quinta-feira, 26 de julho de 2012

Saudade do avô

Devaneios Literários do Lima: Saudade do avô: Seguia. Não sabia bem ao certo aonde ir. Aquele dia acordara muito cansado. Sua cabeça doía. A lembrança de alguém que amava brotava. Era,...

Saudade do avô (miss grandpa)

Mulher, Novo, Velho, Espelhos

Seguia. Não sabia bem ao certo aonde ir. Aquele dia acordara muito cansado. Sua cabeça doía. A lembrança de alguém que amava brotava. Era, de certo a de seu avô. Pensou... era ele sim que fazia falta naquele momento. Há muito partira. Mas... algumas histórias permaneciam vivas. O vô homem forte, de sonhos duradouros, de muitos planos. Por que se fora? Havia muito a aprender com ele. Havia muito a dizer a ele. Estava cansado. Seus movimentos não estavam produzindo vida, ao contrário a cada dia esvaziava-lhe cada vez mais. O vô saberia como fazê-lo viver mais, aproveitar seu tempo, ou pelo menos fazer entender o cansaço que lhe pesava tanto e seu porquê. Pensou, sentou no banco da praça, ficou a curtir profundamente a saudade de quem amava tanto, ele de certa forma estava ali - certamente - vivo nas lembranças e em seu coração.

Marcio J. de Lima
 
Imagem obtida em:  https://pixabay.com/pt/photos/mulher-novo-velho-espelhos-4331973/

domingo, 22 de julho de 2012

Uma Noite Solitária

Imagem obtida em: http://jorgebichuetti.blogspot.com.br/2012_08_01_archive.html
 
_______O vento batia violentamente na parede da velha
casa. Soprava uivante como lobos em noite de
luar. Os trovões, os raios e os relâmpagos se sucediam
em um espetáculo assustador, pelo menos para
as mentes daqueles que não possuíam uma alma
pura para enfrentar o medo proporcionado por uma
apocalíptica noite. Logo começou a chover. O vento
se exaltava cada vez mais, trazendo consigo os
primeiros pingos violentos daquela que seria uma
tempestade dantesca. Ramiro assustava-se com tudo
isso. Os galhos das árvores batiam na parede, no telhado;
dava-lhe a impressão de que alguém tentava
derrubar a casa.
Ramiro sempre ouvira as histórias dos mais velhos
a respeito das pessoas que foram atingidas por
raios, por isso tremia freneticamente de medo como
se fosse uma apavorada criança, embora estivesse
com dezessete anos. A cada raio, pulava. Estava sozinho.
Seus pais haviam saído ver seu tio, irmão de seu
pai que se encontrava muito doente.
Seu tio era para ele um herói, contava muitas
histórias de viagens, de passeios, de fantasmas
e de lendas de tesouros escondidos. Narração que
vinham seguida de uma vivacidade pungente, que
o emocionava arrancando sensações mais puras e
verdadeiras que somente os narradores mais eloquentes
conseguem.
Vinha-lhe à mente a história do velho João, que
seu tio sempre comentava como testemunho de que
a alma é imortal e, o corpo é um simples abrigo desta.
Dizia ele que na noite em que o velho João falecera
escutou um barulho, como se algo tivesse caído. Foi
ver o que era. Caminhou pela casa toda e tudo estava
em perfeita harmonia, tudo estava em seu lugar.
Sentiu um frio correr pelo corpo inteiro, mas dizia
ele a si mesmo que estava tranquilo, “era uma reação
natural dos nervos!” Voltava à velha poltrona. Lia um
livro de contos de Edgar Poe. Julgava ele que tais sensações
eram geradas pela temática dos contos lidos.
Após alguns minutos, novamente ouviu alguma coisa
cair, desta vez a intensidade do barulho era mais
alta e, dava-lhe a impressão de que caiu no piso da
cozinha. Pensou... “É ladrão”. Pegou a vassoura que
se encontrava perto – era só o que se encontrava por
perto e podia defendê-lo naquele momento pensou -
e caminhou sorrateiramente. O coração em batidas
violentas parecia que sairia correndo e deixaria quem
dele precisava. O suor em seu rosto vertia como água
salobra dos gêiseres. Tentou acalmar-se um pouco e
planejava o ataque. Talvez contra um ladrão. Apro77
ximou-se da porta da cozinha e pela fresta observou
lentamente, mas nada viu. Caminhou pela casa toda
e nada percebeu de anormal. Tudo em seus lugares.
Olhou pela janela e tudo estava bem. A curiosidade
o assombrava. Queria saber o que era. Interrogava-
-se, levantava hipóteses do que podia ser. Sentou-se
à mesa da cozinha, ficou a refletir, pensou em rezar.
Às primeiras avemarias, escutou o telefone tocar. Uma
voz baixa e triste de uma mulher lhe disse: “meu irmão
se foi. E, como você era muito amigo dele, lembrei-
-me de ligar a você.” Tudo isso lhe vinha à memória.
E o pavor era cada vez maior. Falava baixinho “meus
pais, meus pais”...
“Não sei por que as coisas que nos amedrontam
parecem imperceptíveis quando estamos com nossos
pais”, pensou Ramiro. O vento soprava, parecia-lhe
cada vez mais forte dando-lhe a impressão de que
a velha casa construída há mais de cinquenta anos
não aguentaria. Interrogou-se se poderia gritar para
espantar o horror. Pensou “estou sozinho, e as casas
vizinhas ficam no mínimo a dois quilômetros”, pois
morava em uma chácara. E, em um ato de desespero
berrou. Berrou como o pobre personagem Eurico o
presbítero - que se atirou em um ato insano contra um
exército sarraceno que o perseguira com o intuito de
como algo digno dos grandes heróis, ou como o silêncio
que prenuncia algo pior a acontecer.
Ouvia a chuva, e, de certa forma, começava a se
acostumar. Já o vento não soprava tão forte, e os raios
já não eram despejados com a mesma frequência.
Ramiro mirava o retrato de casamento de seus pais,
contemplava a face de ambos, sentindo a saudade dos
solitários ermitões. Relembrou da noite anterior em
que seus pais o aconselhavam para melhorar suas notas
escolares.
Num abrupto instante, escuta um estrondo –
como jamais ouvira antes -. Algo precedido de uma
imensa luminosidade que tolheu seus sentidos. Sentia-
-se como se estivesse gritando apavoradamente, tudo
brilhava ao seu lado. Sua visão não oferecia nitidez que
dá ligação do real, do lógico, ou do possível para nossas
mentes racionais. Era um sonho, um devaneio, talvez o
mesmo que sentiu Dante Alighieri quando viu tais céus
e infernos, como ele mesmo afirma ter visto com os
olhos humanos maravilhas e horribilidades que a mente
depois se esvai na tentativa de relembrá-las...
Tudo se distorcia. A porta já não estava no mesmo
plano em que se encontrava. Estava ela para ele
à distância, era como se estivesse bem distante, talvez
no horizonte, e sua magnitude era como se fosse
a porta celestial. Gritava ele, mas o som que saía
parecia aos seus ouvidos algo incompreensível, quase
inaudível; afinal ele nem sabia para quem gritar e o
que gritar. A porta se aproxima dele. Como algo que
vem automatamente, como a vida dos humanos, ou
como o movimento das máquinas. Não sentia suas
mãos, que aos seus olhos pareciam disformes, ora agigantadas,
ora minúsculas. Seu coração batia em um
ritmo descomunal, como se lhe fosse sair do peito. A
saudade batia juntamente com seu peito num frenesi
desvairado, galopava em sua frente sua fé com algo
que ele acreditava, mas há muito havia esquecido –
pela correria do seu quotidiano, ou pelo desleixo dos
afazeres fúteis -.
A porta se aproxima muito mais. Alguém saiu de
lá, não se apresentava nitidamente. Fecha-se a porta.
Abre-se novamente e mais alguém sai de lá. Ambos
revestidos de muito mais luz que o seu ambiente atual,
que já se encontrava aparentemente muito iluminado.
Ramiro agora, sente-se correr para a porta em
uma i-n-f-i-n-d-á-v-e-l correria, num caminho tranquilo
e já não tão assustador. Olha mais para as pessoas
que se aproximavam dele e, percebe-os um homem
e uma mulher. Chega mais perto. Suas pernas amolecem
e ele cai. Quando olha para perto de si observa
duas sandálias e logo mais duas e, ouve uma voz doce
e suave que diz em coro “meu filho”. 
(FIM)


(Do livro Devaneios em Prosa, UNICENTRO, (Lima, 2011, p. 71-79)).




(Marcio J. de Lima)

Texto publicado no Jornal Correio do Cidadão (Guarapuava):

https://www.correiodocidadao.com.br/noticia/uma-noite-solitaria

Eu e eu mesmo


Uma manhã há algum tempo atrás em que o sol iluminava as árvores, as casas, as pessoas e tudo mais. Aconteceu-me algo inesperado e que muitos teriam por mentira... mas às vezes até eu penso se isso foi real ou imaginário. Mas... vamos ao acontecido. Encontrei-me por acaso... sim era eu mesmo... só que alguns anos mais velho. Olhei-me para mim mesmo (se é que existe tal construção...) de forma surpresa (aliás confesso tentei fazer heroicamente parecer tudo normal). Nós, meros mortais resistimos acreditar em absurdos... foi o que ocorreu... disse para mim “não está acontecendo” e isso me ajudou a não acreditar (pelo menos para aliviar a tensão e me enganar que não estava acreditando). Portanto... para mim isso não estava existindo... então relaxei e pude me observar com um pouco mais de idade... 

Eu-futuro estava bem. Quando este fato se sucedeu, eu tinha uns 18 anos e meu eu-futuro, digamos que estaria com uns 37. Tinha a mesma fisionomia, estatura, um pouco mais de peso, cabelos escuros... Olhamos-nos. Não nos falamos nada. Creio que ele deve ter estranhado como eu mesmo estranhei tal fato (mas acho que meu eu futuro já havia ignorado o passado – tudo bem, pensei). Todavia... agi como se tivesse acostumado a sempre me encontrar por aí... ele também, talvez estivesse... Para não me constranger mais do que já estava constrangido, e quem sabe constrangendo. Afastei- me. Olhei-me um pouco mais... desejei-me silenciosamente boa sorte. E me distanciei. Hoje tenho a idade aproximada em que me vi com 18 anos. Só uma coisa não bateu, deve ter sido algum defeitinho na linha do tempo, hoje sou calvo. Coisas que só o tempo mesmo explica, um dia vou entender. Quem sabe!?

Marcio J. de Lima

Imagem obtida em:http://www.jornalfolhadoiguacu.com.br/?cat=23

domingo, 8 de julho de 2012

A LENDA



Na clareira uma alegre festa à luz dos lampiões.
Amantes se embalam ao som do violão.
Noite de lua cheia.
Um moço com olhar apaixonado mira uma linda moça de olhos azuis que acompanha a só os balanços de uma noite festiva.
A moça ao aproximar da meia-noite, olha a escuridão e corre sorrateiramente para a mata.
O moço atrás sai com passos ligeiros a se preocupar com a forasteira que ao primeiro olhar se apaixonara.
No escuro, um barulho... uma fera. Ao ver dor moço, atacara sua pretendida.
Sem nada entender e, a pronto, saca de sua arma.
A fera da moça se aproxima, olham-se. A moça chora silenciosamente e como as águas do Amazonas, nesta noite de lua cheia, brilharam suas lágrimas.
O moço no vão das árvores, atentamente, com receio de provocar de vez a ira do monstro e ele atacar sua vítima, observa e espera o momento certo.
A luz da lua a brilhar, mais resplandecente do que nunca, brilha no Gigante Amazonas oferecendo um espetáculo sem igual. Para o moço, aquele momento era apavorante; para natureza, algo incomum...
A vida pede socorro; o amor intenta vencer preconceitos, o ódio de outrora, o ciúme que destrói, e a maldição que aprisionou um amor em segredo que revoltava a todos.
Um pedido insano da separação, justificativa impensada-insensata: o pobre e o rico... inimigos de sangue... inimigos de idéias... inimigos daqueles que padeciam... talvez uma provável esperança da paz... mas que não era desejada.
A dor aprisionou, mas o Amor ainda resiste...
O valente moço atônito, naquele momento que parecia eterno, solta o fogo de sua arma, que como vaga-lumes, alcança insanamente a Suçuarana que cai ao chão.
A moça com o desespero dos amantes enlouquece aos prantos. Desmorona-se em lágrimas ao lado da fera que padece.
A fera, agora quase homem, despede-se da moça com olhar suplicante. A moça segue para o rio... olha para trás... vê seu amado em seu último suspiro e, já não mais caminha... levita-se nas asas da misteriosa Mãe-d’água, meio ser fantástico, meio mulher... despede-se.
Do valente moço, ninguém mais sabe nada.
Mas, muito se fala da viúva-moça que às noites de lua-cheia chora em águas límpidas a falta de seu amado.

(11/06/2008).

(imagem obtida em: http://559pm.wordpress.com/2010/12/02/sucuarana-onca-parda/oncaparda/)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Devaneios Literários do Lima: Charge 1 (de cabeça para baixo)

Devaneios Literários do Lima: Charge 1 (de cabeça para baixo):                                                                        Desenho de: Angelo Gabriel                                       ...

Charge 1 (de cabeça para baixo)

                         
                                            Desenho de: Angelo Gabriel
                                            Texto:           Marcio J. de Lima

Devaneios Literários do Lima: Você

Devaneios Literários do Lima: Você:  Você,                Luz que          Rasga minhas       Manhãs,   Pele de açucena          Boca de   M aç ã.   (Marcio J. ...

domingo, 1 de julho de 2012

Soneto: Meu amor, que de longe imaginado



(Este soneto é um fragmento do conto "Sinestética: um amor em um momento" do Livro "Devaneios em Prosa" (Lima. Editora UNICENTRO, 2011) em que a personagem Siné dedica-o ao seu amor Maxi). 
A todos os leitores do blog uma boa leitura!

Meu amor, que de longe imaginado
Pensava existir somente em estrela
Distante, outrora só em meu fado
Acendeu em mim, da esperança, a centelha.

Emaranhei desejo não gozado
Em gotas de orvalho na lapela
Nunca havia deste mel experimentado
Sinto-me agora tinta em sua tela.

Controlava, o pecado, meus conceitos
E você, meu amor, os olhou se quer
Com carinho ignorou meus defeitos

E com amor selou uma mulher
Que jamais sonhara tais deleitos
Que docemente em minha vida se fez mister.

TAEs na luta

O blog devaneios literários do lima apoia a Greve dos Técnicos Administrativos em Educação das Instituições de Ensino Federal. Por uma Educa...