quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Desejos proibidos...

Gabriel pegou o seu minguado salário. Metade ficaria já no mercadinho para pagar suas contas. O restante mal daria para suas despesas. Nos finais de semana fazia bicos  na construção para completar sua renda. Sua esposa vendia roupas, perfumes, fazia artesanato e se virava na cozinha para poupar ao máximo. Seus dois filhos Joaquina e Feliciano eram bem cuidados, estudavam e ajudavam nos afazeres de casa. Gabriel mal tinha concluído o primário. Deixou a escola muito novo para se dedicar ao trabalho, pois seu patrão não o dispensava mais cedo para conseguir chegar a tempo na escola... Seu desejo era ver seus filhos criados e voltar a estudar e fazer direito. 
O tempo passou... os dois filhos, com muito sacrifício, formaram-se na faculdade. Depois casaram-se. Gabriel decidiu voltar aos estudos, iria fazer o curso que sempre sonhara, filosofia, deixaria o direito para mais tarde... Fez a  preferência por filosofia que quase o levara ao seminário. Passou no vestibular. Era uma alegria só. Nos primeiros dias de aula, muito feliz desfilando pelos corredores da Universidade com seus colegas de sala, avistou Ritinha, uma antiga namorada,  a última antes de conhecer sua esposa. Ritinha não mudara nada, estava mais bonita ainda. Tinha um corpo e uma pele de dar inveja a muitas adolescentes. Olhou-o com um sorriso largo no rosto. Sem jeito, retribuiu. Os dois se cumprimentaram e seguiram seus caminhos. O ano se passou e se viam sempre pelos corredores. Ela um dia o parou. Conversaram, relembraram do passado. Confidenciou que estava viúva já fazia três anos. Seu esposo havia falecido de aneurisma. Ela disse que depois dele, foi seu segundo amor. O que fez disparar o coração de Gabriel. Ficaram amigos. Nos intervalos das aulas ficavam junto. Uma paixão, como brasa sob as cinzas, retornou ao coração de Ritinha... Certo dia, retornando para casa a pé, viu uma caminhonete branca parar ao seu lado. O vidro se abriu. Era Ritinha. Com um largo sorriso no rosto, disse a Gabriel "entre aí, te dou uma carona." Ficou meio sem jeito, mas aceitou. Ritinha ardia de paixão, quase não tirava os olhos de Gabriel, o que o deixava sem jeito...
A mão gelada de Ritinha passou levemente na perna de Gabriel, o qual não resistiu. Neste momento, Gabriel tornou-se uma presa fácil. Por um momento, o mundo se apagou na sua cabeça. O pensamento remeteu-o à sua família. A culpa incendiava seu coração. Mas não esboçou reação. Ritinha já a este momento beijava o seu peito. Seria o pecado a desvia-lo de um caminho de serenidade que vivera até ali? Ritinha ia mais longe e acariciava as partes íntimas de Gabriel. Este de olhos fechados, sentia-se anestesiado. Ela aproxima seus lábios em seu pescoço vagarosamente e estende sua língua arrepiando-o inteirinho, como se ainda desse uma chance à sua presa, começa a soltar  suas presas brancas e pontiagudas, agora imensas, tal qual uma víbora... Seu amado, sua rês... 
O tempo corre à frente de Gabriel, passa um filme em sua cabeça... seu primeiro beijo em sua esposa, suas vitórias e derrotas a dois passam em sua frente. Mas nenhuma de suas lembranças o despertaram tanto, quanto a lembrança do olhar azul celeste de sua pequena, a filha mais nova, redesperta-o, o amor paterno... Em um sobressalto Gabriel, abriu a porta do carro e saiu... Como que carregado por seu anjo...  Nunca mais ousou pôr os olhos em seu passado... E viveu feliz para sempre junto de seu verdadeiro amor... Todavia, em noites muito quentes, aqueles pares de presas o assombram, assim como aquela gelada língua a roçar os seus mais sórdidos e recônditos desejos proibidos....

Marcio J. de Lima
28/10/2017






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