domingo, 25 de setembro de 2011

Amor e loucura

Onde eu olho
Só vejo o que
querem que eu veja.
Se enxergo a verdade
Teem-me como louco
e interno-me em mim mesmo.
Saio de lá para ser incompreendido
Saio de lá em busca de companhia.
Como em um labirinto caminho,
enleado em palavras plantadas
em discursos vazios,
pedras lexicais me aplacam,
cachoeiras semânticas procuram me afogar...
Quase submerso em aparências,
descubro teu nome, vens e me salva..
fiz-te musa, fez-te bela,
fizemos amor, e nasceu um lindo e
e sábio menino, ainda pequenino,
mas grande em essência, pusemo-nos o
nome de Hai-Kai.

Marcio J. de Lima

HORA DO ALMOÇO

Homem televisão (Foto: Kyle Thompson)
Cheguei em casa com uma porção de novidades (pelo menos para mim era, embora soubesse-as medíocres) para contar à minha esposa.
Ela na frente da televisão extasiada, sem nem piscar, sem ao menos me perceber. Dei um beijo nela. Ela com um olho em mim e o outro na tevê. Eu fui para mesa almoçar, todos já haviam almoçado. Ela na sala sentadona, na boa (como dizem os mais jovens). Da mesa perguntei se ela havia notado alguma diferença em mim. Resolvi devolver os motes de tantos xingões que havia tomado por não perceber quando ela cortava uns três centímetros do cabelo, mudava-o de castanho escuro para castanho um pouquinho mais escuro, e outras coisas a mais que servem de motivo para aquelas briguinhas de casal e, que sinceramente, o homem não percebe (a ciência deve explicar, senão o dito popular explica) mas, não é por maldade, é porque realmente não percebemos (pelo menos eu não percebo. Desculpo-me com aqueles que percebem e sobre a generalização). Então, como sempre maltratado por tal desleixo de observador, perguntei porque achei que se elas cobram tal capricho é porque são realmente observadoras e se ligam em tais detalhes. Acho que me decepcionei. E, ainda para dar um gostinho a mais apelei para o sentimentalismo barato, falei “E elas dizem que somos nós homens os insensíveis!”.
Havia cortado o cabelo. Lógico, que meu cabelo só aparece mais volume dos lados, em cima é quase que imperceptível, é mais ou menos (digamos assim) modelo palhaço Bozo. Mas ela deveria ter notado.
Ia contar a ela sobre minha manhã de serviço, sobre meus problemas, do trânsito, dos buracos das ruas agilmente desviados como se fosse motorista de rally, dos xingões dos apressadinhos mal-educados, dos números cada vez maior dos casos da gripe suína, dos chazinhos para preveni-la e outras coisas importantíssimas (pelo menos para mim como já disse).
Sentei-me à mesa sozinho. Nem meus piazinhos se sentaram comigo ou vieram me ver, assistiam em outro cômodo uma série daquelas de super-heróis robóticos que deixam umas lições incríveis de como a piazada deve se quebrar na porrada, pelo menos é o que eles fazem logo após assistirem tal série. Deve ser o efeito catártico...
Resolvi algo meio que suicida. Disputar espaço com a televisão. Gritei “viu algo diferente???” e ela “Onde?” Recuei momentaneamente, como um experiente estrategista, bradei “deixe pra lá” Pensei “daqui a pouco termina o episódio da tevê e ela vem me dar atenção. Criancice minha agir assim. Pura pirraça. Mas de vez em quando é interessante agir dessa forma. Fiquei a imaginar: eu um marido-tevê. Com um aparelho televisor na cabeça. Marido ideal. Falaria sempre algo interessante, teria sempre novidades de todos os assuntos, dinâmico, em cores ajustáveis ao gosto dela e de seu humor e combinações, não reclamaria, se reclamasse ela mudaria de canal, enfim um maridaço (vê o que é a dor da carência afetiva).
Continuei mastigando meus pensamentos. Uma colherada, uma pensada, para não misturar porque não sei fazer mais que uma coisa por vez.
Terminou o programa a que ela assistia. Ela vem sorridente e me pergunta “Que você disse?” Mastigando, mastigando, rindo com sorriso amarelo, verde, preto. Fechei a boca. Limpei meus dentes com a língua, um gole de suco. Respondi “Nada! Esqueça! Já começou o meu jornal? Não perco um”. Da cozinha enquanto ela lavava a louça, e eu assistia o jornal, ela me falou alguma coisa. Só não me lembro exatamente o que era.

Marcio J. de Lima
(12/08/2009).
Imagem obtida em:http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2012/08/criatividade-e-surrealismo-conheca-o-trabalho-do-fotografo-kyle-thompson.html

sábado, 17 de setembro de 2011

Toc-toc


Toc-toc
Quem à porta bate
Sem medo e nem vergonha?

Toc-toc
Quem à porta bate
Com gélidas mãos vazias?

Toc-toc
Quem à porta bate
Sem segredos e nem virtudes?

Toc-toc
Quem à porta bate
Órfão de sociedade?

Toc-toc
Quem à luz do dia
Arromba a porta sem piedade?

Toc-toc
Meus pés cansados
Não deitam a teimosa porta -
Toc-toc -
Que erigida resiste
Aos ventos de novidades.

Toc-toc
Quem à porta bate
Mais de mil vezes
Baforando em negações?

Toc-toc
Sem pé e nem cabeça
Meus versos ressoam...
Ao toc-toc
Do descabido esvanecer.

Toc-toc
Dói-me a mão
Toc-toc
Dói-me a face
Toc-toc
Dói-me o pensar
Toc-toc
Encontro Paz.


(Marcio J. de Lima)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Lumen

  Fotos grátis de Vela
Nos átimos em que nos
captura a solidão,

Existem pequenas luzes
que nos animam.

Essas luzes têm face e
voz...

Pirilampeiam, enxugam
lágrimas, têm ouvidos

Às vezes, têm até
boca...

A escuridão já não
assusta tanto,

O fragmentado sorriso
emenda seus pedaços.

Ô pequenas luzinhas...

Bendito seja o
candeeiro que as produziu.

Esses lumes respondem
pela graça de

AMIGO.



(Marcio Lima)
 
Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/vela-luz-igreja-escurid%c3%a3o-sombrio-2062861/

Labirinto (labyrinth)

Fonte da Imagem: www.letsfun.com.br

Eu me perdi no deserto
Momento tão certo em que procurava você...
Eu te encontrei nas flores, amores, buquês
e aromas que não esqueci.
Eu te senti nas estrelas, tão belas, nebulosas
No mistério de um rubro rubi.
Eu te esqueci nas praças,
sem graças, nos bolsos,
De meu paletó.
Eu me enrolei nas cordas
Nas bordas, nas águas que rolam dos Igapós.
Eu decifrei os versos
e os terços dispersos
rezados por sábias vovós.
Eu suportei sua lima,
sua rima, seus versos dispersos
sua língua dizendo, “te vejo até!”.
Eu acreditei nas loucuras
Rasura da história
Nas glórias vazias de falsos heróis.
Enfim acreditei que você me amava
E o gosto amargo me fez ver
que viver é descobrir,
Que o que se parece com prece
às vezes carrega
um imenso vazio.
Que meu apego ao sossego, conforto,
tem um preço
que às vezes não posso pagar.
Que minha moto
tão velha
No asfalto me traz liberdade.
Que o dinheiro,
um carro maneiro
sem minha família
É prata tão rota
Fome sem saciedade.
(Marcio J. de Lima)

Este momento 1...

Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é mei...