sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Chapéu velho jogado aos cantos



Hoje meio que chapéu velho jogado aos cantos sigo...
Não me importo, poderia ser bem pior...
Poderia seguir sem o olhar pelo menos de um amigo...
Ter a impressão de que nada valeu meu suor...

Chapéu velho jogado aos cantos...

Nem que seja à peleja vã...
Supero os caminhos tortuosos que (às vezes) são tantos...
Mas (sôfrego digo:) da dura lida sou fã...
E assim sigo...
À luz amiga da lua nos campos em flor...
Tendo o sol como companheiro...
E a insistente saudade de meu amor...
Assim sigo...
Como um chapéu velho jogado aos cantos...

(Marcio J. de Lima)

#poema #literatura

BOTECO

Ali seu mundo.
Chamam-no de João. Mas para ele tanto faz. Mal não faria se o chamassem Raimundo, Beltrano, Sicrano ou até mesmo José.
Pé de Boteco cravado em uma rodovia qualquer – fachada velha, ares decadentes, risadas soltas, conversas repetidas, lorotas cambaleantes, fígados rotos, famílias em frangalhos – esse era o locos amoenos de meia centena de trabalhadores a fugir da realidade familiar, do trabalho, da crise social, da crise da comunicação, da crise mundial; ali tudo se podia, tudo se fazia, tudo se resolvia.
“Desce mais uma!” e a conversa corre solta.
“Ele é bom!” dizia o moreno sentado ao canto solitário do extenso balcão – elogiando, talvez seu distante amigo imaginário de outrora.
Os causos que a todos faziam rir esgotam-se com a luz do vaga-lume na sombria noite de lua nova.
As aventuras são as mesmas desde que à primeira vez pisou naquela tortuosa casa de álcool e smoke.
Ao esvaziar-se o último copo, João paga sua dívida com a palavra. E o bar o cospe passando por suas tortuosas escadas movediças e voadoras.
O pé nas nuvens, ainda a escutar seus amigos imaginários.
Segue para sua segunda casa. Lá, mais do que nunca: rei. Bate à mesa. Ruge. Cospe-se. Reclama-se. O lampião já não lhe serve, pois seu líquido queima-lhe a garganta.
Os guris? A amada? Sem brincadeiras, sem poesia, sem o quente beijo.
“Onde aprende essa língua?” – reclama a esposa.
“Como é engraçado o papai, mamãe. Sempre nos traz doces. Como ele é bom!”
E o céu acende mais uma centelha de esperança. O dia pula cedo da cama.
Acende-se o fogão velho. O café e o pão surrado na mesa. O lombo surrado de um honesto trabalhador, na cadeira. O velho beija sua rainha. E com um olhar arrependido clama a Deus um golpe de misericórdia “despeja-me Senhor de minha primeira casa!”
(Marcio J. de Lima – 02/12/2010).

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/solit%C3%A1rio-homem-chorando-sozinho-1510265/

(Lima, Marcio José de Lima. in Pessoas são livros que andam. Guarapuava-PR, Amazon:2016)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Aula de Desenho do Angelo Gabriel (Releitura)


Autor da Releitura: Angelo Gabriel (artista mirim). 
Trata-se de  uma releitura praticada em aula de pintura (óleo sobre tela). 
Poesia em forma de pintura.

Disfonia Amorosa

______Gritei por vós,
_____Fiquei sem voz.
_________Amor atroz.


(Marcio J. de Lima, 26-07-2011)

ARRISCAR


Acordei com uma vontade imensa de mudar!
Não posso mudar muito, então mudarei o que posso, e procurarei aceitar o que não posso.
Começarei por meus cabelos, deixá-los-ei crescer, mesmo tendo-os pouco.
Vou arriscar quebrar meus preconceitos,
Deitar-me embaixo de uma árvore, apreciar a luz do sol sem medo de ser ridículo.
Vou surpreender meu vizinho com um sorriso,
Minha esposa com um beijo,
Meus filhos com desejo de bênçãos.
Vou ser feliz, eu mereço, ou tenho quase certeza.

Você não me sorri hoje, não importa,
Desejo-te felicidade, quem sabe amanhã rsrsrs...

Quero o açúcar dos lábios de meu amor, nem que para isso tenha que lhe oferecer em um ensolarado dia, caldo-de-cana.
Quero o salgado do mar no verão.
Quero o voo livre dos pássaros.
A brisa batendo em minha face, viagem...
Quero novos caminhos, novos sabores,
O mesmo amor escondido em mil amores.
Quero ter o prazer de errar, só para acertar-aprender,
Poder ter o que agradecer, e agradecer mesmo tendo pouco a agradecer.
Quero prazer de um sorvete na praça,
Ler um livro bom. Fazê-lo amigo...
Quero ver a face de Deus nas rubras faces pueris, e respeitar a sabedoria inocente das crianças... quero saber ouvi-las...
Quero simplesmente viver e ver viver
Aqueles que desejam muito isso de coração.
Não posso mudar muito, mas nós quiçá?

Este momento 1...

  Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é m...