaram, há poucas horas daqui, em nome do amor, um Deus se fez humano, e a paz que outrora era utopia, mexeu conosco, e toda tristeza se converteu em alegria...
E todos e todas num frenesi, esquecendo toda dor de outrora, pensaram "fazermos, é agora, o novo",  gritaram para o mundo ouvir, várias vezes sem medo algum, como num refrão de poesia:
Feliz ano novo!!!
Marcio Lima
26/12/2018. Guarapuava - PR.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Dia



No meio do dia 
paira feliz o i 
com o sol em pino... 
Há quem não concorde, 
mas daí é outro acorde...

Marcio Lima

Imagem: Pixabay

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O gênio...

 Luminária, Gênio, Aladim, Ficção, Fantasia, Árabe

Disse o gênio: dar-te-ei toda sabedoria a que pediste neste único pedido. Aceitas?
O jovem resolvido sabendo que através dela conquistaria o mundo, aceitou.
O gênio deu-lhe uma única missão. Cuidarás desta fera diariamente, alimentando-a e dando-lhe de beber.
Fechado. Falou o decidido jovem...
E assim se fez... Desde então ele conseguiu tudo o que queria e podia lhe fazer feliz...
Mas, passado o tempo e ocupado com suas vitórias, esqueceu-se de alimentar a fera.
E eis que em uma noite de lua cheia, a mesma escapou e devorou e destruiu tudo o que podia...
Antes de chegar ao jovem, saciada, repousou... O mesmo vendo tudo que possuía destruído, enlouqueceu, e matar a fera desejou... E fê-lo... Com um golpe na cabeça aniquilou-a. Ao último suspiro da besta, os corações de  ambos pararam de bater. E, príncipe e fera padeceram frente à frente... Observava, com olhos de profunda satisfação, o gênio assentado na mais bela pedra que o reino possuía...
Guarapuava, 05 de setembro de 2018.
(Marcio de Lima)

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/vectors/lumin%c3%a1ria-g%c3%aanio-aladim-fic%c3%a7%c3%a3o-33925/ 

sábado, 25 de agosto de 2018

Quando choro... (When I cry...)


Quando caio, aprendo a levantar. Quando me sento, aprendo a descansar. Quando olho ao lado, aprendo com quem me acompanha. Quando choro, aprendo quanto vale uma lágrima. Quando sujo a folha, tomo ciência de minha ignorância. Quando conheço o gosto do pó, sei quanto vale a caminhada. Quando vou embora, posso mensurar o valor da saudade. Quando aprendo, tomo ciência de quão vastos é o universo. Quando falo com Deus, vejo o quanto nada vale o ouro, a prata o poder. Quando olho a natureza, percebo quão grande é minha família e os amigos que me acompanham. Quando vejo quem pratica a partilha, mais entendo o que é felicidade. Quando abandono por um instante meus vícios, mais percebo o quanto preciso da sobriedade e de mim mesmo. Quando olho meu irmão com os olhos do coração, consigo ver suas fraquezas e entender um pouco melhor seus passos. Quando ouço uma linda canção, entendo o valor da matemática somada à sensibilidade. Quando choro com a mãe atingida pela perda de seu filho amado pela violência, menos entendo a existência das armas. Quando vejo a marcha dos desesperados sem rumo, menos entendo a palavra irmandade. Quando vejo a euforia da ganância sem fim, mais interiorizo o que a bíblia quis dizer. Quando sinto falta do canto dos pássaros, percebo que a ciência poderia mais fazer. Quando percebo o silenciamento das vozes, mais vejo a necessidade do grito dos que podem ainda gritar. Quando vejo livros queimados, mais percebo a falta da história. Quando ouço pais sendo insultados, mais vejo que estamos indo para o abismo. Quando a solidão das povoadíssimas metrópoles invade cada coração, mais vejo o valor de um bom dia, um abraço ou muito obrigado, até!... Quando vejo que o sol começa a se apagar, vejo que é hora de andar, porque há milhares de estrelas por aí, e cada uma delas é um caminho, e caminhar é preciso...
Marcio de Lima
Guarapuava, 25 de agosto de 2018.
Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/olho-manipula%C3%A7%C3%A3o-l%C3%A1grimas-arte-2274884/

quinta-feira, 16 de agosto de 2018


Vi em uma janela um par de olhos curiosos.
Quando se perceberam notados, fizeram-se fugidios.
Há muito tenho percebido isso.
Se ao menos viessem acompanhados de uma boca sorridente, ficaria menos blue em andar por aí...
Marcio Lima

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/banner-cabeçalho-olho-janela-1235602/

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Paz e medo...

Nunca tive tanta insegurança…
Estou com medo do vazio que ronda minha vila.
Do silêncio e do silenciamento dos que gritam pelos mais fracos…
Fico preocupado quando ouço sussurros compreendidos como linguagem cotidiana, como linguagem de poder, como esperança de reorganização num caos sem fim…
Tenho medo do autoflagelo que tem desandado a tantos ermos.
Nunca tive tanto medo antes…
Vejo o rio andando em sentido contrário, esvaziando a vida que ali insiste em continuar seu intento…
Gostaria de te ser direto e desvelar o que vejo. Mas, a racionalidade não me deixa… Preocupa-me o desequilíbrio de tudo aqui. Uma fome sem fim, um desejo estranho de morte de muitos, de ver o outro e a si mesmo sofrendo.
Quanto egoísmo, quanta ganância!!!
Estou vendo aos poucos a palavra se esvaziar, a razão ceder lugar à raiva e à loucura insana…
Olho ao céu e as estrelas e planetas fazendo cada um a sua parte, imperando harmonicamente… Fico a imaginar, seremos algum dia estrelas ou planetas? Ou seremos só um pozinho a vagar pelo espaço… Sei que esta hipótese deveria me dar um medo maior ainda… Mas não sei por que, deu-me uma certa paz… Pois sei que no fim a paz impera… Às vezes demora, mas sim ela impera…
Márcio J. de Lima
Guarapuava, 05/08/2018.
Do blog devaneios literários do Lima

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Entre preces e orações...


Entre notas e canções,
Entre preces e orações,
És meu Senhor!
Senhor do Amor.

Entre pobres filhos Teus,
Habitais ali ó meu Deus!
 
Entre o cobre que se perdeu,
O pecado em apogeu...

Estou aqui!
Bem junto a ti!
Eu retornei!

És a vida em abundância!
Sempre amor,
Tu és constância,
Palavra amiga,
Um bom conselho.
Tu dizes: Siga!
Tu és meu filho!
És meu amor!
Eu sei quem És!
És meu Senhor!
Senhor do Amor.

Marcio J. de Lima

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Arroz, feijão, arte e macarrão... (Rice, beans, art and pasta...)

Minha carne precisa de arroz,
Minha mente de memórias,
Meu saber de histórias,
Pra ser eu, nós dois...

Meus dias, precisam de movimento,
Meus sonhos entrelaçados ao vento,
Seus beijos a saciar nosso amor,
A aliviar a inevitável e ensabecedora dor...

Preciso das prosas de quem amo,
Dos olhares de quem respeito,
Do amor do Ser a quem clamo,
E alivia, ao Seu olhar, meus naturais defeitos...

Preciso do mundo sem fronteiras,
Do caminhar livre pelas ruas,
Do fruto doce que nasce das palmeiras,
Das doces palavras a escorrer da boca sua...

Preciso do saber da história que se desenha,
Sentir as artes que se exibem, não só nos salões,
Mas nas praças, parques e jardins e onde se tenha,
Ânimo para receber o novo, a tocar muitos corações...

Quero saborear a deliciosa maresia,
Provar do ar de cada vale e montanha,
Quero misturar o belo da natureza à alegria,
Provar o frescor da noite, com a força da manhã...

Quero degustar os versos de Baudelaire,
Temperados cuidadosamente com pequi,
Não sorve-los com a pressa de um self-service qualquer,
Mas com a sutileza que há muito não se vê aqui...

Quero a democracia na cozinha,
Nas bibliotecas, museus e nos campinhos,
Quero um poema em cada esquina,
Um passo à frente e esperança que não se definha...

Quero alma, corpo e coração juntos,
Todos eles em paz e bem nutridos,
Cada um produzindo seus frutos,
E de todo egoísmo e preconceitos despidos...
Marcio J. de Lima
Guarapuava, 18/06/2018.



quinta-feira, 21 de junho de 2018

Vizinha... Inesperada vizinha de outrora


Uma visita que se fez vizinha...
Um dia a paixão entrou em minha porta.
Sentou-se, pediu um café, arrumou um cantinho na sala e repousou...
Gostou tanto de ficar a contar histórias tão estranhas, que hoje reside em um puxadinho criado só pra ela, e visita-me diariamente... Não conta mais histórias, mas recita-me inesperadamente, bem juntinho de meu ouvido, quase sussurrando, os mais inspiradores e belos poemas...
Marcio Lima
07/06/2018, Guarapuava.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Meme...

Fico a esperar um meme que descreva tão solenemente o ódio que carrego em minhas entranhas...
Espero um miraculoso meme que me console dando-me a ânsia do êxtase em derrubar meu opositor. Que apoie meu desejo de ver o caos que se esconde em meus recônditos pensamentos...
Quero um meme que me explique todos os mistérios da ciência e do universo, quiçá...
Quero um meme de patuá que me proteja quando eu estiver distraído.
Quero um meme para deixar meus neurônios de molho.
Quero um meme que servirá de carne pendurada em uma vara, e esta como seta, a este zumbi que carrega meia dúzia em suas costas.
Quero um meme que me explique minhas contradições, minhas contramãos, minhas decepções.
Quero um meme, um novo tóten, um novo espelho, um druida vazio de conselhos... Quero um meme como flecha, arco, clava rugosa...
Quero um meme que me dispense daquele grossíssimo livro, daquele filme de Almodóvar, daquele quadro da Divina Comédia pendurado na parede...
Quero um meme que me faça feliz, inerte, autômato... E quando ele se fizer concreto, olharei a ele discretamente... Agradecerei... agradecederei... agradecederei... agradecederei...
Marcio J. de Lima
Devaneios literários do Lima
Guarapuava, 30/05/2018

https://devaneiosliterariosdolima.blogspot.com/?m=1

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Ah, o tempo... amigo tempo...

Existem algumas coisas que só mesmo o tempo para nos ensinar.
Com o tempo descobrimos que na vida tem coisas que não vale a pena se preocupar, pois elas são do jeito que são. A princípio perdemos horas, dias, anos gastando energia com situações que não mudam e isso leva nosso precioso tempo, que poderia ser investido em empreitadas que dessem mais alegria e satisfação ao nosso viver.
Também descobrimos que alguns pensamentos precisam ser mudados, pois eles nos impedem de nos abrirmos ao novo, de ver o mundo de forma diferente. Com esse nosso amigo, vemos a necessidade do confronto de ideias para amadurecermos em nossos pensamentos e quiçá, em nossa alma.
Com o correr dos anos, começamos a nos ver em outras pessoas, a empatia deveria já ter ocorrido há muito tempo atrás, pois vermos nossas fraquezas espelhadas no irmão faz enxergarmos as nossas. E entender nosso semelhante é muito importante para que pratiquemos algumas ações que nos fazem crescer, como o perdão, a piedade a solidariedade e muitos outras que enriquecem nosso viver...
Pois é, essas são algumas coisas boas que o tempo nos traz, mas com certeza traz muito mais, e uma delas é o prazer de uma manhã ensolarada, em uma praça qualquer, poder correr com os netos e abraçá-los a todos com a consciência que isso sim vale a pena... E se não os tivermos, podemos correr com nossos amigos de pelo, eles também nos ajudam e muito, estranhamente eles nos humanizam...
Guarapuava, 05/06/2018

http://devaneiosliterariosdolima.blogspot.com/2013/03/letras-que-se-pretendem-um-poema.html?m=1

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Espelhos e masmorras...

A cada pingo de história,
Um centímetro a menos de vivência a quem ousa dissimulá-la, fingi-la tão profundamente, deturpando o padrão...
Letras estranhas,
Entranhas, casca de cocoruto...
Estranho viver,
Viver-morrer...
Em uma epopeia com pernas próprias,
Signos ébrios cambaleam
Na carreira da história,
Morrem na boca de um frade qualquer
Com sua sisuda retórica em um
Mosteiro medieval
Onde se esconde num labirinto
Um pacífico minotauro...
Nem braveza, nem avareza,
Só cantares de um poema qualquer
De povos escaladores,
de conhecimento nas beiras dos perais, gritos gemidos de vítimas de vampiros nas chuvas embaixo dos beirais...
Um grito, um sussurro, uma vida a mais...
Esquecer? Jamais!!!
Seria o grito de Foucault que ouvi? Ou de Marx no silêncio da mesa que se encerra toda ação-ser do operário que ora clama? Maria me ama? Terá um milagre ao amanhecer? Pão ao anoitecer? A Guerra para paz haver? Silêncio debaixo dos lençóis?
Haverá brilho na boca da velha
a contar suas contas de seu novo rosário? Comida para mais um dia no seu velho armário? Haverá na praça ainda grito? Poetas a declamar versos tão concretos? Poesia amarrada ao sangue inocente... Gritos amarrados aos versos alexandrinos? Esperança que badala lentamente no dominical sino?
Haverá tudo isso? Antes que o poeta se parta... Antes que desapareça na chave de ouro? Quem publicará o que está escrito em seu duro couro finito???
Guarapuava, 21/05/2018
Marcio J. de Lima

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Êxtase...

Um olhar ao horizonte,
A mente solta por tantos mundos,
Com os sonhos derramando-se em minha alma.. 
Posso tanto correr, quero tanto correr...
Mas peço à razão, só um pouco de calma...
Com o êxtase controlado, vou devagar, vou mais longe...
Marcio J. de Lima
http://devaneiosliterariosdolima.blogspot.com.br/?m=1
20/05

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Assimilando sapo...

 Curucaca, Ave, Interior, Passaro

O índio observava a curucaca. Ela, ali parada, teimando em assimilar um sapo. Comia devagar, tentava arrancar a sua rugosa e verde pele. Ao longe o guará, com nojo, observava. Às vezes, o lobo virava a face para não ver a cena. 
De repente, um pinheiro aos poucos sucumbe, e vai caindo lentamente. A ave não percebe o que ocorrera, pois estava muito compenetrada. O lobo saiu correndo assustado. O índio anteviu em pensamento: "o pinheiro cairá sobre a curucaca". E foi o que ocorreu. Pensou: "morreu pobre ave!" 
De trás da densa mata, da clareira aberta pelo pinheiro, ao pé de uma serra, saem homens brancos, em seus cavalos, em uma caravana que trazia logo à frente uma imagem de Nossa Senhora de Belém em um coche pequeno ornado à santinha. Montado, logo após a uma charrete com uma espécie de altarzinho, vinha um padre. O padre viu o pinheiro caído. Benzeu-se e seguiu.
O índio ficou atônito. Queria correr, mas as pernas travaram em um misto de susto e curiosidade...
Olhou novamente o pinheiro. Sentiu pena da pobre ave. Que sorte hein, uma árvore na cabeça, e bem na hora do lanche. Pensou de pegar de seu arco e flecha para vingar a pobre criatura. E foi o que fez, esticou a corda feita de  fibra de taquara até o final da flecha, o arco já não envergava mais, mirou na testa do jovem explorador, que olhava com olhar atento a quase tudo que o cercava, parou um instante antes de deflagrar a seta, a Santa ficou na sua mira. Ele parou por ali. E atrás de seus ombros, um milagre aconteceu. A curucaca reapareceu em pé em um dos galhos do pinheiro ao lado de uma pinha com a metade desfalhada, ressurgiu triunfante, meio assustada, alçou voo, com seu almoço ainda quase todo a ser consumido... pobre sapo, pensou o índio.
Que sortuda essa curucaca!!! 

Marcio Lima, Guarapuava,
08/05/2018

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/curucaca-ave-interior-passaro-1707038/ 

quinta-feira, 10 de maio de 2018

UMA REVELADORA VISÃO

Sim, vi.
Era um mundo evoluído.
O Perdão era a grande palavra de ordem.
Alguns muros caíram e o abraço foi possível.
Marcio J. de Lima

quinta-feira, 3 de maio de 2018

O Elefante

Já era tarde da noite quando Cássio abriu a porta do seu apartamento após um cansativo dia de trabalho. Ao acender a luz, Cássio percebeu que não estava sozinho, no centro da sua pequena sala havia um elefante branco parado bem em sua frente. Era sem dúvida estranho, mas não era a primeira vez que ele se deparava com coisas estranhas em sua vida. Tomou banho, jantou e assistiu seu programa de televisão preferido, a presença do elefante não o incomodava, talvez até aliviasse um pouco o sentimento de solidão dentro daquele apartamento. Ora, quem sabe o elefante fosse um bom hóspede e fizesse companhia nos finais de semana.
No outro dia Cássio foi trabalhar e durante seu expediente mal lembrava do hóspede que deixara em casa. Mas, ao chegar em casa notar sua presença era inevitável, o elefante que antes cabia exatamente no centro da salinha agora parecia que tinha se espichado um pouco mais e assistir televisão já era um pouco mais difícil, as costas do animal agora tapavam parte da visão entre o sofá e a televisão. Tudo bem – pensou Cássio – só preciso me adaptar ao hóspede, se eu arrastar o sofá um pouco mais para o lado ainda era possível assistir boa parte da programação da televisão. Tomou banho, jantou, viu menos televisão e foi dormir.
Ao sair para tralhar no terceiro dia, Cássio teve a impressão de que o elefante estava um pouco maior, agora já alcançava parte da cozinha. Talvez o paquiderme esteja ocupando mais espaço do que deveria, mas não há tempo para tratar disso agora, ajeitar uma solução para o animal demandaria tempo e Cássio não poderia se atrasar para o trabalho. Anoitece e Cássio volta para casa, está bem claro que assistir televisão com aquele elefante enorme é impossível. Tudo bem – Cássio pensava consigo mesmo – hoje só tomo banho, janto e durmo. Ledo engano, ao abrir a geladeira Cássio reparou que a mesma estava vazia, o elefante havia se alimentado na ausência de Cássio. Naquela noite Cássio não jantou.
Nos dias que se seguiram, Cássio já não comia mais e nem se divertia com a televisão, era praticamente impossível fazer qualquer coisa naquela casa com o tamanho do elefante. Quando foi tomar banho Cássio viu o elefante olhando diretamente para ele. Não era possível nem ter mais um momento de privacidade, o elefante tomava conta de toda a casa, encarava Cássio sempre com a mesma expressão. Ele não comia, não se divertia e nem podia mais tomar banho.
Certo dia, ao voltar para casa cansado e já bastante infeliz com o hóspede indesejado, Cássio sentiu que era ele ou o elefante e esbravejou para o monstro que já tomava quatro cômodos da casa: “MALDITO ELEFANTE, SOME DAQUI E NÃO VOLTA NUNCA MAIS! CANSEI DE VOCÊ, ME DEIXA VIVER A MINHA VIDA”. O elefante se assustou e num rompante nervoso começou a sacudir-se dentro da casa e a pisotear tudo que estava pela frente. Pisoteou, pisoteou e pisoteou Cássio nada menos que 9 vezes e não mais do que de repente escapou pela porta sem deixar nenhum vestígio de sua fuga.
Cássio estupefato ainda sentia o peso da pata do elefante doer em seu peito. Estirado no chão encarava o teto pensando no que havia acabado de acontecer e só conseguia pensar consigo mesmo “Ainda fosse um elefante de verdade...” 

Por Rodolfo  Neto

O blog agradece a colaboração.

sábado, 28 de abril de 2018

Uma formiga carregava um palito (An ant carried a toothpick)

 Formiga De Madeira Vermelha
Uma formiga carregava um palito.
Teria sido eu a carregar uma árvore inteira?
Não sofria exoesqueleto de formiga...
Aquilo era uma beleza, pleno malabarismo em minha frente...
Eu como frágil, mole por fora, duro por dentro, olhava meu oposto, e em meu peito um gosto, malabares com o pinheiro que se desenha em minha frente...
Forte formiguinha... carregou com toda força sem titubear quinze minutos de minha vida, que  às vezes pesam mais que a concreta trave que atravessa os meus dias... forte formiguinha... fraco e interrogativo ser estupefato me senti...
 
Marcio J. de Lima
Guarapuava, 22/04/2018
https://devaneiosliterariosdolima.blogspot.com.br/?m=1
 
Imagem obtida em:  https://pixabay.com/pt/photos/formiga-de-madeira-vermelha-7152315/



quinta-feira, 19 de abril de 2018

Deus vomita os mornos…

Seja quente de alegria
De boas palavras
De sorrisos nas ruas
De canções nas praças…
Seja quente à natureza que te clama
Àquele que te odeia ou até mesmo àquele que te ama.
Seja quente aos teus sonhos
Que nunca sejam sozinhos,
Pois há almas que te acompanham
E que ser feliz é um ato de consciência
Que nunca pode ser individual…
Seja quente às leituras de livros e da vida
Ao menor que te pede uns trocados, à família que te pede um abraço.
Seja fervente, conte histórias, não tenha medo do ridículo, arrisque um sorriso, um bom dia, um obrigado que seja, uma caridade benfazeja…
Seja quente, saboreie um poema, um salmo, um bom livro que te espera na estante…
Se aqueça com o caminhar, com um abraço, com um ato de caridade, esticando a mão a quem caiu, abrindo a boca ao perdão, no exercício de acompanhar um solitário irmão!!!
Seja quente, goste de gente, natureza e dos animais…
E para que não sejas vomitado!!! Podes sim ser gelo, gelo para neutralizar a tudo que te põe para baixo, mas jamais deixai amornar sua alma, por isso, tenha um pouco mais de calma, mas jamais esqueça, seja quente!!!
Marcio J. de Lima
Guarapuava, 19/04/2018.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Pac-man


Acordei. O sol bateu em meu rosto, turvou meus olhos... Logo mamãe gritou: “Olha o café! Está na mesa!” Ouvi papai responder : “Já chego ai!” Ele estava no banheiro. Pus um pé para fora da cama. O corpo ainda permanecia deitado. Forcei um pouco e lá se foi o outro pé e o corpo se erigiu de todo, em um supetão. Meia dúzia de passos e o banheiro adentrei. Um banho rápido, tomei. Escovei os dentes, penteei meus amarelados cabelos. Troquei o pijama pela roupa que a mamãe preparou. Mais meia dúzia de passos cheguei à cozinha em que ambos os velhinhos esperavam-me para o café. O pedido de bênção aos pais, um beijo em ambos, ouvi atentamente os conselhos o dia – dos dois que me amavam, por isso se preocupavam comigo. Saí à janela, cumprimentei Lili com um afago na cabeça, que respondeu com um ardido latido de quem amava esse humano desajeitado. Lancei-lhe um pedaço de pão, mas preferiu mais um afago...
Voltei à mesa depois de lavar aos mãos. Olhei bem os olhos de ambos. Olhei atentamente ao meu redor. Queria que tudo isso aqui fosse em no mínimo 3D. Já estava cansado daquilo tudo tão quadradinho. Olhei a maçã que estava bem na ponta da mesa, provocantemente vermelha... Mas antes de tudo, comi meu pão com margarina, um pedaço de melão, tomei café com leite adoçado com aspartame. Mais um beijo na testa quente dos velhinhos. Comi a maçã. Dei um tchau. Abri a porta. Peguei logo aquela bolacha amarela que vovó deixou logo na saída da casa, na estantezinha de mogno que ganhou em seu casamento... Comi-a rapidamente.
Ao fim da esquina, piscava ele, um fantasminha azul. Assimilá-lo era minha missão. O último. A diante, fase 2. Uma ótima fase!
Marcio J. de Lima
Guarapuava, 12/04/2018.

Este momento 1...

  Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é m...