Do nada...
Assim escorreu-me pelas mãos este poema.
No princípio,
Tinha gosto e cheiro de nada.
Translúcido tal como a água...
Mas, não era poema aquático,
Nem criaturas marinhas nele habitavam.
Era um poema desavisado, daqueles que nascem ao acaso.
Eram somas de tantos sonhos, vontades, resultados...
a me lembrar da brevidade de nosso passar aqui.
Era só um poeminha descuidado escorrido para me
avisar de coisas essenciais, tal como o perambular
as ruas de meu bairro, os recônditos de minhas
lembranças pueris...
Era para me alertar de não
perder utopias, para a necessária caminhada.
Era um poema, daqueles desajeitados, sem rima,
sem métrica, sem o mergulho estético, por que não?
bagunçado...
Esse poema eram minhas vontades tão estranhas,
dormentes, decadentes, combustível às minhas asas...
Era um poema perambulante, sedento de casa,
de uma boa sopa quentinha, de um beijo acolhedor...
Esse poema tinha carne, tijolo, estrada e muita,
mas muita flor...
Esse poema que me escorreu era um pouco de mim,
quiçá? um jardim...
Quiçá, um coração em flor...
Quiçá, um coração sedento de amor...
Quiçá?
(Marcio Lima)
Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/cora%C3%A7%C3%A3o-amor-sol-570962/