sábado, 26 de novembro de 2011

sem que dizer (without what to say)


torci que os versos que se faziam pesados na caneta corressem-me como águas no riacho: límpidas, ligeiras, longevas. a noite inteira a esperar e nem mesmo a imensa, alva e bela lua conseguiu desvelar a penumbra que ofuscava minha inspiração. nem o carinho da mãe ao filho na praça me emocionou a ponto de reproduzir em letras ordenadas; uma ode, um soneto ou um simples verso; tão singelo e puro amor. nem mesmo a dor do abandonado à  sorte me levou ao  ideal mundo para trazer em rimas seu consolo e pão. o que houve? esvaziou-se meu peito? intimidou-se frente à imensa obra já dita desde os primórdios? minha composição tornou-se obra microscópica frente ao reconhecimento da maestria dos ícones de outrora? simplesmente me perdi em um labirinto, em palavras e orações... sim... reconheci-me pequeno... reconheci-me ignorante. por não saber (o que escrever), despeço-me brincando de rabiscar sonetos em patas de grillus, por não ter nada a dizer; frente a este tudo fantástico (e quase) intraduzível denominado Universo.

(marcio J. de lima)

Imagem: quadro do artista mirim Angelo Gabriel. Óleo sobre tela.

Texto publicado no jornal Correio do Cidadão. Confira!
https://www.correiodocidadao.com.br/noticia/sem-que-dizer

2 comentários:

Este momento 1...

  Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é m...