domingo, 22 de março de 2020

ZIGUEZAQUEANDO NO ZIG OU ZAG

    
FOI ASSIM...

                                          Hoje; após tanto tempo diante do espelho me vejo presente ao meu passado e foi ainda quando era um jovem sonhador, numa tarde de verão, pelos anos setenta e eu ouvia o som de ferro sendo batido em ferro, e vinha da metalúrgica Castelo; no bairro do Novo Mundo na ainda boa Curitiba e eu morava bem em frente da metalúrgica: ...Temmmmm!  Temmmmmm! Temmmmmm!
                                                  Sinto as marteladas dentro de mim até hoje deste som em forma de eco, e como eu ia dizendo: era uma bela tarde de verão, e enquanto assistia o National Kid, na Televisão, com a tela preta e branca, marca: Telefunken, enquanto assistia ia ali enrolando um bilhetinho num dos papeis dos bombons sonho de valsa, e lá de fora vinha o som: ....Temmmmm! Temmmmm!
                                                    Era da metalúrgica Castelo, bem em frente onde eu morava, ah! Isto eu já falei, pois bem, ainda não falei  por que de eu enrolar um bilhetinho num sonho de valsa.
                                                    A história é a seguinte: eu um rapazinho; de uns l4 anos, devia ser, sentia uma grande paixão por uma bela e doce menina da mesma idade, ela era uma morena de olhos verdes, que se chama Maria Luiza, mas naquele tempo as coisas eram diferentes, eu tinha vergonha de namorar e além de um grande respeito ou medo e é claro que a mãe dela, sua irmã e o meu amigo, irmão dela, não sabiam desta minha paixão por ela.
                                                     Então: vai daí que; combinei com a minha amada, que cada vez que eu fosse para a aula, no colégio Miguel Moreira Couto, próximo ao Capão Raso, e eu estudava à noite, e tinha que passar pela sua rua, então eu chegava até sua casa, no intuito de brincar com o seu irmão e levava um bombom para a sua mãe, seu irmão e sua irmã, mas no dela; havia um bilhetinho, que ela lia e depois me dava uma resposta.
                                                     Eu trabalhava vendendo pipoca, num carrinho, ali na praça do Novo Mundo, e ela morava na Avenida Republica Argentina, em frente da mesma praça, num casarão de Madeira, aonde havia um bar, que o seu pai tomava conta, eu então esvaziava o bujãozinho de água e várias vezes no dia, ia lá com desculpa de encher ele de água, mas na verdade era só para ver ela, aproveitava que sua mãe trabalhava no centro e seu pai no bar, eu ia pelos fundos e também é quando seu irmão estivesse na praça; ele era engraxate e cuidava do carrinho de pipoca para eu ir apanhar a água, era nestes momentos que: recebia resposta dos bilhetinhos e muito raro, pegava na mão dela, e logo corria para o meu serviço, acreditam que: fizemos até juras de amor, cortamos com uma lamina de barbear o dedo minguinho e colamos o sangue, num pacto: que seríamos um do outro para sempre, pode isso!
                                                                Lá fora; Temmmmm! Temmmmm! Eu já disse, não é mesmo! Pois até hoje, já velho, ainda ouço aquele som como se fosse hoje, bem nós falamos daquela tarde e eu já falei da praça, aonde eu trabalhava, não é mesmo, então; Tinha ali também um ponto de táxi, os carros eram todos Vemaguet, novinhos, aquele carro que tem três platinados e três velas, bem lembro bem do Sr Rubens, um senhor taxista de certa idade, ele éra o mais velho no ponto, que mais tarde, por sinal: trocaram de modelo de carro e foram todos comprando o tal corcel, bem e havia também a farmácia do Japonês, as lojas dos turcos, como a loja Jamil, a igreja católica, entre as ruas Wilson Churchel com a Republica Argentina, de frente para a praça, que alias, era o ponto final da linha de ônibus, do Novo Mundo, também me lembro do motorista o Sr Silvio, e outros, bem as vezes eu ficava bravo com os motoristas, de ônibus e os de táxis, porque; filavam sempre um punhadinho de pipoca.
                                                                 Ah! Sim! sim! O mais importante é que havia um mendigo, um negro, forte, que andava da praça do Capão raso, pela Avenida República Argentina, passando pela Praça do Novo mundo até chegar na Praça do Portão, ia e vinha, o dia inteiro, e o que me intrigava; era o fato dele, ficar enrolando retalhos de tecidos nos braços e nas pernas,  ficavam roxas e inchadas, ele ia colocando estes panos, amarrando fortemente, um retalho em cima do outro, pra lá e pra cá, e dia deste o povo dali, os comerciantes e moradores, pegaram ele, cortaram o seu cabelo e deram um banho, depois vestiram nele uma roupa boa, o tal ficou bonito de se ver, é claro que; fizeram isso na marra, mas valeu, eu fiquei feliz de ver ele bonito indo lá para os lados do Capão Raso.
                                                                  Ah! Eu não falei do J Maluceli, material de construção, era no pátio da loja que a noite nós: eu e meu pai guardávamos o carrinho de pipoca, e as lojas Chier, e o prosdócimo, mas que importa isso?
Já falei, do som que martela em minha cabeça, até os dias de hoje, talvez  trazem muitas, belas recordações, imaginem um cara apaixonado, era de ficar doente, o dia que eu não podia vê-la, bela Maria Luiza, sei lá por onde anda hoje em dia e ela já deve se avó, ou bisavó, sei lá, o mundo gira e gira, e Temmm! Temmmm!, e todo dia, batiam ferro com ferro lá dentro, a sabiam que; havia um quartel do exército, bem próximo a minha casa, e daí?  Né.
                                                                  Outro dia e lá vem o Dito Louco, ou dito loco, seu nome era Expedito, mas todos o conheciam ele pelo nome de Dito Louco, e então; de novo, enrolando panos pelos braços e pernas, eu um moleque ainda, resolvi tirar a cisma e tratei de conversar com ele, que estava encostado na banca de jornal, ali da praça, comendo um pedaço de pão e enrolando retalho pelo corpo, perguntei se ele tinha família, ele disse que teve, falava meio enrolado, ora falava corretamente, ora não dizia; coisa com coisa, mas fui entendendo um pouco da sua história; disse que sua mãe, que a muito já não a via, mais preciso, muitos anos, ela era uma costureira, e vivia daquele trabalho, mas um dia resolveu emendar só retalhos, ai eu ia desenhando na cabeça as cenas que ele ia falando:
                                                                  ****uma senhora, negra, que pitava um cigarro de palha, provavelmente costurava na sua velha e forte máquina Singer, aquela que era toda de ferro, e o pedal no pé, era aonde ela rodava a correia e ia costurando os retalhos. ****
                                                              Ai o leitor se pergunta e daí?
                                                                     O fato é que, na descrição simples do Dito loco, eu ia imaginando cenas, mesmo porque as vezes ele dizia que um som torturava a sua cabeça, e batendo com a mão na cabeça falava: Zig Zag! Zig! Zag! Zig! Ai ele ficava transtornado, e se agitava, eu ora outra parava a tal conversa e ia atender um freguês, eu já falei que era pipoqueiro, ah! Já falei né.
                                                                     Então, os sons, agora, já não eram só o Temmm! Temmm! Também; o  Zig! Zag! Zig! Zag!, e eu ia imaginando, a cena de acordo com o que me falava o dito louco:
                                                                      A mãe do Dito loco, ou louco, costurando, ia emendando os retalhos, de todas as cores, e a agulha ora estava em zig, ora em zag, e o seu filho, coitado, pequenino, ali com fome vendo a mãe que só emendava panos sem um objetivo e devido a fome e abandono, o expedito enlouqueceu, e ai saiu por ai afora, amarrando panos, que dá dó de ver o inchaço nas pernas, por ele amarrar fortemente, até aparecer feridas que infeccionavam e sangravam, as moscas ali botavam e as vezes se podia ver bichinhos nas feridas. Ainda se pergunta e daí?
                                                                      Bem eu já falei, que eu era pipoqueiro na praça, ah! Já! Também falei dos choferes, das lojas, da metalúrgica, do meu grande amor, e daí? Né!
                                                                      Nesta obra o leitor verá umas histórias, que muitas delas eu escrevia num caderno sentado na banqueta diante do carrinho de pipoca e algumas é incomuns, outras comuns, é o caso do texto ou do contexto, do verso ou do reverso, do real e do real, da fantasia ou da lógica, em que as figuras dos textos, ora estão em zig ora estão em zag, tudo o que parece ser as vezes não é, e as vezes é.
                                                                      Não! Não estou louco! O que acontece é que durante toda minha vida eu resolvi escrever o que via acontecer diante de mim, ou das noticias do dia a dia, escrevia e escrevo pelas minhas mãos, mas com a imaginação de uma pessoa, que tem problemas mentais, como se eu fosse o DITO LOCO, como ele veria o mundo, seu modo de entender as coisas que nós chamamos de normal, e como eu disse havia alguns momento como no dia que eu falei com ele, e que me pareceu a conversa de uma pessoa normal, e as vezes ele divagava e alucinava, então esta é e foi para mim uma experiência incrível, e se escrevi com variáveis, por toda a minha vida, ora em zig e ora em zag, como aqueles sons, ora era Temmm! Ora era; zig! Zag! E porque contei parte de minha vida?
                                                                       Bem é a forma que encontrei de ser zig, e quando volto a falar a mesma coisa, ai eu estou zag, então: leitor amigo, vamos ziguezaguear nas ilusões das linhas que tracei, partindo de uma figura real; que existiu e que deve ter sido enterrado como indigente, um ser que foi e não foi, porque tudo é assim mesmo; ora as pessoas que são zig, os ricos e sábios e as pessoas que são zag; os miseráveis, estes são os terríveis contrastes? Pois é; assim veremos deliciosas histórias, que compartilharemos, ora na realidade ora não, o que importa é ziguezaguear pela vida, e é isto que toda a humanidade faz, pra lá e pra cá, e todos com certeza carrega na cabeça um som qualquer que mais lhe marcou na vida.
                                                                           Ah! Eu já falei da Metalúrgica Castelo, lá no novo mundo.
                                                                            Que batia ferro com ferro: Temmm! Temmmm! E da mãe do Dito louco, que costurava fazendo zig zag... zig zag... zig zag... zig zag.

                                                                     Ah! Eu Já Falei tudo isso.
                                                                            Bem e como será que era o som da barriga de uma criança que via a mãe remendar retalhos, e chorava de fome?

                               Disso eu não falei, mas como será?
            

(Autor: J. Fátimo)

O Blog agradece ao autor que cedeu gentilmente o conto à publicação!


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