domingo, 18 de agosto de 2024

Bom dia pra você também [crônicas de uma vida qualquer]

 Ai Gerado, Xingar, Xingamento, Bravo
Acordei atrasado para viajar. Desci do quarto do hotel, degustei do café da manhã hoteleiro sem captar muito bem o que estava comendo. Precisa apenas encher o bucho, pois não consigo existir sem me alimentar pela manhã. O café é essencial. Não escovei nem os dentes, evitei o elevador, desci a escadaria rumo à garagem para levar as malas ao carro. Então subi novamente as escadas para entregar à chave à recepção. No segundo lance das escadas, topei com uma funcionária do hotel e outro possível hóspede. Ela me disse “bom dia”, respondi com a voz baixa sem olhar para o rosto dela. O hóspede, que vinha atrás dela, também deu bom dia, no que respondi com um menear de cabeça e uma olhada de canto de olho. Um ou dois segundos depois, ouço ele dizer num tom alto de voz:


— Bom dia pra você também!



Filho da puta…


Pensei comigo: “Não é possível que esse animal me lança uma dessa. Não hoje, não logo hoje, que estou atrasado e já acordei levemente irritado”. Parei no topo da escada. Olhei para baixo. Não havia ninguém. Eu estava próximo da recepção. Era só entregar a chave e ir embora.


Mas não. Eu precisava voltar e averiguar se eu tinha mesmo ouvido aquilo. E tornei a descer as escadas. Fui até lá embaixo, passei pela porta e gritei dali:


— Isso foi pra mim?


— Sim, queridão simpático. Tenha um ótimo dia!


Ele respondeu sem sequer olhar para trás. Parecia estar indo em direção ao seu carro. A funcionária me olhou com um risinho nos lábios. O que é isso? A porra de um complô?


— Eu respondi teu bom dia, seu filho da puta!


Ele parou diante de uma das colunas do estacionamento, virou-se, cruzou os braços e encostou-se na coluna.


— É mesmo? Não ouvi. Foi uma tentativa de transmissão de pensamento?


— Qual é o teu problema? Estou com pressa. Que diferença faz na tua vida meu bom dia? Nem te conheço!


— O meu problema? Nenhum. Agora, o teu eu sei bem qual é: fal-ta de e-du-ca-ção — falou quase sussurrando. Meu sangue ferveu. Ele iria aprender alguma coisa sobre falta de educação.


— É sobre educação que você quer falar então, seu animal de quatro patas? Vamos lá, vamos “debater” então.


E nisso eu peguei um extintor próximo da porta e me aproximei dele.


— O que você vai fazer com esse troço?


— Apagar tua mágoa comigo, filho da puta. Acordou com fogo nesse cu, né, pau no rabo?


— Porra, você é louco?


Ele começou a dar passos para trás.


— Não é bom dia que você quer? BOM DIA, CARALHO.


E acionei o extintor na cara dele.


— Responde, mal-educado! BOM DIA!


E o extintor voou na cara dele.


— BOM DIA, FILHO DA PUTA! QUE O SOL ARROMBE O TEU CU, SEU DESGRAÇADO!


E o dia se tornou bom.


(Fabiano Jucá)


O blog agradece ao autor por ter cedido o texto para publicação. 

Jucá é escritor Guarapuavano, funcionário público...

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/illustrations/ai-gerado-xingar-xingamento-bravo-8654871/ 

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