quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Curucaca…

O menino olhava aquela ave. Escura. Estranha. Ao virar-se, percebeu que tal ser carregava em seu bico curvado, uma batata. Tenta tirá-la. Não alça voo. Não come. Para a fitar os olhos do menino. Olhos escuros, fixos, obtusos… O cachorro que vira o lixo, empanturrado não vê ameaça, não vê perigo, para em frente a esse ser lustroso. Ambos se admiram. O menino cobiça, pedindo ao pai para levar para casa a avezinha. O pai somente ri. A mãe extasiada com o lixão passa um scanner em tudo analisando a epopeia lixeana de um herói com uma batata ao bico. Morrerá ali? Anatomia de voos improváveis, estridência ao migrar, possíveis choques em pássaro de aço, talvez não mais… Enquanto definhar, ali será feliz, pensou… O menino, após encantar-se com o pássaro, queria levar embora as contaminadíssimas abóboras desavisadas que nasceram por ali… Ninguém por perto… Ninguém que coubesse de fato na epopeia de um novo herói, a não ser aquele que queria abóboras, curucacas e achava tão poético aquilo que seria um sopro metanoide em um lixão qualquer…

(Marcio J. de Lima)

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/curucaca-ave-interior-passaro-1707038/

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