quinta-feira, 3 de maio de 2018

O Elefante

Já era tarde da noite quando Cássio abriu a porta do seu apartamento após um cansativo dia de trabalho. Ao acender a luz, Cássio percebeu que não estava sozinho, no centro da sua pequena sala havia um elefante branco parado bem em sua frente. Era sem dúvida estranho, mas não era a primeira vez que ele se deparava com coisas estranhas em sua vida. Tomou banho, jantou e assistiu seu programa de televisão preferido, a presença do elefante não o incomodava, talvez até aliviasse um pouco o sentimento de solidão dentro daquele apartamento. Ora, quem sabe o elefante fosse um bom hóspede e fizesse companhia nos finais de semana.
No outro dia Cássio foi trabalhar e durante seu expediente mal lembrava do hóspede que deixara em casa. Mas, ao chegar em casa notar sua presença era inevitável, o elefante que antes cabia exatamente no centro da salinha agora parecia que tinha se espichado um pouco mais e assistir televisão já era um pouco mais difícil, as costas do animal agora tapavam parte da visão entre o sofá e a televisão. Tudo bem – pensou Cássio – só preciso me adaptar ao hóspede, se eu arrastar o sofá um pouco mais para o lado ainda era possível assistir boa parte da programação da televisão. Tomou banho, jantou, viu menos televisão e foi dormir.
Ao sair para tralhar no terceiro dia, Cássio teve a impressão de que o elefante estava um pouco maior, agora já alcançava parte da cozinha. Talvez o paquiderme esteja ocupando mais espaço do que deveria, mas não há tempo para tratar disso agora, ajeitar uma solução para o animal demandaria tempo e Cássio não poderia se atrasar para o trabalho. Anoitece e Cássio volta para casa, está bem claro que assistir televisão com aquele elefante enorme é impossível. Tudo bem – Cássio pensava consigo mesmo – hoje só tomo banho, janto e durmo. Ledo engano, ao abrir a geladeira Cássio reparou que a mesma estava vazia, o elefante havia se alimentado na ausência de Cássio. Naquela noite Cássio não jantou.
Nos dias que se seguiram, Cássio já não comia mais e nem se divertia com a televisão, era praticamente impossível fazer qualquer coisa naquela casa com o tamanho do elefante. Quando foi tomar banho Cássio viu o elefante olhando diretamente para ele. Não era possível nem ter mais um momento de privacidade, o elefante tomava conta de toda a casa, encarava Cássio sempre com a mesma expressão. Ele não comia, não se divertia e nem podia mais tomar banho.
Certo dia, ao voltar para casa cansado e já bastante infeliz com o hóspede indesejado, Cássio sentiu que era ele ou o elefante e esbravejou para o monstro que já tomava quatro cômodos da casa: “MALDITO ELEFANTE, SOME DAQUI E NÃO VOLTA NUNCA MAIS! CANSEI DE VOCÊ, ME DEIXA VIVER A MINHA VIDA”. O elefante se assustou e num rompante nervoso começou a sacudir-se dentro da casa e a pisotear tudo que estava pela frente. Pisoteou, pisoteou e pisoteou Cássio nada menos que 9 vezes e não mais do que de repente escapou pela porta sem deixar nenhum vestígio de sua fuga.
Cássio estupefato ainda sentia o peso da pata do elefante doer em seu peito. Estirado no chão encarava o teto pensando no que havia acabado de acontecer e só conseguia pensar consigo mesmo “Ainda fosse um elefante de verdade...” 

Por Rodolfo  Neto

O blog agradece a colaboração.

Um comentário:

  1. Muito bom texto Mestre Rudolf, queremos ver mais devaneios literários bro. Abraço.

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