quinta-feira, 17 de maio de 2018

Assimilando sapo...

 Curucaca, Ave, Interior, Passaro

O índio observava a curucaca. Ela, ali parada, teimando em assimilar um sapo. Comia devagar, tentava arrancar a sua rugosa e verde pele. Ao longe o guará, com nojo, observava. Às vezes, o lobo virava a face para não ver a cena. 
De repente, um pinheiro aos poucos sucumbe, e vai caindo lentamente. A ave não percebe o que ocorrera, pois estava muito compenetrada. O lobo saiu correndo assustado. O índio anteviu em pensamento: "o pinheiro cairá sobre a curucaca". E foi o que ocorreu. Pensou: "morreu pobre ave!" 
De trás da densa mata, da clareira aberta pelo pinheiro, ao pé de uma serra, saem homens brancos, em seus cavalos, em uma caravana que trazia logo à frente uma imagem de Nossa Senhora de Belém em um coche pequeno ornado à santinha. Montado, logo após a uma charrete com uma espécie de altarzinho, vinha um padre. O padre viu o pinheiro caído. Benzeu-se e seguiu.
O índio ficou atônito. Queria correr, mas as pernas travaram em um misto de susto e curiosidade...
Olhou novamente o pinheiro. Sentiu pena da pobre ave. Que sorte hein, uma árvore na cabeça, e bem na hora do lanche. Pensou de pegar de seu arco e flecha para vingar a pobre criatura. E foi o que fez, esticou a corda feita de  fibra de taquara até o final da flecha, o arco já não envergava mais, mirou na testa do jovem explorador, que olhava com olhar atento a quase tudo que o cercava, parou um instante antes de deflagrar a seta, a Santa ficou na sua mira. Ele parou por ali. E atrás de seus ombros, um milagre aconteceu. A curucaca reapareceu em pé em um dos galhos do pinheiro ao lado de uma pinha com a metade desfalhada, ressurgiu triunfante, meio assustada, alçou voo, com seu almoço ainda quase todo a ser consumido... pobre sapo, pensou o índio.
Que sortuda essa curucaca!!! 

Marcio Lima, Guarapuava,
08/05/2018

Imagem obtida em: https://pixabay.com/pt/photos/curucaca-ave-interior-passaro-1707038/ 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este momento 1...

Dói.  Forma estranha de começar um poema. Forma medíocre para o mundo que só vende fórmulas para livrar-nos da dor. Assumir alguma dor é mei...