Estava
tensa a votação para escolha do novo Papa. Sobe fumaça preta
saindo da Capela Sistina e nada.
A
diferença estava sempre sendo de poucos votos, não se chegando aos
dois terços necessários para escolha do novo pastor da igreja
católica no mundo.
Em uma
conversa informal, daquelas que não ocorrem em todos os conclaves,
bem na hora do almoço, dois bispos resolveram trocar uma
conversinha. O mais novo com todo respeito pensou em questionar o
mais experiente, mas sem deixar transparecer intenção de voto, pois
era o almoço – hora sagrada. “Talvez este seja minha escolha!”
pensou. “Nunca havia percebido este senhorzinho. Muito simpático
por sinal. Simpatia e carisma... Já sei de onde ele é...”
Imaginava. “Este seu sotaque me é estranho a minha convivência...
Mas, só pode ser o candidato brasileiro...”
Para ter
certeza, soltou sua primeira indagação – meio que assim sem pudor
– mas como era um momento informal – poderia fugir aos
protocolos, afinal papáveis também têm suas vivências sociais...
- E daí me fale de futebol!
Olhou o
bispo mais velho com o ar de doutor no assunto, sem titubear,
respondeu:
- Vai muito bem!
Reforçava
ainda mais sua hipótese, “realmente é mesmo o brasileiro, pelo
orgulho em relação a sua seleção, por isso é conhecido como o
país do futebol!”.
Ainda
para dar substância às suas indagações quanto à origem do
senhorzinho, pela vergonha de perguntar de que país ele era, e
talvez demonstrar seu desconhecimento de cultura geral – coisa
normalíssima a qualquer mortal – insistiria à informalidade do
bate-papo, pois ali estava difícil de conversar de outra forma, sem
gerar uma discussão em torno dos seus propósitos pelos quais
estavam ali, e optou em fazer desta uma oportunidade - formação de
opinião e de se chegar a um nome que conduziria toda a igreja
católica apostólica romana. A tensão era muito grande. Mas...
naquele momento era somente o intervalo para almoço, hora de deixar
de ser bispo e saciar sua fome, sendo um homem comum.
Uma
colherada e sai a pergunta naturalmente:
- Se você for o escolhido, que nome adotarás?
Lógico,
que esta indagação havia de sair naturalmente. E foi o que ocorreu,
o velho bispo não perdeu o carisma e respondeu humildemente:
- Pensei em Francisco.
“Eureca!
De fato é brasileiro, ligado à cultura de seu país, gosta de
filmes e de exemplos de pais que cuidam de seus filhos e os querem
vencedores... Já assisti este filme, gostei muito. Se eu não me
engano é “dois filhos de Francisco”. E também gosta da
natureza, amor aos animais, assim como São Francisco... hum na
Amazônia tem bastante...” Refletia e mastigava em pensamentos.
Sem
o auxílio do Google, devido à falta de comunicação com o mundo,
inclusive o virtual, não teria outras alternativas. Mas não podia
errar. Afinal era sua escolha... Por isso para não restar mais
dúvidas, soltou a última pergunta, começando por uma exclamação.
- Puxa hoje está meio abafado! De todos os países da Europa eu gosto do frio de Londres me sinto muito à vontade. E o Senhor, em qual cidade de seu país se sente mais à vontade?
- Buenos Aires.
Não
se restou mais dúvidas...
E
por diferença de um voto a fumaça branca alcançou os céus sendo
aclamado com muita alegria
o primeiro Papa da América Latina.
(marcio j. de lima)
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