quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Solitária

Olhava ela aquela sala cheia de alunos... era uma sala quente, sem muita ventilação, lotadíssima. Muitos rostinhos ansiosos pelo conhecimento. Alguns iam, mesmo, só pelo lanche e por obrigação imposta a seus pais ou pela legislação... Eles não tinham noção, todavia ali estava a esperança de uma vida melhor. Ela professora com mais de 20 anos de magistério, com uma jornada superior a 50 horas semanais, possuía um rosto marcado pela dura jornada de um ofício que a sugava física e mentalmente. Todos sabiam da importância da educação para sociedade, mas quando ela precisava de apoio, a carga lhe era maior... Alguma campanha de alguma doença epidêmica, algum problema ambiental ou social a sufocaria mais ainda... se o problema havia, ela seria incutida da culpa por eles, de alguma forma... Se isso não ocorresse diretamente, a seria de forma indireta, pois seria ela a fazer cartazes na escola, campanhas nas ruas, flexibilizar sua aula para que ele pudesse caber em suas aulas... Onde pesquisar, se não podia pôr internet em sua casa, por não ganhar o suficiente para isso... O material de sua escola não teria tal conteúdo... Onde pesquisar? A tevê, a qual teria acesso não traria com certeza algo útil para acrescentar a suas aulas... Portanto... Já era culpada... E, se reclamasse, quem sabe alguma autoridade lhe atiraria a seguinte desculpa... Este ofício é para quem o ama... independente de quanto ganha... é uma prova de amor ao próximo... Ela se perguntaria... Quem é o meu próximo??? Claro que ela sabia... Muitos seriam solidários... somente, nada fariam... Mas seriam sim, solidários... E ela seguiria com a aula... solitária...  solitária...

Marcio Lima 

Imagem: freepic

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