sábado, 29 de junho de 2013

O PROTESTO


Com a onda de revolta contra tantas mazelas sociais, o povo saindo às ruas para protestar por tantas coisas mais que justas, minha tia motivada por isso também resolveu protestar. Viu que só quando há protesto é que muda alguma coisa – (in) felizmente é esta a realidade.
Pois é... ela diz que meu tio é um tirano e que não escuta sua voz. Embora o meu tio só tenha voz para dizer “Sim amô!”. Dias atrás minha tia resolveu comprar uma bolsa nova e meu tio a alertou que seu salário não subira muito e que a inflação havia comido parte do que ganhava e já não aguentava fazer hora-extra em seu trabalho e almoçar pão com mortadela – se bem do jeito que a coisa anda só vai almoçar pão. E isso foi a gota d'água e desencadeou uma reação muito... muito... do tipo da minha tia – um jeito particular de sentir ódio que não sei explicar.
Então as reivindicações de minha tia eram: 1) ser mais ouvida; 2) ganhar uma mesada mensal que desse para fazer suas compras pessoais, pois não tem salário e se dedica exclusivamente aos afazeres domésticos; 3) ter pago seu INSS para um dia gozar de aposentadoria; e o quarto e mais nevrálgico ponto 4) levá-la às compras no final de semana, pois não aguentava mais a dor nas varizes ao carregar suas compras nos ônibus lotados, além da longa espera no ponto de ônibus.
Meu tio pensou em criar uma comissão para ouvir minha tia. E foi o que fez. Chamou seus cinco filhos e nomeou o mais novo de oito anos e o mais velho de quinze para participar da análise dos pedidos. O mais novo pediu mais explicações para a sua irmã do meio do que era salário, INSS e não entendia porque seu pai não levava sua mãe de carro, pois ele ficava na garagem a maior parte do tempo.
Depois de um longo debate depois de alguns dias nas lan houses para pesquisarem o tema e chegarem a algumas conclusões, continuaram os trabalhos, pois o mais velho não queria conversar a respeito – não tinha muita paciência com o mais novo - enquanto ele não soubesse o que estava em pauta. A comissão ficou com a análise por uns vinte dias, o que levou minha tia a protestar novamente deixando toda a criançada sem almoço por dois dias. Depois da irmã do meio fazer o almoço nesses dias - colocou mais celeridade ao processo. Resolvido o impasse a comissão deu continuidade aos trabalhos, com dois pedidos de queda do representante mais novo, por desídia, o que foi indeferido por maioria em uma plenária com a participação de uma maioria absoluta em que até a interessada, minha tia, votou.
A votação tinha sido tensa. Minha tia acordou muito nervosa no dia seguinte. Criou alguns cartazes e colou por toda a casa. A frase mais marcante foi “Não sou escrava Zé! Tenho meus direitos!” Todos viam a preocupação na cara de meu tio. O mais novo até ficou com dó de meu tio por sua cara de “gato de botas no filme do Sherek”. A minha prima do meio era toda mãe – até a ajudou na confecção dos cartazes. O mais novo esboçou uma argumentação quase que ensaiada – ensinada às escuras por meu tio, o que foi refutada pela brilhante atuação de minha prima (do meio).
Chegou o grande dia. Depois de acalmado o plenário. Deu-se início a votação. A minha tia ganhou por maioria absoluta. Todos apoiavam a minha tia, até meu tio, indiretamente. Todos diziam o que não deve ocorrer nesta casa é baixaria, e todos concordavam com isso, embora algumas vezes os ânimos tenham se exaltado.
Dois meses se passaram... minha tia está feliz. Ela conseguiu ser mais ouvida. Mas ainda não teve paga nenhuma parcela do INSS, ganhou no lugar da bolsa, uma sacola ultraecológica para as compras, com um fundo retangular para parar em pé no ônibus e; meu tio justificou por que o carro não saía da garagem... estava estragado, o dinheiro do mês ainda não foi suficiente para consertá-lo.

(MARCIO J. DE LIMA)

blog: devaneiosliterariosdolima.blogspot.com

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O MERCADOR DA LIBERDADE



Ela estava ali imóvel. Muito bem embalada, com o preço à altura do pescoço. Um slogan bem atrativo em sua camiseta. A embalagem valoriza o produto. A aparência era tudo. Estava limpinha. O perfume era bom, uma fragrância agradável que não irritaria o cliente e quem não passaria despercebida. O produto bom tem que ter um cheiro agradável. Ao seu lado estava um outro produto sendo exposto, tão bem produzido quanto ao primeiro, com todas as características de aparência do lote, mas diferia-se pelo gênero.

Vários consumidores passavam pela vitrine com olhares cobiçosos. Uma boa olhada nos produtos, outra nos preços e com sorrisos decepcionados seguiam. Todavia, permanecia em seus olhares uma indisfarçável cobiça, e mais um sonho a ser realizado.

Como o mercado estava aquecido não demoraria muito a serem arrematadas, essas ricas joias. Eles certamente seriam vendidos! Mas, diferente de tudo que a loja possuía, nesses dois espécimes havia consigo a opção – antes de estarem ali - de aceitarem ou não serem vendidos... Estavam ali usufruindo o resultado de uma das coisas mais belas que lhes havia sido entregue, o livre arbítrio.

Quem desperdiçaria tal negócio? Produtos de primeira. Por isso não duraram mais que – para eles quase que infinitos – quinze minutos para serem vendidos, logo após a exposição. O negócio foi bom para o proprietário da loja. Ambos foram vendidos pelo preço de etiqueta. Sem pechincha, sem barganha. O comprador só não tinha visto os olhos dos dois, pois estavam vendados.

Ao chegar em sua casa o comprador, com toda paciência que os anos foram responsáveis de presenteá-lo, tirou as vendas, desembalou-os e os recepcionou com fraterno abraço. Deu-lhes alimentos, ofereceu-lhes abrigo – caso desejassem.

Ambos estavam a sua frente atônitos, nem imaginavam - por não terem recebido em suas vidas - a razão de tamanho afeto. Resolveram nada indagar. Pois no contrato de compra e venda não estavam as opções de emitir juízo, nem indagar. O comprador falou: “paguei o preço por vocês e a partir de hoje vocês estão livres de suas amarras... vocês não são mais produtos, poderão emitir opinião e gozar do prazer da contradição, além disso poderão falar, reclamar, enxergar um mundo novo, amar, chorar e fazer tudo que desejarem... o limite será o infinito que se aponta aos seus horizontes. Sigam seus caminhos – se isso for de seus desígnios – sigam seus caminhos...”.

Sem nada mais a dizer, somente segurava um sorriso tendo sua voz presa pela emoção, lágrimas corriam pela sua face.

Ambos olharam fixamente o bondoso homem, sem ainda nada entender. Saíram lentamente à rua... Olharam para a humilde casa onde residia o comprador, a qual situava-se em uma área central e possuía um enorme terreno. À frente da casa estava um homem recolhendo uma placa de “vende-se”, era o homem da imobiliária.

O casal ainda continuou a caminhar lentamente na calçada, esboçaram um sorriso, esboçaram um entristecer e entraram sem pudores em uma outra loja. Ofereceram-se novamente a uma nova promoção. Mas agora tudo seria diferente, pediram para que seus olhos não fossem vendados.



(Marcio J. de Lima)


domingo, 16 de junho de 2013

SONORA BRASIL -SESC - QUARTETO BELMONTE



  





































 
Entrada Gratuita - Retirar convites antecipadamente




SESC Guarapuava

Rua Comendador Norberto, 121  |  CEP 85010-140 |  Guarapuava - PR
Tel: (42) 3623-4263 

www.sescpr.com.br



sábado, 15 de junho de 2013

Pobre poesia...

Menina entristecida
Ao canto jogada
Sem verso, Sem rima,
Sem gosto, Sem nada...
Outrora latente
No bolso da Amada...

Quisera fazer-te feliz,
Ecoar na praça
___Sonora...Ladina___
Mostrar sua graça,
E sua essência -
O amor numa taça...

E eu desordeiro
A desarrumar seus cabelos,
A roçar os seus lábios,
Eriçar os seus pelos,
A mudar seus caminhos,
Felizes fazê-los...

O calor na face,
Caneta à mão,
A parafrasear os seus versos
Com meu coração...
Ao tilintar sua força, seu mote,
Tristeza, se foi no bordão...


(Marcio J. Mendez de Lima)

domingo, 9 de junho de 2013

HÁ TANTO DE MIM EM TI...


( * )

Há tanto de mim em ti
Que às vezes te me confundo.
Sinto-te tão minha
Mas, sei que é confuso
Que o homem
Quando é profundo
Se perde em seu mundo...
Perde a lucidez
Embrenha­-se em florestas
Em que ecos distantes
Tolhem seus sentidos...
Pensa­-se lúcido.
Todavia o que vê
É o incompreendido sonho de outrora
Que engatinha,
Logo caminha...
E... vai embora...
Logo recobra a memória
E, vê que o que vale
É a pena que pinta a folha
Pra descrever o que compôs
Sua rica ou pobre história.
 

Marcio J. (Méndez) de Lima
(06/03/2009).


( * ) imagem obtida em: http://oqueeh.com.br/10-frases-bonitas-e-curtas

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Onde está a Musa que enfeita minhas lembranças?

  Fotos grátis de Multidão
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Onde está a linda Musa que enfeita minhas lembranças? Onde estão os versos que povoam os meus sonetos? Onde está a indignação que recheia algumas de minhas crônicas? A que fim levaram minhas rimas, minhas limas, meus desesperos e desencantos; que, emprestados, colorem minhas criações? Oh Musa que inspira os poetas! Que os conduz ao onírico mundo de muitos poemas... Em que ilhas fostes habitar para que eu possa te visitar? E, oferecer-te um copo de vinho suave, e, com voz caliente possas contar-me de seus amores, de suas aventuras e das lembranças que vivestes... Oh Musa, onde deixastes aprisionados meus versos? Com que esfíngica chave trancastes meus tesouros? Pois tão paupérrimo não consigo saldar o preço nem ao menos de um hai kai... Quando retornarás? Quem sabe à proa de um barco à deriva estejas tu, oh Musa... ansiosa a esperar pelo socorro de seu amado ... E quando ele vier te salvar, quiçá mais uma história com ele possas compartilhar, e ele por generosidade possa conosco também compartilhar. Quem sabe em seu enredo haja uma nova Odisseia, ou ao menos, um novo modo de amar... nem que seja ao embalo de uma sonante voz a encantar por no mínimo mil noites...



(Marcio J. (Méndez) de Lima)
 
Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/multid%c3%a3o-pintura-museu-exibi%c3%a7%c3%a3o-7810353/ 

TAEs na luta

O blog devaneios literários do lima apoia a Greve dos Técnicos Administrativos em Educação das Instituições de Ensino Federal. Por uma Educa...