segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O AMOR BATEU NO CORAÇÃO

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O Amor bateu no coração

Siné vai para a geladeira pega de sua água e a consome como se estivesse no deserto. Meio que aturdida não compreendia o que estava acontecendo em sua vida. – Tudo tão diferente em tão pouco tempo... – balbuciava a si mesma. Nunca um homem havia a olhado como Maxi. – Aqueles olhos, aquela expressão sábia, sua boca, sua voz, seus cabelos, sua sensibilidade, sua inteligência. – Quantas palavras para descrever o que o coração não entendia, somente sentia. Mais do que nunca a necessidade de conhecer o mundo para impressioná-lo fazia-se presente. – Quero saber mais. Quero viver mais. Quero viajar mais. Quero me embelezar. Quero ser feliz. Tudo isso com meu amor. Jogou-se de cabeça – com palavras – no amor de um desconhecido, que o sabia assim, todavia por alguma razão lhe transmitia confiança.
A lua ainda iluminada no céu com brilho se assemelhava a um grande copo de leite alvo, luminoso, inspirador.
Ela pôs uma roupa leve e saiu na escada de sua casa que dava para o quintal. De lá ficou a se alimentar da luz da lua, dos sonhos ao lado do seu amado, das verdadeiras amizades como Dorva que lhe oferecera até ali o que nem uma amiga lhe tinha oferecido – a oportunidade de ser feliz, de sonhar, de conhecer pessoas diferentes – embora não soubesse o que se passava nos pensamentos de sua rival amorosa. Isso Siné não sabia, pois Dorva dissimulou-se muito bem. Sempre prestativa, sempre sorridente, sempre pronta a responder atenciosamente o que Siné perguntava - aparentemente uma pessoa sensível e autêntica. Talvez tenha sido desfigurada pelos flamejantes dragões do ciúme - quem sabe?
Os planos foram inevitáveis voltar a estudar. Decidiu voltar a estudar, preparar-se para o vestibular, pois havia três anos que tinha se formado no ensino médio. – Quero fazer psicologia. Decidi. – Quero fazer poemas. Aliás, esta noite vou fazer um. - Adorava poemas. Eles a faziam sentir-se melhor. No entanto poucas vezes pegou da caneta para compor um. Eis a oportunidade. E num ímpeto queria ler sonetos. Queria fazer para o seu amor – por ora platônico – sonetos. Eles ajudariam também explicar sua paixão. Talvez idealizá-lo como um cavaleiro que a acompanharia, que estaria a protegê-la como a uma donzela em perigo.
O resultado de algumas horas tentando foi festejado logo que saiu a primeira estrofe em um velho caderno:

Meu amor, que de longe imaginado
Pensava existir somente em estrela
Distante, outrora só em meu fado
Acendeu em mim, da esperança, a centelha.

As tentativas se sucederam e adormeceu sentada no sofá não conseguindo continuar a segunda estrofe.
Às duas horas da manhã. Bateu-lhe à porta Maxi. Meio que atordoada abriu-a. Surpreendeu-a com um caliente beijo. E a noite lhe ofereceu a inspiração que precisava para terminar seu soneto. O que foi descrito logo de manhã após Maxi ter se despedido com beijo - enquanto ela dormia - deixando o número de seu telefone e as juras de amor eterno presas pelos ímãs em sua geladeira num bilhete: “Que desta noite ecoe o mais puro amor dos nossos corações. Tomei a liberdade de ver seus versos. Amei-os. Bjs.”

Emaranhei desejo não gozado
Em gotas de orvalho na lapela
Nunca havia deste mel experimentado
Sinto-me agora tinta em sua tela.

Controlava, o pecado, meus conceitos
E você, meu amor, os olhou se quer
Com carinho ignorou meus defeitos

E com amor selou uma mulher
Que jamais sonhara tais deleitos
Que docemente em minha vida se fez mister.
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(Fragmento do Livro "Devaneios em Prosa", Unicentro. LIMA, 2011)

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