domingo, 1 de março de 2020

O ÊXTASE DA SANTA TERESA D’AVILA E A ESCULTURA HOMÔNIMA DE BERNINI, IMPRESSÕES



(O ÊXTASE DA SANTA TERESA D’AVILA, ESCULTURA DE BERNINI)
            O presente tem como objetivo repassar ao leitor, a impressão absorvida pelo autor, a partir de duas obras distintas, mas que pode haver várias tantas que podem ser inspiradas pela beleza estética de ambas. Para tanto, efetuou-se uma leitura a fim de se obter algumas impressões sobre as mesmas, sendo elas: i) o texto de SantaTereza DÁvila em que descreve o prazer sentido quando um anjo muito belo lhe aparece e a desfere em seu peito uma lança de ouro, com uma ponta de fogo, a qual sente muita dor, todavia, contraditoriamente, a dor se converte em prazer, e quando o anjo a tira, sente todo o amor de Deus. E, ii) a obra de Bernini, artista italiano, que esculpiu em mármore, durante cinco anos (1647 - 1652), uma obra que retratasse o já relatado êxtase dessa Santa.
A escultura, possui traços barrocos, de formas alongadas e excesso de expressão nos personagens envolvidos, elementos típicos das obras do século XVII; e o contraste do frio mármore e a ausência das cores fortes, fatores que não são muito típicos desse momento histórico. A própria descrição de Santa Tereza sugere o confronto de tais elementos, quando contrasta a dor com doçura excessiva da mesma, Essa dor, é descrita como enorme, no entanto, quem a sente não quer livrar-se dela, bem como nela sente um imenso amor vindo de Deus.
A presença da Igreja era muito grande nesse período– (séc. XVII), e o contraste entre as coisas terrenas e divinas eram motes artísticos usados para catequização através de obras com movimento e expressão, beirando a representação teatral, mesmo nas esculturas.
Talvez, uma das leituras possíveis, ao fiel, seria o contraste das provações mundanas dos prazeres de forma geral; que teriam como finalidade chamar a atenção do interlocutor para o aspecto temporário delas; com o “êxtase” ou gozo da dor sofrida pelas coisas do alto, ou divinas, de amor a Deus e ao próximo, como a doação incondicional a eles.
Esse contraste também pode ser remetido à frase do famoso orador Sêneca, contemporâneo do Apóstolo Paulo e de Jesus Cristo, quando proferiu “Ignis probat aurum”, que significa que o fogo prova o ouro. Ou seja, o homem fiel a Deus sofrerá todas as provações e sofrimentos em busca do paraíso divino, prometido a ele através das escrituras. O que remeteria, também, a dois elementos presentes na narrativa da Santa Tereza, ao representar o canal de amor a Deus, ou seja a lança de ouro com fogo na ponta.
O drama das coisas mundanas, do jogo da riqueza e poder - que geram injustiças - foi vivido por Sêneca, que pregava a renúncia dos bens materiais e a contemplação a Deus.
Tal movimento contrastivo é bem típico do Homem em suas buscas, sejam elas espirituais ou carnais. Ora santos, ora pecadores. As dores, sejam elas quais forem, devem ser tomadas como oportunidades de crescimento, seja intelectual, seja espiritual. Pelo viés, religioso, do êxtase de Santa Tereza; tanto pelo registro escrito, como pela releitura através da escultura de Bernini; são sem dúvida, obras de genealidade e de pura contemplação ao Belo, que pode tranquilamente (re)ligar ao Deus uno, poderoso que busca a unificação pela justiça e pelo amor incondicional, através dos relatos registrados  pela história, ou pelas escrituras bíblicas e pela tradição judaico-cristã. Bem como, tais obras  cumprem uma das finalidades da Arte que é despertar no Homem o Belo, ou seja atentá-lo ao que é sensível à sua essência. Sobretudo, correspondendo tal contraste às linhas gerais dos Artistas ou Intelectuais barrocos, ora analisados.
 (Marcio Lima)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este momento 1...

  Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é m...